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Internacional
Sábado - 18 de Março de 2006 às 12:33

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O Iraque ganhou em democracia, mas três anos depois da guerra e do começo da ocupação, enfrenta o desafio do sectarismo e a mistura de questões religiosas com a vida política.

Desde 2003, os xiitas, fazendo valer sua superioridade demográfica - pois representam quase dois terços da população -, conseguiram dominar as instituições do país, enquanto os sunitas, grupo dominante na época do ditador Saddam Hussein, se sentem relegados no novo modelo político.

Nestes três anos, os iraquianos foram três vezes às urnas, duas delas para escolher o Parlamento e uma terceira para aprovar a nova Constituição.

Em todos os casos, as votações foram consideradas aceitavelmente limpas e muito mais democráticas do que qualquer pleito em outro país árabe.

Há partidos políticos de todas as tendências - curdos, turcomanos, cristãos, comunistas, xiitas religiosos, xiitas laicos, sunitas -, mas os que tiveram mais votos foram os confessionais. A religião se tornou o fator mais crucial da vida política do país.

Enquanto a "Comissão de Ulemás" sunitas marca as decisões políticas dessa comunidade, o mesmo acontece com a "Hawza" de Najaf, chamado de "Vaticano xiita", onde reina o Grande Aiatolá Ali al-Sistani, homem cuja aprovação é procurada por todos os grupos xiitas.

Foi Sistani que apadrinhou a união de todos os grupos xiitas confessionais na chamada Aliança Iraquiana Unida (AIU), grupo que conta hoje com maioria absoluta no Parlamento.

A coalizão xiita encorajou os eternos adversários curdos, Jalal Talabani e Massoud Barzani, a formar uma "aliança curda". Já os sunitas acabaram vencendo todos os seus receios em relação às novas instituições iraquianas e formando sua própria "frente sunita".

Todos dizem agir em nome do Iraque, mas a religião e a etnia são os motivos de disputa da política nacional.

O pedido dos xiitas de criar uma grande região autônoma no sul do Iraque, similar à que os curdos têm no norte, suscita, para os sunitas, o temor de que esteja perto de virar frangalhos a união do país, mantida com mão de ferro por Saddam durante seu longo Governo, ao preço de sufocar qualquer particularismo étnico.

Os principais cargos do novo Governo iraquiano foram escrupulosamente divididos segundo critérios étnico-religiosos, no que alguns chamaram de "libanização" da política iraquiana.

Inevitavelmente, porém, os xiitas acabam impondo sua superioridade demográfica.

Isto é um fato na Polícia, corporação dominada pelos xiitas e suspeita de agir com parcialidade, o que a torna o alvo preferido da insurgência sunita.

Além disso, a criação de uma nova Polícia e de um Exército não provocou o desarmamento das milícias dos partidos. Os curdos se negaram a desarmar seus "peshmergas" ou a integrá-los ao Exército, atitude idêntica à das "Milícias Badr" e do "Exército Mehdi", ambos xiitas.

A profusão de armas e de milicianos no novo Iraque não trouxe mais segurança ao país. Aconteceu o fenômeno inverso: o iraquiano médio passou a viver com medo dos enormes perigos criados pela violência política e pela criminalidade comum.

O cidadão do novo Iraque tem hoje acesso a uma enormidade de títulos de imprensa (137 ao todo, dos quais 16 em Bagdá) e de redes de TV (13 no total). No entanto, esses veículos de comunicação respondem a posturas sectárias, e não há quase nenhum realmente independente.

No complicado panorama do pós-guerra iraquiano, destaca-se a relativa estabilidade das três províncias autônomas curdas, governadas de forma praticamente independente.

Os curdos nunca esconderam suas ânsias independentistas - apesar de um de seus líderes históricos, Jalal Talabani, ocupar a Presidência iraquiana.

Assim, os iraquianos temem que, se o país se precipitar definitivamente rumo ao caos, os curdos acabem forçando o caminho da secessão.





Fonte: EFE

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