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Politica Brasil
Domingo - 23 de Abril de 2006 às 07:11

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O secretário de Estado de Cultura, João Carlos Vicente Ferreira, está tentando deixar marcada a gestão Blairo Maggi (PPS) na área cultural em Mato Grosso. Mesmo dizendo não ter recursos suficientes para fomentar a cultura no Estado, o titular da pasta frisa contar com a compreensão do governador sobre a importância dos projetos da Secretaria, que sempre são viabilizados de alguma forma. Uma das saídas, como lembra o secretário, são as parcerias com a iniciativa privada. Segundo ele, grandes empresas e instituições têm sido parceiras importantes de Mato Grosso, por exemplo, na recuperação do patrimônio histórico.

Dos grandes projetos que a Secretaria de Cultura tem hoje em desenvolvimento estão a Literamérica e o de revitalização e recuperação do patrimônio histórico. A Literamérica, que começou no ano passado, terá uma nova edição este ano, onde João Carlos acredita que o sucesso será ainda maior que o alcançado no ano passado. Na área do patrimônio histórico, com a recuperação de prédios nas cidades históricas de Mato Grosso, o secretário espera que até o final de 2006 o Estado tenha condições colocar Cuiabá definitivamente no roteiro turístico cultural do país. Confira abaixo a entrevista concedida por João Carlos ao jornal A Gazeta, onde ele fala dos projetos e planos da pasta para médio e longo prazo.

A Gazeta - Que tipo de projetos a Secretaria de Estado de Cultura desenvolve hoje?

João Carlos Vicente Ferreira - Olha nós estamos atuando basicamente em todas as áreas que dizem respeito à cultura de forma geral, em todos os segmentos.

A Gazeta - Quais desses poderíamos destacar como mais importantes?

João Carlos - Eu vejo todos eles como muito importantes. Mas nós podemos destacar na área do Patrimônio Histórico, um programa de recuperação em Cuiabá e nas cidades históricas de Mato Grosso de todo o patrimônio. Temos também a Literamérica, na área da literatura como foco principal, mas que também traz no seu bojo, discussão sobre a cultura popular. Dentro da Literamérica que acontece de 16 a 24 de setembro nós temos discussões do Fórum Cultural Mundial, que vai acontecer em novembro no Rio de Janeiro, teremos uma prévia aqui em Cuiabá. Teremos vários países também participando da feira. É uma feira que propõe uma integração da América do Sul e nós temos 3 países convidados esse ano, que são Portugal, Espanha e Itália. E há também projetos em outras áreas, como o Festival de Cinema em Cuiabá, Festival de Teatro, Festival de Dança, Festival de Música, enfim, o Salão Jovem Arte de Mato Grosso, todas as áreas, todos os segmentos, sempre têm um evento importante, onde procuramos dinamizar, fazer com que as pessoas que militam no meio cultural se sintam e sejam valorizadas.

A Gazeta - A literamérica teve a sua primeira edição no ano passado. Como foi a avaliação do evento?

João Carlos - Extremamente positiva por parte do governo. De longe, não apenas desse governo, mas de pessoas ligadas à cultura de uma forma geral, avaliam a Literamérica como o maior evento cultural de todos os tempos. Então nós conseguimos fazer com que despertasse o interesse em todos os segmentos da sociedade, em todas as faixas etárias. Até porque nós lidamos com a cadeia produtiva do livro, de uma forma geral. Desde a pessoa que pensa o livro, que faz a diagramação, a concepção do livro, até a impressão e a distribuição. Isso em se tratando de literatura. Em se tratando da cadeia produtiva da cultura de forma geral, nós também tivemos aqui a presença física de todos os países da América do Sul, que são 13, incluindo o Brasil. Nós tivemos ou em forma de corpo diplomático, ou em forma de editoras, ou de escritores de pelo menos 9 países da América do Sul. Além também da participação efetiva de Portugal, que veio e teve um stand, trouxe um escritor português e toda uma gama de produção literária também.

