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Politica Brasil
Quarta - 29 de Março de 2006 às 07:47
Por: Adriana Vandoni

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Tempos atrás dois deputados de Mato Grosso foram envolvidos em um mesmo crime, até hoje sendo apurado ou perdido nas burocracias legais. Mas na época foi nítida a diferença do impacto para um e para outro. O crime que lhes pesava era o mesmo, de gravidade igual, de sujeira idêntica. Enfim, os dois estavam com a palma da mão amarela. Um deles ficou visivelmente abalado, deu uma saída de cena, e na época era visto constrangido pela situação. Claro que isso não amenizou de forma alguma seus desvios de conduta, não o transformou em menos culpado, mas a diferença de reação foi gritante.

O outro, também com a palma da mão amarela, se manteve altivo, arrogante e desafiador. O seu olhar era de acusador e não de acusado, tendo inclusive proposto alternativas de controle ético, como se isso não significasse a própria antítese do seu comportamento. No lugar de constrangido ele constrangia a todos com sua soberba. Longe de isso significar força ou consciência limpa, nada mais era que a afirmação de ausência de um mínimo resquício de princípios morais.

Volto a dizer que o crime aos dois atribuídos era o mesmo. Enquanto um tinha sentido o baque da exposição do crime à sociedade, o outro se mostrou frio, calculista, e sua índole talvez o permitiu acreditar que não tenha cometido erro algum. Era como se os escândalos não tivessem qualquer significância.

Essas "personalidades" têm pontos de vista distintos de um mesmo crime.

Esse fato me chamou muita atenção na época e agora voltou a me intrigar. Em artigo passado comentei que a comemoração do Professor Luizinho e de Pedro Henry, absolvidos pela Câmara Federal, era o retrato no nosso fracasso como cidadãos. Nas últimas semanas isso ficou patente em mais dois episódios. Primeiro a infame dança da Deputada Ângela Guadagnin (PT) ao comemorar a absolvição de um companheiro que já tinha até confessado ter recebido dinheiro de Marcos Valério. Mesmo que a Deputada estivesse no meio do plenário da Câmara Federal comemorando a vitória do Brasil na copa, sua dança por si só já seria uma cena grotesca e afrontosa. Mas ela estava comemorando a vitória da impunidade. Num ato só ela cometeu dois pecados, nos afrontou com a sua imagem e com o seu descaro.

O outro comportamento que mostrou bem essa diferença na reação foi o do ex-ministro Palocci e mesmo do ex-deputado José Genoíno, que se enclausurou na própria vergonha. Foram comportamentos diferentes do que presenciamos em José Dirceu, que tinha não apenas a mão amarela, mas os braços e espírito, e mesmo assim saiu com toda a prepotência que sempre lhe foi característica. Palocci abateu-se. Ficou nitidamente constrangido, mas claro que não pelos erros cometidos, mas por ter sido pego.

O que isso significa, já que não abranda o erro?

É a sutil diferença entre os imorais e os amorais. Os dicionários definem isso como paronímia. São palavras muito parecidas na grafia e na pronúncia, mas com profundas diferenças no significado. No rol dos contraventores, por exemplo, elas distinguem aqueles que afrontam as regras e a decência. Uns têm conhecimento de que elas existem. Esses são os imorais. Por outro lado temos aqueles que são destituídos de qualquer senso de moral, simplesmente por não conhecerem o que sejam princípios. Esses são os amorais.

Creio que neste contexto, enquanto já tivemos outros presidentes envolvidos em situações no mínimo antiéticas, eles fizeram parte do primeiro grupo, mesmo o corrupto Collor. Lula, com seus discursos desafiadores e auto-glorificantes, se enquadrou claramente no segundo grupo, naqueles que não conhecem ou não tem noção do que sejam princípios.





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