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Politica Brasil
Terça - 23 de Maio de 2006 às 06:54
Por: Sergio Edson

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Assustado e perplexo. É assim que se sente Dorival Rotava, proprietário do restaurante localizado junto ao Posto 2000, junto à BR-163, onde os produtores de Sorriso realizavam os bloqueios do Grito do Ipiranga. Ele ainda não esqueceu a truculência e a brutalidade promovida pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na tarde de sexta-feira (19), quando 50 policiais rodoviários armados de cassetetes, revólveres, metralhadoras e fuzis, além de bombas de efeito moral, reproduziram cenas de verdadeiro terror e vandalismo.

Desrespeitando homens e mulheres, sem apresentar qualquer ordem judicial, os patrulheiros invadiram o pátio do posto e, aos berros, ordenaram que todos os veículos fossem retirados do local, que os caminhoneiros se trancassem nas cabines de suas carretas e o que o posto, a borracharia, a oficina e o restaurante fossem fechados imediatamente. A selvageria não parou aí. Também invadiram as barracas onde funcionava a cozinha, expulsaram as mulheres com impropérios e derrubaram mesas e cadeiras. Nem os panelões cheios de comida pronta para jantar escaparam da fúria. O pátio do posto de combustível parecia um campo de guerra.

“Quando chegaram ao meu restaurante, foram empurrando os clientes e determinando que quem tivesse ali com o seu carro fosse embora e que os caminhoneiros fossem para as suas carretas e se trancassem lá. Um deles virou-se para mim dizendo ‘e você, fecha essa m... aí’”, recorda-se Rotava. “Disse-lhe que não iria fechar porque é o meu estabelecimento de trabalho. Aí, ele disse que ‘aqui só tem vagabundo e nó cego’. Retruquei, então, que aqui não tinha vagabundo. O inspetor Vieira, que estava perto, veio e acalmou seus policiais e pediu que eu fechasse o restaurante até que as coisas se acalmassem”.

O empresário, no entanto lamenta a falta de educação dos policiais rodoviários. “Eu fiquei chateado porque eles ofenderam a gente. Primeiro falou que era m..., depois me chamou de vagabundo e nó cego, o que a gente não é. E ele nem me conhece também. Esse cara nunca esteve aqui em Sorriso para me chamar de vagabundo. Tô muito chateado com essas ofensas”, lamenta Rotava. “Eu queria era ir à Brasília também para denunciar essa violência. Mas minha família está muito assustada e não quer que eu vá”.

Dorival Rotava afirma que a ação da PRF é totalmente descabida, já que o movimento dos produtores rurais é legítimo. “Nós temos que apoiar os lavoureiros e os caminhoneiros, porque o comércio de Sorriso, o restaurante, o posto, a borracharia, a oficina mecânica, dependem dos agricultores. Se eles vão bem, nós vamos bem. Se eles vão mal nós também nós também vamos mal. Está aí o exemplo: eles pararam e parou a cidade”.

Segundo o comerciante, os policiais trataram com rudeza todos que estavam na área do posto, sem distinção para clientes, produtores rurais, empregados ou proprietários. “Também acho que foi um vandalismo isso aí, né? Todos eles (os policiais) estavam descontrolados”, disse, acrescentando que o inspetor Vieira procurou ficar distante de toda a confusão. “Quando o pessoal foi pro lado do acampamento, o inspetor Vieira e essa policial aqui de Sorriso ficaram mais por aqui. Eles não foram lá. O inspetor Vieira deveria ter dito para eles não fazerem isso aí, porque ele é o comandante, não é? Sei lá, talvez até falou e depois os caras não obedeceram”.

Rotava lamenta o comportamento da PRF. “Eu acho que eles não têm esse poder pra chegar e invadir. E também mandar fechar o restaurante eles também não tinham essa ordem toda. Não podiam fazer o que eles fizeram. Então, a gente que tem medo de encarar eles porque estão armados fica com receio deles. Do jeito que eles estavam, a gente não podia nem falar com eles. Fechei mesmo. Do jeito que eles estavam bravos, eles podiam fazer outra bobagem”.

Um dos frentistas do Posto 2000 revelou que os policiais usavam de xingamentos contra produtores rurais e os clientes do estabelecimento. “Um deles gritou para um produtor rural bem assim: ‘traz a tua mulher aqui para que eu possa c... ela!’”, disse o funcionário que se identificou apenas pelo apelido de Billy.

Violência total Os policiais já haviam agredido os produtores no dia 18 de maio, uma quinta-feira. Sem oferecer chance de negociação, avançaram sobre os produtores rurais com tiros de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Cerca de 20 manifestantes foram atendidos nos hospitais de Sorriso com ferimentos provocados por pedras lançadas pelas bombas. Uma das vítimas foi o secretário de Agricultura de Sorriso, Sardi Trevisol, ferido no braço. Um produtor quase foi atingido no olho por uma pedra, que provocou um corte profundo no rosto. Mesmo com o risco de um das bombas atingir alguma bomba de gasolina e provocar uma tragédia, a PRF detonou cerca de 40 bombas no pátio do Posto 2000.

Os policiais também realizaram prisões de forma aleatória. Qualquer um que aparecesse pela frente era detido. Nessa condição foram presos e transferidos para Cuiabá Sidnei Meneghetti, Valter Coqeemala Neto, Agenor Fiorentini, Olindo Antini e Ângelo Bordignon. Os cinco foram liberados na madrugada do dia 19, após negociações da Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato) e do Sindicato Rural de Sorriso. Para Argino Bedin, membro da diretoria do Sindicato Rural, a ação da PRF foi descabida. “É lamentável o que aconteceu. Tentamos negociar com o superintendente da Polícia Federal, mas não deu tempo. Infelizmente, houve precipitação por parte da polícia”, lamenta.

Sidnei Meneghetti, um dos detidos, disse que foi preso de forma arbitrária e sem justificativa pela polícia. “Nós fomos humilhados. Nós fomos usados como troféus. Durante a transferência para Cuiabá, onde tivesse uma carro da PRF eles paravam para mostrar nós. Ficamos algemados em grades por mais de três horas. Até chegar em Cuiabá foi humilhante”, explica. Meneghetti denuncia que as prisões foram realizadas de forma arbitrária e sem qualquer justificativa. “Eles escolheram qualquer um que estivesse sozinho”.

Nova estratégia Depois da ação de sexta-feira, os produtores rurais decidiram mudar de estratégia e transferiram no domingo (21) o manifesto para a área em frente ao Posto Redentor, no perímetro urbano da BR-163. No entanto, ainda não promoveram nenhum bloqueio de caminhões ou carretas. As manifestações se resumem ao fechamento dos armazéns instalados em Sorriso, Ipiranga do Norte e Nova Ubiratã.

Os produtores aguardam a proposta do governo federal nesta quinta-feira (25), em Brasília. Somente após o anúncio é que as lideranças rurais decidirão pela continuidade ou não dos protestos. “Se não houver acordo com o governo, as ações do manifesto deverão ser unificadas em todo o País”, revela o vereador Ederson Dalmolin (PFL), também empresário rural.





Fonte: Clichoje

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