A Gazeta - Para este ano vai ter alguma diferencial ou o modelo que foi bem-sucedido permanece o mesmo?

João Carlos - Não, nós vamos partir de um modelo bem-sucedido. Então, o mínimo que nós vamos fazer é repetir o sucesso do ano passado. Mas na verdade nós já dobramos o número de stands. Quando nós lançamos a feira (nós ainda não fizemos o lançamento oficial, mas o lançamento comercial já foi feito) com 3 mil metros quadrados de área útil a ser utilizada pelos stands tivemos quase 50% vendidos no primeiro dia. Então é uma constante diariamente a procura pelos espaços da Literamérica. Nós acreditamos que os 220 stands que estão sendo colocados à disposição serão negociados, sempre lembrando que os países convidados, que interagem nesse processo, têm custo zero para sua vinda à feira. Temos certeza que este ano vamos ter um avanço no sentido de público, de interesse, porque a feira nasceu, é bom lembrar, de uma idéia pequena, de uma simples feira do livro de Mato Grosso. Essa era o título, porque nós temos noção, consciência, que Mato Grosso tem grandes autores, bons escritores e que está em processo crescente de produção do livro e que precisava, porque nunca teve, de uma feira do livro. Então nós achamos importante nesse momento que Mato Grosso mostrasse a sua cara para o Brasil e o exterior de forma geral. E isso foi pautado nessa questão de fazermos a feira, fazermos com que os países viessem para Mato Grosso para robustecer essa idéia de tornar Cuiabá uma capital importante dentro do contexto nacional e sul-americano na questão cultural, tornar Mato Grosso uma referência na questão cultural. E essa feira de 2006 eu tenho certeza que vai consolidar Cuiabá no pólo cultural sul-americano e mundial, porque para cá nós vamos atrair inúmeras editoras e autores, pessoas comprometidas com a questão cultural, especialmente da literatura e da cultura popular.

A Gazeta - Sobre o projeto de revitalização e recuperação do patrimônio histórico, como a Secretaria trabalha isso?

João Carlos - Bom, o governo tem noção geral do que significa a recuperação, a restauração do patrimônio histórico. Nós somos um Estado com uma história limitada a aproximadamente 300 anos em termos de história escrita, através dos nossos escritores José Barbosa de Sá e outros grandes nomes da literatura brasileira que se preocuparam com a questão do Centro Oeste e que foram os primeiros escribas sobre o que representou Cuiabá para o Brasil e para Portugal. Então, nós temos sempre também que registrar que temos a questão do patrimônio histórico natural, intangível e o arquitetônico. Nós temos uma história que está escrita nos nossos paredões, por todo o Mato Grosso, que são as inscrições e as pinturas rupestres, que em alguns lugares o teste de carbono nos mostra que alguns sítios têm 5 mil, 8 mil e até 20 mil anos. Mas não além disso. Então nós precisamos de muita pesquisa para saber exatamente o que representa a história, a fixação, o estabelecimento do homem sul-americano. Como foi a fixação do homem americano em solo cuiabano e a história que construíram aqui. Então todo esse patrimônio histórico constituído pelos períodos colonial, provincial e republicano pelos quais Mato Grosso passou desde o domínio português tem uma importância muito grande na questão do patrimônio. E que infelizmente governos passaram, se sucederam e não se atentou para a importância que isso tinha para o futuro das gerações. Então hoje estamos fazendo uma operação rescaldo, catando aqui e acolá o que restou da história de Cuiabá e Mato Grosso. Nós temos por exemplo, prédios como o antigo palácio Alencastro e a Catedral, construídos no século 19, que foram derrubados sem necessidade e com anuência de muitas pessoas que tinham que preservar e não preservaram. Hoje então temos que saber o que sobrou da nossa Cuiabá e preservar. Por isso que esse governo está preocupado em preservar o Palácio da Instrução, as igrejas e outros prédios históricos, para que no futuro as pessoas saibam que teve gente no século 21 que se preocupou com a história, com a memória.

