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Economia
Segunda - 09 de Outubro de 2006 às 09:47

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Diante da expectativa, cada vez maior, de encerrar este ano com a inflação mais baixa desde 1998, integrantes do governo defendem menos parcimônia nos juros e mais fôlego para a economia. A redução da taxa Selic e a desoneração de tributos são os principais instrumentos para estimular o crescimento, fazendo o IPCA (índice de preços que é referência para o Banco Central) sair dos 2,9% projetados para 2006 para os 4,5%, em 2007.

Apesar de o governo fixar que o nível de inflação ideal para o Brasil é 4,5%, o índice esperado para este ano está próximo ao piso da meta (2,5%). O índice acumulado em nove meses já está em 2%, mas, para os analistas financeiros, ainda há risco de romper o piso.

O preço do petróleo, por exemplo, que sempre merece atenção do BC pela repercussão que tem nos índices internos, está em queda e até sugere uma diminuição no valor dos combustíveis no país. Isso puxaria a inflação para baixo.

Já o câmbio, segundo economistas de dentro e fora do governo, se não vai mais contribuir para a queda dos preços, também não deverá ser um fator de preocupação nos próximos meses e nem em 2007. A tendência, afirmam, é que a taxa se mantenha sem grandes oscilações, mesmo diante de um saldo comercial menor.

Com isso, a avaliação de parte da equipe econômica é que, apesar de os cortes realizados na taxa de juros até agora não terem surtido integralmente efeito na economia, a queda brusca da inflação neste ano abre espaço para o BC abandonar o conservadorismo que tomou conta do Copom (Comitê de Política Monetária) desde o final do ano passado.

Mas persistem dúvidas se isso, na prática, significará manter ou até mesmo acelerar a trajetória de queda da Selic, em vez de fazer paradas técnicas ou mesmo redução do ritmo de corte, como sugeria o BC há alguns meses. O ministro Guido Mantega (Fazenda) diz que sim. "Claro. O BC não deu nenhuma parada [na redução da Selic]. Isso é reflexo da queda da inflação", responde.

Em 2006, "parcimônia" foi a palavra da moda no dicionário do BC e a tônica dos discursos dos diretores da instituição para o mercado financeiro. O saldo foi uma inflação, pela primeira vez desde a implantação do regime de metas, próxima ao piso fixado e mais um ano de crescimento pífio da economia, o que irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente foi convencido pela equipe econômica de que a produção nacional medida pelo PIB (Produto Interno Bruto) aumentaria pelo menos 4,5% em 2006. Em vez disso, o mercado projeta números perto de 3%, e o BC já admite 3,5%.

"O que pode puxar a inflação para cima é a redução dos juros porque irá estimular o crescimento e pressionar os preços", diz o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências. Segundo ele, alguns setores, como o petroquímico, têm conseguido repassar seus custos recompondo margens de lucro. "Mas, ainda assim, isso não representa uma pressão inflacionária forte", afirma.

"As projeções de preço para 2007 não são tão otimistas quanto as de 2006. Haverá uma recuperação dos preços. Mas está claro que, para chegar a 4,5%, é preciso reduzir um pouco mais os juros", defende Tomás Málaga, economista do banco Itaú.

Desoneração

Para o ex-diretor de Política Monetária do BC Luiz Fernando Figueiredo, o banco ainda se surpreenderá com a inflação daqui para a frente. Ele destaca que a utilização da capacidade instalada está próxima a 80% --o que representa espaço para as empresas aumentarem a produção para atender um crescimento da economia sem ter de elevar os preços.

Mesmo que isso dê margem para corte de juros, ele argumenta que o efeito da taxa Selic na economia é cada vez menor e que a carga tributária elevada trava mais o crescimento. "Nos últimos anos tivemos uma elevação dessa carga tributária, e isso pesa mais do que os juros."

Esse é um ponto que o governo já está trabalhando. A idéia é desonerar setores importantes para puxar investimentos que garantirão aumento da produção para atender à maior demanda por bens e serviços.

O diretor da Goldman Sachs para América Latina, Paulo Leme, ressalta que já há muito combustível na economia para recompor a inflação em 2007. "Fora o efeito defasado dos cortes feitos nos juros, há uma combinação de aumento de despesas do governo, crescimento do mercado de crédito, reajuste do salário mínimo", diz. Os técnicos do governo acrescentam a essa lista a recuperação da massa salarial.

Leme considera que o fato de a inflação em 2006 estar no piso inferior da banda deveria ser visto com naturalidade. "O intervalo [de dois pontos percentuais para cima ou para baixo] é para ser usado. Quando há choque adverso, usa-se para cima, quando o choque é favorável, para baixo. Se fechar abaixo do piso, bem-vindo seja."

As condições para 2007, no entanto, são de convergência para os 4,5%. Por isso, Leme defende que não é recomendável rever a meta para um valor menor. "Estamos perto do piso hoje, mas estaremos no centro da meta em 2007."





Fonte: 24HorasNews

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