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Educação/Vestibular
Terça - 22 de Novembro de 2005 às 07:47
Por: Roberta Pennafort

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Rio - Boa parte dos cerca de 30 mil estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) está há quase três meses sem aulas, por causa da greve dos professores. Mas a paralisação não impediu que Marina Barbosa Pinto, presidente da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior (Andes), entidade que lidera a mobilização, defendesse sua tese de doutorado.

Professora do Departamento de História da UFF, Marina fez sua defesa em 12 de setembro, 12 dias depois de a categoria ter decidido pela suspensão das atividades. Ela chegou a solicitar à coordenação do programa o adiamento para depois da paralisação, mas ouviu "não" como resposta. Uma das integrantes do comando de greve, ela acabou, de certa forma, "furando" o movimento, na opinião de alguns colegas.

A não-interrupção dos trabalhos na pós-graduação durante as greves é comum nas universidades, pois muitos mestrandos e doutorandos dependem de bolsas concedidas por entidades de fomento à pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Como os prazos de conclusão são rígidos, os grevistas costumam autorizar a manutenção das bancas.

Já o vestibular pode sofrer atrasos: os grevistas defendem o adiamento das provas (a primeira fase está marcada para o dia 4). O Conselho de Ensino e Pesquisa ainda não bateu o martelo.

No caso de Marina, o comando de greve foi favorável à defesa. "Ela não queria defender, mas não teve alternativa", afirmou Paulo Marcos Borges Rizzo, vice-presidente da Andes. "Teria sido melhor se não defendesse, para evitar constrangimento."

”Incoerência” Para o professor titular de História Daniel Aarão Reis Filho, a presidente da Andes foi incoerente. "É um escândalo, uma incoerência básica. Eles mandam os alunos de graduação aderirem à greve e a dirigente máxima do movimento não quer se prejudicar", afirmou Reis, que se opõe à paralisação.

Ele contou que já participou de várias greves, mas, ao longo dos anos, percebeu que se trata de "um tiro no pé". "Os alunos de graduação são os mais sacrificados", acredita.

Ele disse que não é verdade que 80% da UFF esteja parada como informam os grevistas, e contou, ainda, que a iniciativa de cruzar os braços - para reivindicar reajuste, incorporação de gratificações, entre outros direitos - saiu de uma assembléia com apenas 57 de um total de 2.500 professores.

Sem privilégio "Não foi privilégio meu", justificou-se Marina, há um ano à frente da Andes. "Não me lembro de nenhuma greve em que as defesas tenham sido prejudicadas. Isso já aconteceu com muitos professores."

Ela explicou que não só as defesas, mas também outras atividades da universidade marcadas com antecedência, como bancas de concurso e seminários nacionais e internacionais, são mantidas. Ela disse que não se sente constrangida, uma vez que sua situação foi discutida pela comissão de ética do comando de greve, que a apoiou.

Para Roberto Leher, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que participou da banca de Marina, suspender as defesas durante a greve seria uma decisão que se voltaria contra a própria universidade, que poderia perder as bolsas.

"A luta é pela universidade pública. Se hoje ela ainda existe, isso se deve às greves realizadas nos anos 80 e 90", disse Leher, ex-dirigente da Andes.





Fonte: Agência Estado

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