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Politica Brasil
Sexta - 19 de Maio de 2006 às 07:00
Por: Adriana Vandoni

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Quando, em coluna passada, sugeri a possibilidade de Evo Morales reivindicar o Acre, eu estava fazendo o exercício do absurdo, ou do que me parecia absurdo. Estava errada em subestimar a insensatez do boliviano e me equivoquei grosseiramente ao acreditar que o presidente Lula já tinha alcançado o fundo do poço da imoralidade. Que nada, em se tratando de Lula, o fundo do poço sempre está um pouco abaixo. Ele sempre me surpreende pela criatividade com que se demonstra execrável.

O princípio básico para se tornar um legítimo líder populista é a escolha de um inimigo comum e um extremismo xenófobo de nacionalismo. Chávez escolheu os Estados Unidos como inimigo. Inventou a iminência de uma invasão norte-americana na Venezuela. Está no poder há 8 anos e anunciou este mês que pretende decretar um plebiscito que permita sua permanência até 2031. Aliás, a soberania de Chávez ficou evidente num pito que o chanceler (sic) Celso Amorim e o assessor para assuntos externos (outro sic) do presidente, Marco Aurélio Garcia. Em nota oficial do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, Chávez “mandou” que eles parassem de repetir o que a “imprensa reacionária” anda dizendo sobre Evo Morales. Eles obedeceram.

Evo Morales escolheu o Brasil como o imperialista odiado, primeiro por explorar sua riqueza natural e patrocinar a pobreza do povo boliviano, o que o possibilitou anunciar a expropriação das empresas brasileiras que lá produziam. Depois Evo levou seu povo ao delírio nacionalista. No ultimo dia 12, estudantes brasileiros em Santa Cruz de la Sierra foram espancados por bolivianos. Em Viena, Morales insinuou que a Bolívia foi ludibriada pelo Brasil ao trocar o Acre por um cavalo.

Grande garoto, aprendeu rapidinho. Só quem não aprende é Lula. Porque será? Eu sei. Por pura incompetência até para plagiar as mediocridades dos visinhos.

No caso do Acre a minha primeira reação foi oferecer uma “mula” para permanecer com o Acre como território brasileiro. Mas Evo não é Lula, não iria aceitar esta porcaria. Daí eu pensei em fazer uma sexta de guloseimas: ofereceríamos a ele a experiência ecológica de Marina Silva, devidamente acompanhada pelo distinto marido Fábio que é um entendidíssimo em organizações não governamentais ligadas à ecologia, claro, a precocidade de Siba Machado, a competência administrativa, legislativa e até judiciária dos Vianas, a memória de Chico Mendes e claro, a mula de quebra. Tudo isso para ele deixar o Acre em paz. Mas me pareceu injusto. Pô, nós já pagamos por essas terras e não foi só com um cavalo, isso é mentira do cara-pálida, entrou até um pedaço de Mato Grosso na negociação, e depois, a população não quer deixar de ser brasileira. O que fazer então?

Encontrei um texto de Ralph Hofmann, um amigo gaúcho que é trader internacional, onde ele fez uma comparação entre as 2 milhões de libras esterlinas pagas à Bolívia em troca do Acre e os US$ 7,2 milhões que os Estados Unidos, na mesma época, pagaram à Rússia pela compra do Alasca. Hoffmann converteu em valores atuais e constatou que o Brasil pagou pelo Acre US$ 1,67 bilhões. Mais que o dobro do preço pago pelo Alasca que é muito maior e “rico em ouro e petróleo”, disse Hofmann e acrescentou: “ainda por cima tem salmão, focas e ursos”. Diante dessa constatação, Ralph concluiu que os “Bolivianos nos passaram para trás em 1903, fomos uns trouxas. Pagamos acima do padrão vigente para territórios disputados”.

O problema é que por mais que tenhamos deixado de ser trouxas, temos um governo de trouxas que pode com a maior cara-de-pau, reconhecer o direito boliviano de rasgar contratos. Aí meus amigos acreanos, dançamos. Só poderei lamentar e dizer-lhes adiós. Sentiremos falta do papa da cardiologia Adib Jatene, dos jornalistas Armando Nogueira e Ezí Melo, de Jarbas Passarinho e da minha imperdível amiga Maria que eu nem sabia, mas vai virar boliviana.

Sniff! Sniff! Adiós muchahos e muchahas!





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