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Internacional
Terça - 19 de Abril de 2005 às 18:04
Por: Daniel Trotta e Estelle Shirbo

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A Suprema Corte da Espanha sentenciou na terça-feira um ex-capitão da Marinha da Argentina a 640 anos de prisão por crimes contra a humanidade, condenando-o por atirar prisioneiros políticos de aviões durante a "guerra suja" na Argentina.

Adolfo Scilingo, 58 anos, foi colocado em julgamento na Espanha, o primeiro no país sob as leis que permitem o processo de crimes cometidos em outros países.

"Sem dúvida que essa é uma sentença histórica para um julgamento histórico. Estamos extremamente satisfeitos", disse Carlos Slepoy, advogado de vítimas que entraram com o processo.

"Essa é uma Justiça parcial para os 30 mil desaparecidos", disse Andrea Benites-Duomont, que foi sequestrada pelo Exército argentino.

O defensor público de Scilingo disse que seu cliente foi levado injustamente a responder por todas as atrocidades cometidas durante a "guerra suja" de 1976-83 por uma junta militar que combatia a insurgência esquerdista. Ele disse que apelaria da decisão.

Scilingo foi considerado culpado de ajudar a matar 30 pessoas em dois "vôos da morte" nos quais prisioneiros sedados e nus eram atirados dos aviões ao mar.

"Em uma brincadeira especialmente mórbida eles os fizeram (os prisioneiros) dançar músicas brasileiras", disse a sentença. Ela também detalhou como oficiais torturavam vítimas com choques elétricos que queimavam a carne em sessões conhecidas como "churrasco".

Scilingo recebeu 30 condenações de 21 anos de cadeia pelas mortes e cinco anos para cada uma das outras acusações. Porém, pela lei espanhola, ninguém pode permanecer mais de 30 anos na prisão. Os promotores haviam pedido uma pena de 9.138 anos.

A Anistia Internacional disse que a decisão "confirma a norma fundamental da lei internacional, de que todos os Estados têm jurisdição universal para julgar crimes contra a humanidade".

"Além disso, ela combate a impunidade que reina tradicionalmente na Argentina", disse um comunicado.

Scilingo, que foi à Espanha voluntariamente em 1997 para testemunhar, disse ao juiz Baltasar Garzón e a repórteres em dezenas de entrevistas que ele teve participação nos "vôos da morte", mas posteriormente desmentiu a história, disse que era uma mentira elaborada e clamou inocência.

Scilingo permaneceu sentado com sua cabeça abaixada enquanto a sentença era lida e depois foi retirado por guardas. Um homem na galeria gritou: "Assassino, apodreça na prisão".

A Suprema Corte da Espanha garantiu poderes para julgar suspeitos de genocídio, terrorismo ou tortura cometidos em qualquer lugar do mundo se vítimas espanholas estiverem envolvidas.





Fonte: Reuters

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