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Politica Brasil
Domingo - 14 de Maio de 2006 às 08:54
Por: Alessandra Carvalho

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Muitas pessoas ainda não sabem da importância de um evento para um município, para uma região e para um país. Um evento, por exemplo, pode incrementar o setor turístico, ampliando a oferta de meios de hospedagens, restaurantes e até mesmo da infra-estrutura, como a melhoria das vias rodoviárias.

A pessoa que não é moradora da localidade de onde acontece o evento necessita se hospedar, necessita de um local para alimentar-se, precisa de boas infra-estruturas para chegar ao local, e por fim, evidentemente, o local aonde acontecerá o evento precisa ter uma estrutura básica – espaço confortável que comporte o número previsto de pessoas que estarão no evento.

No Brasil e no mundo, os eventos têm impulsionado as localidades, e é por isso que muitos municípios investem na captação de eventos regionais, estaduais, nacionais ou até mesmo internacionais. A área esportiva é um exemplo clássico da competição para sediar um evento, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Um bom governante sabe do retorno de curto, médio e longo prazo que isto acarreta.

No Brasil, temos grandes eventos captados, como o Pan Americano de 2007, que será realizado no Rio de Janeiro, por outro lado, temos algumas derrotas no nosso calendário, como o Fórum Social Mundial, transferido de Porto Alegre para Caracas, na Venezuela.

Mas o que a cidade do interior de Mato Grosso, Barra do Bugres, a 150 km ao norte da Capital, Cuiabá, tem haver com este tema?

Em junho deste ano, a 1ª turma (197 formandos índios) na América Latina, receberá o diploma de conclusão do 3º Grau Indígena de realizado pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em parceria com a Secretaria de Educação do Estado (Seduc), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Prefeitura Municipal de Barra do Bugres.

O projeto foi implantado em 2001 com três Cursos de Licenciatura Plena, Ciência da Matemática e da Natureza, Línguas, Artes e Literatura e Ciências Sociais, onde as atividades pedagógicas intensivas ocorreram no Campus Universitário Renê Barbour, localizado na cidade de Barra do Bugres.

Foram quatro anos de convivência entre 44 povos indígenas de 37 línguas, nos períodos de férias regulares da Universidade. O projeto foi pioneiro no país e na América Latina. A convivência não partiu apenas dos professores e dos acadêmicos do curso, a população barra-bugrense acolheu e conviveu com os povos que cursavam e cursam o 3º grau indígena.

Com tamanha importância do evento, o Governo Estadual determinou a realização da cerimônia de formatura, no Centro de Eventos do Pantanal na cidade de Cuiabá, com as seguintes as justificativas: necessidade de grande estrutura, de uma excelente oferta hoteleira, de segurança e de logística (transporte e receptivo) para o evento.

Para a cerimônia está previsto um grande contingente de convidados, entre os quais autoridades nacionais e internacionais como o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, presidentes de outros países da América do Sul e a imprensa de toda a América Latina.

Mas voltemos para a Universidade. A Unemat tem como princípios norteadores o compromisso social, a democracia com a igualdade de oportunidade e a autonomia, tendo nesta última por fundamento a liberdade de conhecimento. Este é o norte da Unemat.

Mas que compromisso social está tendo a universidade ao colocar Cuiabá como sede da formatura do 3º grau Indígena? Que democracia é esta que não questionou os 44 povos que estudaram em Barra do Bugres? Que autonomia existente, se não é à vontade de seus coordenadores a realização em Cuiabá? Não é o povo de Barra do Bugres que perde, não é Cuiabá que ganha. Não é Aldeia Umutina localizada em Barra do Bugres, parceira também no curso, que perde, são os princípios da Universidade que se desfazem.

É momento de revisão e reflexão, o interior do estado é bom até que ponto? Barra do Bugres e região não estão preparados para tal evento? Quanto tempo durou o curso, para que não fosse planejado isto antes? Quanto tempo nossos governantes demoraram a perceber isto?

Quatro anos foram galgados, pensamentos foram construídos, mas não foi planejado uma estrutura para a conclusão destes cursos. A Unemat que tem em seu maior lema voltar-se para o interior do estado, está num momento peculiar descaracterizando seu lema.

A universidade que uniu os povos e as culturas, neste ato separa as cidades e esquece de sua comunidade.

Alessandra Ribeiro de Carvalho

Especialista em Ecoturismo, turismóloga, repórter e universitária de Arquitetura Rural e Urbana pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).




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