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Internacional
Segunda - 23 de Maio de 2005 às 18:30

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A nova Constituição iraquiana não levará estabilidade ao país a menos que os rebeldes sunitas e outros grupos que não estão representados no governo recebam um papel político ativo, disse na segunda-feira o presidente do Parlamento.

"Ela não pode ser elaborada por uma comissão num Parlamento desequilibrado. Os sunitas árabes e os outros têm de receber um papel ativo, e não apenas ser consultados", disse Hajim al-Hasani numa entrevista.

"Se não fizermos isso, a Constituição com certeza fracassará. O Iraque será um reator nuclear. Os próximos passos políticos vão determinar se seguiremos na direção da estabilidade."

Os grupos que precisam ser inseridos no processo político incluem os rebeldes nacionalistas sunitas que combatem as forças lideradas pelos EUA e grupos como o movimento Sadr, batizado com o nome de um clérigo xiita anti-EUA, além de um grupo de clérigos sunitas que acusa milícias xiitas de matarem imãs sunitas, afirmou o parlamentar.

Hasani, cuja posição lhe dá papel decisivo na elaboração da Constituição pós-guerra do Iraque, prevista para os próximos meses, disse que se os grupos sunitas e xiitas rebeldes não forem atraídos para a construção do novo país a situação iraquiana vai se desestabilizar ainda mais.

"A opção militar não funcionará, e não se pode erradicar os sunitas, como fizeram com os curdos, que sofreram por 82 anos sob governos iraquianos, nem os xiitas", disse Hasani, que falou durante uma viagem à Jordânia.

"O diálogo nacional tem sido nosso lema nos últimos dois anos, e chegou a hora de transformá-lo em realidade. Há terrorismo, mas também há resistência, e não devemos ter vergonha de assumir isso", disse Hasani, um dos 17 árabes sunitas do Parlamento de 275 cadeiras. Os sunitas praticamente não participaram da eleição de janeiro que elegeu a assembléia.

Se os líderes políticos reconhecerem os insurgentes como uma resistência armada legítima contra a ocupação, talvez consigam convencer os rebeldes a depor as armas e agir como um braço político, revertendo o aumento nos assassinatos sectários registrado nas últimas semanas, afirmou.

"É inevitável que um braço político surja da resistência, assim como vimos em outras partes do mundo", disse Hasani, um islamista que morou nos Estados Unidos, exilado, e só voltou ao Iraque depois da guerra. Ainda não se sabe se o governo, dominado por xiitas e curdos, responderá ao apelo de Hasani para atrair os rebeldes à arena política.

Na mais recente onda de assassinatos sectários, um carro-bomba explodiu numa área xiita de Bagdá na segunda-feira, matando ao menos oito pessoas e ferindo cerca de 90.

Hasani disse que é injusto responsabilizar toda a comunidade sunita do Iraque pelos assassinatos, porque não se trata de um grupo único. "Sem evidências não se pode dizer quem está por trás dos ataques. Há quem queira o caos civil no Iraque, como os leais a Saddam Hussein."

Segundo ele, a questão do sectarismo tem de ser discutida abertamente. "Devemos tomar medidas práticas para chegar a um consenso e formar um pensamento nacional. Os norte-americanos não podem continuar falando com os setores individualmente, como se eles fossem Estados dentro do Estado iraquiano", disse ele.





Fonte: Reuters

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