A Gazeta - Qual é o orçamento da Secretaria hoje?

João Carlos - É um orçamento que não condiz com a grandeza da nossa proposta, mas que nós estamos trabalhando muito bem isso, com parcerias, buscando pessoas que estão interessadas em colaborar. Eu quero aqui render as nossas homenagens à Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), ao Banco do Brasil, à John Deer e à Monsanto, que são empresas que participaram diretamente dessa proposta de recuperação e restauração do patrimônio histórico. E Cuiabá é uma cidade que tem característica de estar recebendo sempre pessoas dos mais diferentes grupos étnicos e de nações, então nós estamos trabalhando com todas as possibilidades de fazermos parcerias. Por exemplo, do dia 20 ao dia 28, eu vou estar em Portugal fazendo um trabalho de contato com 3 instituições particulares e um banco, que já previamente se mostraram interessados e estão sendo parceiros. Eu vou lá mostrar a importância de se restaurar esses prédios históricos e fazer com que Mato Grosso se torne uma referência em patrimônio recuperado. Porque sempre se trabalhou muito a questão das cidades e Estados litorâneos e o miolo do Brasil sempre foi meio deixado de lado. E agora nós entendemos que estamos em momento muito interessante, muito bom para que essa proposta se torne realidade e quando eu falo de Mato Grosso não é apenas Cuiabá, nós temos várias outras cidades históricas como Vila Bela, Diamantino, Rosário Oeste, Poxoréo, Poconé, enfim, depois nós temos todas as várias etapas que eu falei, períodos colonial, provincial e republicano, que também estão sendo observados pelo governo. A preocupação então é muito grande. Os recursos não são o que nós achamos necessário, mas nós temos a compreensão do governador da dimensão dessa importância. Em função disso nós temos a tranquilidade de sabermos que qualquer proposta é sempre aceita e procura-se sempre ter um bom resultado para aquela proposta.

A Gazeta - A Secretaria trabalha hoje de forma a garantir o acesso à cultura para todo cidadão mato-grossense?

João Carlos - Estamos buscando isso. A Secretaria está ainda atrelada a um processo anterior, a uma forma de agir e de trabalhar de pelo menos duas décadas pra cá. Hoje, mesmo que nós queiramos, não temos espaços culturais necessários para se fazer um tour cultural, um turismo cultural por Cuiabá. Mas com certeza, no final de 2006 nós teremos isso, porque nós vamos ter muitos prédios históricos recuperados e vamos ter condição de estar fazendo todo um roteiro cultural. O cidadão vai poder sair da Casa Barão de Melgaço, onde morou Augusto de Leverger, o grande bretão cuiabanizado, saindo dali ele vai pro Cine Teatro Cuiabá, para o Grande Hotel, onde é a sede da Secretaria de Cultura, vai para o Palácio da Instrução, aí ele anda 50 metros vai estar no Museu Histórico de Mato Grosso. Ele anda mais um pouco vai para Igreja do Bom Despacho e com um passo vai para o Museu de Artes Sacras e a Pinacoteca de Mato Grosso, totalmente revitalizada. Depois você sai dali vai para a Igreja do Rosário, desce um pouco vai para a Igreja Senhor dos Passos e você vai se deparar com o Centro Histórico de Cuiabá pontualmente sendo recuperado. Então, é uma ação de médio e longo prazo, que, neste final de ano vamos estar fazendo com que as pessoas vislumbrem de uma maneira mais acentuada e mais visível essa condição.

A Gazeta - A Lei de Incentivo à Cultura facilita mesmo a produção cultural no Estado ou ainda tem alguns entraves?

João Carlos - Facilita. Ela é para incentivar, não é para manter nenhuma proposta, para nada além do incentivo. Mas além do incentivo, existe uma proposta de que parte dos recursos sejam gerenciados pela Secretaria para exatamente estar propondo a política pública de cultura, juntamente e com anuência do Conselho Estadual de Cultura.




Fonte: Gazeta Digital

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