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Politica Brasil
Quarta - 15 de Fevereiro de 2006 às 09:12
Por: Daniel Pereira

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Um dos mandamentos da fé cristã reza que as pessoas devem fazer o bem sem olhar a quem. Pelo menos foi isso que aprendemos quando crianças, na família, na escola ou na igreja. A fome no mundo só aumentou desde então. Os novos messias fracassaram. O mais recente prometeu fome zero. Alguém tem notícia deste milagre?

Fazer o bem é uma obrigação intrínseca ao caráter do ser humano. Se alguém pede esmola é porque está precisando. Era assim também antigamente. Hoje, o mundo é dos espertos, que, inclusive, tomaram o papel dos miseráveis. Há miseráveis honestos, mas o número de oportunistas é cada vez maior. Provavelmente porque seguem o exemplo que vem de cima.

Vejam esta historinha, que emprestei de autor desconhecido na internet. Ela se passa em Paris, mas poderia perfeitamente ter acontecido em qualquer cidade do mundo.Um deficiente visual estava na calçada, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira escrito com giz branco: “Por favor, ajude-me, sou cego”.

Um publicitário, da área de criação, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz, virou-o ao contrario e escreveu um outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do deficiente e foi embora.

Pela tarde o publicitário voltou a passar em frente ao deficiente. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas. O deficiente reconheceu os passos e lhe perguntou se havia sido ele quem reescreveu seu cartaz, sobretudo querendo saber o que havia escrito ali. O publicitário respondeu: Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras. O deficiente nunca soube, mas em seu cartaz dizia: “Hoje é primavera em Paris, e eu não posso vê-la”.

É uma história bonita e singela. Mas vejam este outro caso. Aqui em São Paulo os pedintes estão em todos os lugares. Nos ônibus e no metrô é rotina. O sujeito entra, pede a atenção da distinta platéia e faz um discurso comovente, quase sempre com um texto mais ou menos assim: tem Aids, a mulher o abandonou, as crianças estão passando fome, ele não consegue receber a grana da licença saúde do “INPS”, o gás acabou, o dono do barraco (quando não está debaixo do viaduto) quer expulsá-lo, mas não é bandido, é um sujeito trabalhador. E, por aí vai. Ele (ou ela) implora por um mísero passe de metrô, ou uma moedinha, um pacotinho de biscoito, qualquer coisa.

O que é que você, que se diz cristão, faz nesta hora? Manda às favas os seus princípios e faz que não vê, ou saca uma moedinha para acabar logo com aquela tertúlia? Ou nada disso, muito pelo contrário? A cena do parágrafo anterior é a mais recente que testemunhei e só serviu para estragar de vez o dia. Não por causa do personagem ou pela veracidade ou não deste enredo. Não importa se o drama do sujeito é real ou se tudo não passa de mais um ato de esperteza, como tantos que rolam abaixo da linha do Equador. O sentimento que fica é de revolta, sobretudo quando se vê o governo anunciando números fantásticos na economia, investimentos fabulosos em bolsa-família e no famigerado programa Fome Zero, etecétera. Estes são os oportunistas de verdade. Sou mais o marketing dos miseráveis: você aceita ou não e ponto final.

* Daniel Pereira é Jornalista em São Paulo.




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