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Internacional
Sábado - 25 de Fevereiro de 2006 às 10:54
Por: Manny Mogato e Carmel Crimmins

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Suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe nas Filipinas foram levados para interrogatório e a polícia deu uma batida no escritório de um jornal de oposição neste sábado, um dia depois de a presidente Gloria Macapagal Arroyo impor estado de emergência no país.

As ruas de Manila, porém, estavam calmas, em forte contraste com as cenas caóticas registradas exatamente há 20 anos, quando um milhão de pessoas enfrentaram tanques do exército numa das principais avenidas da capital, forçando o ditador Ferdinand Marcos a fugir. A avenida, Epifanio de los Santos, é conhecida pela sigla EDSA e se tornou um símbolo da comemorada revolta do "poder do povo" contra Marcos.

Arroyo, que sobreviveu a uma crise no ano passado deflagrada por acusações de fraude eleitoral e corrupção, invocou na sexta-feira o governo de emergência, devido à "conspiração sistemática" contra ela por parte de oposicionistas, comunistas e "aventureiros militares".

"(Os) militares efetivamente esmagaram o complô, mas alguns responsáveis por ele ainda estão soltos", disse no sábado o chefe nacional de polícia Arturo Lomibao a jornalistas.

O ex-chefe de polícia Ramon Montano e o congressista de esquerda Crispin Beltran foram detidos para interrogatório. Lomibao disse ter uma lista de outros nomes, encabeçada pelo ex-senador Gregorio Honasan, considerado um herói da deposição de Marcos.

Cerca de dez tenentes do exército e da força aérea, recrutados recentemente para participarem do golpe, se entregaram aos comandantes, aparentemente na primeira vez em que se admitiu que havia um plano para desestabilizar o governo Arroyo.

"Muitos agentes jovens começaram a se render por medo de serem presos", disse um general sênior, que não quis dar seu nome. O exército está expandindo sua investigação de forma a pegar os cérebros e os financiadores do complô, acrescentou.

As forças armadas estavam em alerta para protestos de ruas e a expectativa era que as prisões continuem.

VIGIANDO A IMPRENSA

Arroyo citou, entre os motivos para invocar o regime de exceção, a cobertura tendenciosa da imprensa local e, na madrugada do sábado a polícia invadiu um jornal proó-oposição e soldados foram enviados para vigiar as duas principais redes de televisão do país, ABS-CBN e GMA7.

O editor do Daily Tribune disse que o jornal vai continuar a ser publicado, apesar de a polícia ter confiscado cópias e ter fechado o escritório a cadeado.

"Eles atacaram rapidamente e entraram", disse no rádio Ninez Cacho-Olivares. "É como a lei marcial."

A polícia também foi ao jornal popular Abante, mas um dos membros da conselho do tablóide, Elvira Altez, disse que os agentes foram embora depois de verem os trabalhadores de duas redes de televisão.

Os aliados da presidente defendem as batidas aos jornais, afirmando que se trata de uma medida legítima contra tentativas de incitar agitação, mas críticos dizem elas lembram a lei marcial no governo Marcos.

A União Nacional de Jornalistas convocou para o domingo uma entrevista coletiva em protesto contra as medidas e advertências de que as organizações de imprensa se arriscam a serem fechadas se cobrirem de forma tendenciosa detalhes militares sensíveis.

Houve uma dúzia de tentativas de golpe nas últimas duas décadas, mas alguns analistas afirmam que o governo de Arroyo aumenta as ameaças de forma a advertir conspiradores e reunir apoio popular.

O estado de emergência por tempo indefinido afetou o sentimento dos investidores e o peso caiu 1 por cento, para 52,20 em relação ao dólar na sexta-feira.

SACRIFÍCIO PESSOAL

Em uma missa para comemorar o movimento do "poder do povo", o influente arcebispo de Manila disse que o governo deve considerar o "sacrifício pessoal", expressão usada pelos ex-presidentes Corazon Aquino e Fidel Ramos no ano passado, ao fazerem dois apelos separados para que Arroyo renunciasse.

"A disposição militar de qualquer tipo e por qualquer razão põe em grave risco a nossa posição entre a família de nações honradas", disse Gaudencio Rosales à congregação, entre a qual estava Aquino, ícono das demonstrações da EDSA, e Ramos, que a sucedeu no poder.

Os militares detiveram o comandante de um regimento de elite na sexta-feira, que seria o líder dos soldados que alegadamente planejavam incitar a população a fazer manifestações contra Arroyo. Posteriormente a polícia acabou com dois protestos de cerca de 5.000 cada, usando jatos de água e cassetetes em um deles.

Mas não ocorreram protestos no sábado e Arroyo, cercada por assessores e seguranças, visitou um dos shoppings de Manila. Os shoppings tiveram pouco movimento no sábado.

A senadora Miriam Defensor-Santiago, aliada de Arroyo e ex-juíza, disse que a ordem da presidente não especifica claramente a extensão e limites dos poderes de emergência, mas ainda respeita os direitos dos cidadãos, entre eles a liberdade de expressão.

A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, porém, disse se preocupar com a possibilidade de que a emergência "aumente o risco de graves violações dos direitos humanos e possa minar o governo da lei nas Filipinas."

(Com reportagem de Rosemarie Francisco)




Fonte: Reuters

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