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Repórter News - reporternews.com.br
Economia
Domingo - 04 de Fevereiro de 2007 às 12:05

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A poucos dias da visita de Estado de Evo Morales, Brasil e Bolívia voltam a enfrentar nova crise diplomática em torno de uma série de temas que incluem a ameaça de La Paz de fechar o gasoduto que abastece Cuiabá, a recusa da Petrobras em negociar o preço do gás e em abastecer o mercado interno boliviano e o projeto brasileiro de construir duas usinas hidrelétricas na fronteira entre os dois países.

Do lado boliviano, o principal impasse se refere ao preço do gás. Morales vem ameaçando até cancelar a visita a Brasília, marcada para o próximo dia 14, caso não haja um pré-acordo antes da viagem.

O presidente boliviano exige que o Brasil pague pelo menos o mesmo valor em vigência com a Argentina, de US$ 5 por milhão de BTU (medida térmica britânica).

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva --que defendeu Morales sobre a nacionalização do gás durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, no mês passado-- vem mantendo a posição de que não interferirá nas negociações da Petrobras, que hoje paga US$ 4,3 por milhão de BTU e resiste em aceitar um aumento de preços.

Para compensar, o Brasil está oferecendo um pacote de ajuda que inclui, entre outros itens, o financiamento de projetos de reforma agrária.

A insistência no preço do gás reflete recente mudança de posição da Bolívia. Em dezembro, quando houve a última reunião oficial para discutir o tema, Petrobras e YPFB concordaram em deixar o reajuste de lado em troca de uma "agenda positiva" da empresa brasileira no país, inclusive com a retomada de investimentos.

A negociação, no entanto, foi desautorizada por Morales, que recentemente deu várias declarações exigindo o aumento do preço. A mudança de posição é um dos motivos que provocaram a saída de Juan Carlos Ortiz da presidência da YPFB. No seu lugar, entrou Manuel Morales, de perfil mais radical.

Além do preço do gás, a Bolívia e a Petrobras estão num impasse por causa de uma determinação recente do Ministério de Hidrocarbonetos para que a empresa abasteça o mercado interno boliviano. A empresa brasileira já avisou oficialmente que não cumprirá a resolução.

Cuiabá

Mas a ameaça mais forte do governo Morales é contra o ramal que abastece a termelétrica Governador Mário Covas, em Cuiabá, responsável pelo abastecimento de 70% do Estado de Mato Grosso. Atualmente, a usina, controlada pela empresa Shell, paga apenas US$ 1 por milhão de BTU. A Petrobras não participa desse ramal.

A Folha apurou que, recentemente, o governo boliviano avisou que cortará o abastecimento em março caso não haja aumento no preço.

A Bolívia já havia ameaçado interromper o fornecimento em agosto passado, mas desistiu após intervenção de Brasília, segundo informou o governo de Mato Grosso na época.

Durante a cúpula do Mercosul, realizada no mês passado no Rio de Janeiro, Morales disse que "não é possível que a Bolívia siga subvencionando gás para o Brasil", em alusão ao contrato de Cuiabá.

Rio Madeira

Fora do tema do gás, o governo boliviano demonstrou irritação com uma recente declaração do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, de que o Brasil não precisa consultar o país vizinho para construir duas usinas hidrelétricas no rio Madeira, a poucos quilômetros da fronteira, apesar de os dois países terem criado uma comissão para debater o assunto.

Uma das prioridades do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), as usinas Santo Antônio e Jirau devem gerar 6.450 MW e são consideradas vitais para afastar o risco de apagão no médio prazo.

No ano passado, a Bolívia demonstrou "preocupação" com a possibilidade de a obra provocar impactos ambientais no lado boliviano do rio Madeira, o principal do país vizinho.

Em dezembro, os chanceleres dos dois países concordaram em criar uma comissão bilateral para discutir o assunto. A Bolívia, no entanto, avalia que a iniciativa já foi esvaziada pelas declarações de Rondeau.

Neste fim de semana, movimentos sociais da região amazônica boliviana e a ONG ambiental Fobomade, todos próximos de Morales, reuniram-se para discutir medidas para tentar impedir a construção.

Na última terça-feira, uma nota da agência oficial de notícias da Bolívia disse que as usinas brasileiras "inundariam grande parte do território boliviano e teriam um impacto severo na bacia formada pelos afluentes". Procurada pela Folha, a Chancelaria boliviana disse divulgará sua posição nos próximos dias.





Fonte: Folha de S. Paulo

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