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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Quarta - 06 de Abril de 2005 às 22:20

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As exigências "curriculares" para alguém ser chefe da Igreja Católica sempre incluíram virtudes como a fé, a santidade e a compaixão. O papa João Paulo 2o. acrescentou um novo item nesta lista -- a habilidade de ser um bom comunicador.

Com sua experiência nos palcos, seu amor pelas viagens e o domínio de várias línguas, o pontífice era o porta-voz mundial da maior igreja do globo. João Paulo 2o. conseguiu manter a religião em destaque mesmo em países nos quais ela parecia estar em declínio.

Nos 26 anos em que esteve à frente da Igreja Católica, João Paulo 2o. mudou muito o papel do papa, tanto assim que dois pontífices de que os católicos mais velhos ainda se lembram -- o tímido e austero Paulo 6o. e o frio Pio 12 -- talvez não tivessem sido eleitos nessa era da mídia mundial.

"Quem quer que seja escolhido terá que ser capaz de se comunicar com um grande número de pessoas, com os meios de comunicação e com os não-católicos", afirmou o padre John Conley, da Universidade Fordham (EUA).

João Paulo 2o. elevou o nível de exigência ainda mais ao usar também meios não-verbais de comunicação, afirmou Conley. "Ele entedia muito profundamente como se comunicar por meio de gestos, com um sinal da cruz ou com um aceno."

"Grande parte do que era João Paulo 2o. estava na sua imagem, não apenas nas suas idéias", acrescentou o padre Gerard Fogarty, da Universidade da Virgínia (EUA). "Onde encontraremos alguém com o mesmo carisma?"

João Paulo 2o. lidava bem com os meios de comunicação mesmo antes de ser eleito papa, em 1978.

Para conseguir sobreviver durante a censura comunista quando era arcebispo de Cracóvia, na Polônia, o homem então conhecido como Karol Wojtyla enviava cópias de seus sermões para a rádio Europa Livre, em Munique, na Alemanha, de onde eram transmitidos por meio de ondas curtas para os poloneses.

João Paulo 2o. transformou-se em um verdadeiro cidadão midiático e global durante seu papado, tendo viajado 104 vezes para o exterior e tendo realizado grandes eventos de massa. Os papas anteriores raramente saíam do Vaticano.

Essa nova ênfase na comunicação representa uma faca de dois gumes para uma Igreja sempre atacada pela própria mídia e que possui poucos prelados com as habilidades do pontífice morto no sábado.

Os bispos dos EUA, por exemplo, onde a imagem do catolicismo viu-se abalada por um grande escândalo envolvendo o abuso sexual de várias crianças por padres, sabem que têm de viver com a mídia, para o bem e para o mal.

Essa relação desconfortável com os meios de comunicação ficou clara durante os encontros dos repórteres com cardeais que viajaram a Roma para o funeral de João Paulo 2o. Alguns sugeriram que os "príncipes da Igreja" deveriam parar de dar entrevistas a fim de não influenciar na escolha do próximo líder dos católicos.

"Há muita preocupação com não deixar a mídia dominar o período pré-conclave", afirmou uma autoridade da Igreja. "A impressão é de que isso está vindo de cardeais do Terceiro Mundo, para os quais a mídia é um monstro estranho."





Fonte: Reuters

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