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Nacional
Segunda - 22 de Janeiro de 2007 às 08:59

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No segundo dia do Fórum Social Mundial em Nairóbi (Quênia), um debate enfatizou a oposição entre os que querem transformar o evento em instrumento de ação política e o grupo --majoritariamente formado pelas ONGs-- defensor da pluralidade e da distância dos governos.

O epicentro da crise está no Conselho Internacional, principal comitê do fórum, dividido sobre qual caminho o evento precisa seguir.

Para parte dos intelectuais, em especial os europeus, a manutenção da diversidade de propostas sem um programa mínimo de atuação e comprometimento com ações políticas estaria matando o evento e sua chance de provocar mudanças.

"O Fórum Social Mundial está morrendo por causa da sensação terrível de repetição e de que não avançamos", afirma o intelectual marxista Alex Callinicos, um dos organizadores do Fórum Social Europeu.

Para Callinicos, o fórum está "dando voltas em círculos", usando a diversidade como uma desculpa para não avançar. "O que será do fórum em 50 anos? Como queremos ser lembrados?", questionou ele. "Será que seremos considerados pessoas legais, inovadoras, mas que jogaram fora uma ótima chance de fazer diferença?"

Considerado um radical dentro do conselho, Callinicos expôs o que outros ativistas vêm repetindo nas reuniões do principal comitê do fórum. Para eles, a insistência do grupo mais dogmático do órgão --em especial o comitê brasileiro--, que defende a Carta de Princípios original do encontro, paralisa o evento.

Os brasileiros, grupo bastante coeso dentro do Conselho, defendem a pluralidade de propostas, discussões sem orientação centralizada, e a radical separação do evento com governos e partidos.

Um dos principais representantes dessa visão é Chico Whitaker. Para ele, a tomada de posição não cabe ao fórum, mas os movimentos e organizações presentes nele. "O que nós queremos é um espaço com toda a diversidade possível", diz.

Segundo Whitaker, desde o segundo fórum existe a discussão sobre tomar ou não uma posição política, mas qualquer postura única seria excludente. "O que eles querem? Um chefe único? As pessoas precisam entender que o que buscamos é a lógica das redes, não uma lógica piramidal", afirma.

Ao defender que o fórum não está estático, Whitaker lembrou que a primeira edição, em 2001, foi um encontro para mostrar que aqueles que não concordam com o capitalismo podem estar juntos.

Trevor Ngwane, ativista da África do Sul, usou as palavras de Whitaker para dizer que o fórum "evolui" e que precisa "evoluir mais", mas que "algumas pessoas têm uma idéia fixa sobre o que deve ser o fórum".

A idéia foi apoiada por uma ativista canadense, que afirmou que é preciso tomar uma direção na qual se alcance um objetivo, "porque nossos oponentes estão constantemente engajados em suas agendas".

Mais moderado, o professor da Universidade de Coimbra Boaventura Souza Santos pediu aos participantes da discussão que não subestimassem a eficácia do fórum.

O professor provocou a esquerda, em especial a européia. Segundo ele, a esquerda "só entrou no trem depois que ele era um sucesso".





Fonte: Folha d S.Paulo

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