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Nacional
Quarta - 29 de Novembro de 2006 às 14:43

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Diante da possibilidade da tragédia, pelo menos um operador de vôo tentou a todo custo evitar o maior acidente aéreo da história do Brasil. Na fatídica tarde de 29 de setembro, ao render um colega pouco experiente na função, o controlador de tráfego aéreo com mais de cinco anos de carreira em Brasília assumiu a console e notou que havia algo errado. “Ele quis desfazer a besteira, tentando contato com o jato para saber a que altitude ia, mas não conseguiu comunicação”, disse um controlador ao Correio. Segundo esse profissional, que acumula mais de 25 anos de trabalho e ajudou na formação de muitos colegas, esse operador até agora está desnorteado. Tudo por não ter impedido a colisão entre o jato Legacy e o avião da Gol, que resultou na morte de 154 pessoas.

O controlador menos experiente, que pode ter sido induzido a erro ao não checar a altitude do Legacy, confiando na informação do plano de vôo que aparecia no radar, não teve a idade revelada. Segundo funcionários do 1º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 1), trata-se de um “profissional jovem”, sem muito tempo de serviço.

O advogado Normando Cavalcanti, que acompanha os depoimentos tomados pela Policia Federal dos 13 controladores, afirmou que o mais novo tem 27 anos. O ministro da Defesa, Waldir Pires, disse não ter qualquer informação sobre a idade do profissional que teria se equivocado ao trocar de serviço, passando a informação de que o Legacy estava a 36 mil pés. Na realidade, o jato executivo voava a 37 mil pés, em rota de colisão com o Boeing da Gol.

Embora nos corredores do Cindacta a falha do profissional seja admitida, um controlador relatou ao Correio que a distração do inexperiente operador pode se explicar pela sobrecarga de trabalho. O rapaz operava no limite, antes de ser rendido pelo colega. “Ele estava com 22 tráfegos (aviões) na mão, meu Deus”, disse. O comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, afirmou em audiência pública no Senado, que no momento da colisão, quando o segundo controlador tinha assumido a console, havia apenas cinco aviões. Sobre o tráfego controlado pelo primeiro profissional, Bueno não mencionou nada.

Experiência Esse operador, que deixou o posto pouco antes da colisão, tinha passado por um estágio de quatro meses. O período é considerado curto para homologar alguém no centro de controle que monitora aeronaves em vôo de cruzeiro, num raio de 800km do aeroporto. Geralmente, dependendo da habilidade do profissional, a homologação vem em sete ou oito meses. Apenas os profissionais lotados no centro de aproximação, cuja atuação se limita a um raio de 100km do aeroporto, são treinados por menos de seis meses. Para os que ficarão na torre, cuidando das aeronaves num raio de 10km dos terminais, o estágio dura 60 dias.

As homologações “precipitadas” estão longe de serem uma raridade nos centros de controle do país. Mesmo após o acidente, há 20 dias, um supervisor de vôo do Cindacta 1 se indispôs com o coronel Carlos Aquino, novato no comando do centro, ao reclamar de uma habilitação “rápida demais”. “O controlador, que havia sido remanejado de outro Cindacta, tinha chegado naquele mesmo dia. E o comandante já queria colocá-lo para operar”, criticou um operador de vôo que presenciou o fato. “Habilitam as pessoas sem a devida capacitação e as jogam na fogueira.”

Outras atitudes “irresponsáveis”, na avaliação dos controladores, têm sido tomadas para conter o apagão aéreo. No início de dezembro, por exemplo, oito operadores da torre de Brasília, cuja atuação se restringe a 10km em volta do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, irão para São José dos Campos (SP) receber treinamento. E, em breve, serão deslocados para o controle de aeronaves em cruzeiro, que monitora o espaço aéreo num raio de 800km. “Não se forma gente assim, ainda mais com o movimento que temos”, desabafou o profissional.





Fonte: Agência Brasil

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