Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Sábado - 24 de Junho de 2006 às 08:18
Por: Onofre Ribeiro

    Imprimir


Hoje é dia de São João, o que me faz lembrar muitas coisas ligadas à tradição das festas juninas. Mas lembra, também, a tradição de se comemorar a data ao modo roceiro, que era o de se rezar o terço, fazer leilão de coisas simples da roça ou da cidade do interior, da fogueira, do baile, e o começo de namoros que invariavelmente davam em casamento.

Claro que era um outro tempo. A propósito do artigo “Preconceito fora da realidade”, publicado neste espaço há dois dias atrás, recebi alguns e-mails muito interessantes. No artigo questionei o preconceito urbano atual contra os produtores rurais e, de modo geral, contra o próprio campo.

Vou reproduzir na íntegra parte de um e-mail que recebi: “... mas uma coisa que sempre reclamei é que nas festas juninas as pessoas se vestem como "palhaços"... literalmente. Eu sempre falei: mas caipira não é uma pessoa que anda remendada, rasgada ou coisa parecida mas alguns não sabem combinar cores ou talvez não seja uma prioridade. Outra coisa que sempre contestei no meu dia-a-dia foi com relação ao homem do campo.Sempre digo, gente vocês acham que não precisam dos "caipiras" é????? pensem bem: você fica sem comer? Quando respondem: Ah!!!!! é só ir no mercado . Aí fico sempre braba porque a burrice exagerada me irrita... Eu respondia. Quer dizer que você acha que comida é só fabricar????????? arroz? feijão??? Você já foi a um sítia onde as pessoas ficam no sol o dia inteiro?????? Pra quem vai só passear é uma delícia mas pra quem tá na "ralação"...... O duro é ter que aguentar este "povo" (nós mesmos) que acostumamos a ficar no ar condicionado!”

Realmente, é uma caricatura aquele caipira fantasiado da festa junina urbana. Na prática não ele existe. Ela representa duas coisas: uma vaga lembrança de um povo simples que vivia na roça, e de outro lado, o preconceito, porque o caipira das festas juninas é altamente sacaneado. Meninos e meninas, rapazes e moças, e até adultos, vestem roupas estranhas, rasgadas e remendadas, usam chapéus de palhas com as abas desfiadas, usam bigodinho pintado, dentes escurecidos e falam da maneira mais idiota possível. Puro preconceito urbano, como diz a leitora Nádia, “nós mesmos que acostumamos a ficar no ar condicionado”.

Recordo-me da minha própria infância nos confins de Minas. De fato, naquela época o Brasil que tinha 50 milhões de habitantes, no mundo rural viviam 35 milhões. A maioria analfabeta ou semi-analfabeta. Não tinham água encanada, luz elétrica, estradas, nem escola, muito menos, hospitais. Cada um se virava como podia. Por isso, era uma sociedade altamente cooperativa, baseada no escambo e na solidariedade.

Mas burro, isso não! Tinham uma cultura muito consolidada, tanto no aspecto da religiosidade, como nas ciências simples do plantar, colher, curar, saber usar os meios disponíveis. A vida era dura, morria-se muito cedo, mas infeliz, quase ninguém era.

Hoje, para nós urbanos, o mundo rural é execrado como algo horroroso. Não é, nunca foi e nunca será. O que há mesmo, é desinformação que se traduz em preconceito.

Os “caipiras” das festas juninas de hoje precisam saber que, talvez, estejam mais para caipiras do que os caipiras do campo, que têm tv por parabólica, têm internet, rádio, motos, usam celular e tomam a mesma cerveja que se bebe na cidade. Sem bigodinho e nem as calças e o chapéu esfarrapados.Sem contar os que dirigem pick-ups importadas.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/292946/visualizar/