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Sábado - 26 de Novembro de 2005 às 17:55
Por: Mariana Trigo

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Duas semanas é tempo suficiente para avaliar se uma novela emplaca de fato. E Sílvio de Abreu parece ter acertado em cheio na velha receita do bolo com Belíssima, onde tenta acrescentar apenas um pouco mais de qualidade aos ingredientes de sempre.

Todas as cenas de Fernanda Montenegro com Glória Pires já revelam que a forte trama segura qualquer expectativa. Isso sem falar da sempre ótima surpresa dos personagens de Pedro Paulo Rangel. No tom correto, o Argemiro passa aquela simpatia de "tia velha e boa conselheira" mesclada com a clássica figura de um avô amoroso. Esbanja uma ironia sutil, sem resquícios de pieguices, numa composição digna de um grande ator.

Mas nem tudo são flores na nova leva das oito. "Revivals" são sempre arriscados e, dessa vez, Sílvio apelou ao ressuscitar o parvo Jamanta de sua antiga novela Torre de Babel.

O ator Cacá Carvalho é ótimo, mas o abobalhado personagem é um presente de grego ao público. Trazê-lo de volta é uma espécie de karma televisivo. Já Gianecchini, seu companheiro de cena, chega a surpreender. O galã parece ter tido disciplina na gestação do mecânico bronco. Na verdade, todos os personagens do núcleo pobre estão bem construídos, desde o casal interpretado pela naturalíssima Irene Ravache e Lima Duarte, agora com sotaque turco em altos decibéis. Outro acerto é a dobradinha da personagem de Irene com Tosca, de Jussara Freire.

A mesma competência está presente em quase todos os cenários, que demarcam com eficiência o habitat de cada núcleo. O destaque mais óbvio é a mansão do Morumbi, dos donos da Belíssima. Desde pinceladas de peças de designers reconhecidos, como o banco Bandeirola do arquiteto Ivan Rezende, até a discreta frieza presente na decoração arrojada, a casa vista de fora - nas externas - nos remete a alguns filmes de suspense que têm como locação mansões envidraçadas.

Já na Grécia, os tons pastéis prevalecem apenas nos corretos figurinos e cenários. Suaves matizes servem para enaltecer as vibrantes atuações de Tony Ramos, Cláudia Abreu, Henri Castelli e até da pequena Marina Ruy Barbosa. Tony, como sempre, se despe absolutamente dos vestígios de seus antigos personagens e se entrega numa atuação digna de bis.

Esta saborosa mistura de ingredientes dificilmente corre o risco de ser azedada, a não ser que com as mortes de Bia Falcão, de Fernanda Montenegro, Pedro, de Henri Castelli e da golpista Valdete de Leona Cavalli -, a trama se transforme numa espécie de reciclagem de A Próxima Vítima, também do mesmo autor.

Por enquanto, com média de 49 pontos e um satisfatório share de 70%, Belíssima não chega a surpreender com temas mirabolantes, mas continua fiel ao necessário papel social tão em voga nas tramas. Depois de retratar o drama dos deficientes em América, a nova das oito começa a mostrar o que há por baixo dos panos no tráfico de mulheres para prostituição no exterior através da sofrida Taís, vivida por Maria Flor. Mas o chororô dos dramas pessoais ainda mal começou. Com a morte de Pedro, de Henri Castelli, a mocinha de Cláudia Abreu ameaça transbordar o Mar Egeu.

Enquanto isso, na capital paulista, um mosaico da metrópole é representado por badalados profissionais da moda, sarados garotos de programa de classe média, fúteis socialites carentes e no foco em que a própria trama se baseia: o impiedoso poder da beleza. Porém o autor não esquece que o conteúdo também merece "sessões de embelezamento" e manda recados àqueles que, mesmo em níveis sociais mais elevados, embarcam nos abomináveis modismos lingüísticos.

Como no capítulo em que a secretária Ivete, personagem da longilínea Angelita Feijó, disparou um "quer que eu esteja passando a ligação?" e foi retrucada com "que 'gerundismo' idiota!" pela implacável Bia, de Fernanda Montenegro. Parabéns à vilã e ao autor por protestarem contra esses cruéis atentados à língua portuguesa.





Fonte: TV Press

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