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Internacional
Quarta - 07 de Dezembro de 2005 às 16:46

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A decisão sobre o caso do dissidente cubano Luis Posada Carriles, que teve a extradição pedida pela Venezuela sob acusações de terrorismo, será a prova decisiva do compromisso dos Estados Unidos em sua luta contra o terrorismo internacional, disseram hoje especialistas.

Posada Carriles enfrenta dois processos paralelos: um por ter entrado ilegalmente nos EUA em março deste ano, e um de extradição pedida pela Venezuela e que tem grande repercussão política.

Especialistas consultados hoje pela EFE disseram que os dois casos são um dilema para os EUA, no primeiro porque Washington prometeu tolerância zero com a imigração ilegal e, no segundo, porque também se comprometeu a combater os terroristas em todas as frentes.

O Governo da Venezuela, através de seu advogado em Washington, José Pertierra, exigirá novamente hoje que os EUA "sejam conseqüentes" e decidam de uma vez sobre a extradição de Posada Carriles.

O cubano-venezuelano, inimigo confesso de Fidel Castro, é acusado pela Venezuela de ser o autor intelectual da explosão de um avião da Cubana de Aviación que deixou 73 mortos, em 1976.

"Posada Carriles é a versão latino-americana de Osama bin Laden (líder da rede terrorista Al Qaeda). Os EUA têm que cumprir suas próprias leis e o direito internacional, e extraditá-lo à Venezuela", disse Pertierra horas antes de se reunir com assessores de líderes do Congresso.

O encontro, organizado pela organização Latin American Working Group, tem como objetivo informar aos legisladores e à opinião pública sobre o que está em jogo neste caso.

Pertierra lembrou que os EUA assinaram um acordo de extradição com a Venezuela em 1922, e que Washington é signatário de convênios internacionais que condenam atos terroristas contra vôos comerciais.

"Muitos acreditam que o caso de extradição está morto, quando nem começou. O Governo dos EUA não agiu até agora porque prefere amparar este terrorista", ressaltou Pertierra.

Para o advogado, o caso cumpre todos os requisitos para que o Departamento de Justiça extradite o acusado. Segundo ele, existe uma ordem de detenção na Venezuela e Posada Carriles é acusado da explosão do avião, um crime condenado pelos tratados de extradição.

Além disso, ao conseguir abrigo nos EUA, o dissidente escapou da Justiça venezuelana.

No caso de extradição, os EUA teriam apenas duas opções: extraditá-lo - o que está praticamente descartado devido às tensões entre Washington e Caracas -, ou julgá-lo em território americano.

"A lei é clara: extraditam ou processam, mas não podem continuar dando apoio a ele. Os EUA não podem deixar de atender suas obrigações internacionais, especialmente depois da tragédia que viveu com os atentados (de 11 de setembro) de 2001", disse Pertierra.

Esta é a mesma opinião de Peter Kornbluh, diretor do projeto de documentação sobre Cuba do Arquivo Nacional de Segurança (NSA, em inglês), um grupo de estudos da Universidade George Washington.

O NSA divulgou documentos antes secretos dos serviços de espionagem dos EUA que vinculam Posada Carriles à explosão do avião, em 1976.

"Os EUA estão jogando sua credibilidade neste caso, porque Bush disse que nenhuma nação deve dar refúgio aos terroristas, e aqui têm, diante de seus narizes, um lendário terrorista internacional", disse Kornbluh, que também participará da reunião do Congresso.

"Os desentendimentos com Hugo Chávez (presidente da Venezuela), a política dos EUA contra Cuba e o fato de o governador da Flórida (berço do exílio cubano) ser irmão de Bush parecem diminuir o interesse dos EUA em fazer justiça neste caso", lamentou o especialista.

Assim, o pedido de extradição coloca o Governo Bush em uma encruzilhada: os EUA lideram a luta global contra os terroristas e, como tal, devem ser conseqüentes neste polêmico caso.

Mas se trata de Posada Carriles, que tem nas costas mais de quatro décadas de luta para derrubar o regime de Havana, e que muitos acreditam ter recebido tratamento preferencial.

O Departamento de Segurança Nacional tem até 26 de janeiro para decidir sobre o caso de deportação, diante do qual tem três opções: deportá-lo para um outro país que não seja a Venezuela - Cuba não pediu para recebê-lo -, deixá-lo livre ou mantê-lo detido.




Fonte: EFE

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