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Politica Brasil
Quarta - 05 de Abril de 2006 às 08:22
Por: Wilson Lemos

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Há exatamente quarenta e dois anos, o Brasil acordava sob um golpe militar, para viver o mais longo período ditatorial de sua história. Em Cuiabá, aonde chegara no início de 1961, vivi o começo dos chamados “anos de chumbo” da quartelada de 64. Como militante de esquerda desde a juventude e integrado aos movimentos políticos locais, fui envolvido nos acontecimentos que naquele ano agitaram a até então tranqüila Cidade Verde, habituada tão-somente às constantes “briguinhas” domésticas entre a UDN, PSD e PTB, cordiais “inimigos íntimos” aqui na província.

Minha atuação política em terras mato-grossenses vinha desde 1959, quando morava na cidade de Mutum, hoje Dom Aquino. Já naquele ano, filiado ao PTB, participava de ações voltadas para a organização e conscientização política dos movimentos populares, o que me criou problemas com certas “otoridades” de plantão.Em 61 transferi-me para Cuiabá, mudando de lugar, mas não mudando de posição.

A partir de 62, a luta pelas Reformas de Base preconizadas por Jango sacudia o país acordando consciências e arregimentando as forças populares organizadas. Em nossa capital contava com a participação de estudantes e operários, alguns profissionais liberais, políticos de esquerda e um ou dois deputados estaduais do PTB. Aliás, aqui o único partido engajado no movimento, uma vez que nas demais agremiações partidárias predominavam as elites rurais e urbanas contrárias às reformas.

No PTB, um grupo de vanguarda liderado pelo poeta-advogado Silva Freire assegurava a presença do partido nos movimentos populares. Esse grupo, do qual passei a fazer parte e que reunia idealistas como Aníbal Bouret, Pompeu Filho, Bezerra e outros companheiros cujos nomes me escapam à memória cansada, foi um importante instrumento a serviço das lutas democráticas em defesa das causas populares. Além de participar das atividades partidárias convencionais, o grupo promovia encontros para se debater os grandes temas nacionais, defender as reformas e dar combate às ações do IBAD, IPES, MAC e outros organismos da direita reacionária que se opunha às teses nacionalistas e aos avanços das forças democráticas que buscavam novos caminhos para o desenvolvimento brasileiro. Estávamos todos integrados à luta pelas reformas e empenhados na construção de um Brasil melhor.

Mas, enquanto vivíamos aqueles dias de efervescência política, com Jango empenhado na realização das reformas exigidas pelo povo e indispensáveis ao país, as forças da direita reacionária e as oligarquias políticas rurais e urbanas se arregimentavam para assaltar o poder. Os ataques ao governo recrudesciam cada vez mais violentos. Dos escritórios luxuosos da Avenida Paulista e dos gabinetes da UDN, a conspiração se alastrava invadindo os quartéis e as sacristias. A elite e a classe média quatrocentona abraçadas saíram às ruas por Deus, pela família e em defesa da propriedade. Os acontecimentos se precipitaram e deu-se então a quartelada.

Na madrugada de 1º de abril eu me encontrava em casa. Como de hábito, acompanhava o noticiário da Rádio Mayrink Veiga, única emissora de alcance nacional que se opunha à pregação golpista, quando ouvi a notícia de que um golpe militar estava em curso. O Gal. Mourão Filho à frente de suas tropas saíra de Minas em direção ao Rio de Janeiro.Logo às primeiras horas da manhã Bezerra chegava à minha casa e de lá saímos à procura de mais informações. As poucas notícias que chegavam eram confusas e desencontradas. Naqueles primeiros momentos, não sabíamos ao certo se o golpe era contra ou a favor do Governo. A dúvida foi desfeita ao longo do dia e já no fim da tarde Jango deixava Brasília rumo a Porto Alegre.

Naquela mesma manhã nos reunimos com vários companheiros no Campo do Ourique para discutir os acontecimentos e decidir o que iríamos fazer...

(Wilson Lemos: E-mail “wfelemos@terra.com.br)




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