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Politica Brasil
Segunda - 28 de Março de 2005 às 06:58
Por: Adriana Vandoni Curvo

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O mundo político é tão sedutoramente corporativista e ao mesmo tempo tão desgregado que comumente leva o político a confundir regras básicas. Talvez, se antes de se aventurarem na vida política, fizessem uma leitura, mesmo que superficial, de “O Príncipe” de Maquiavel, poderiam errar menos.

De início ele fala que um exército, composto dos soldados e de líderes, tem que confiar única e exclusivamente, no próprio exército. Deve ser auto-suficiente. Para Maquiavel, o exército que depende de mercenários que lhe vendam a luta é um exército vulnerável. Nesses casos, apenas com muita riqueza o líder conseguirá manter-se respeitado, mas, pelo poder de comprar armas e munições.

Na política isso pressupõe que um grupo político só se sustenta quando existe corporativismo, quando existe uma bandeira comum que os induza à confiança mútua. Não se concebe um grupo político sem uma bandeira ou sem a crença de que o seu líder luta pelos interesses de todos. Em situações onde esses fatores não estão bem resolvidos, onde não é sentido o empenho do líder, os “soldados” acabam por precisar buscar apoio em outros exércitos. Esse grupo político é mais que vulnerável, é marcado para se desintegrar.

Maquiavel descreveu a política amoral e sem escrúpulos. Era defensor de táticas severas e cínicas, porém, sabia exatamente a diferença entre o absolutamente leal e o absolutamente fiel.

Muitos erros políticos de hoje são oriundo dessa confusão entre o “soldado” absolutamente Leal – aquele que é franco, honesto, que denota responsabilidade para com os compromissos assumidos. Esses, quando se aliam a “politiqueiros”, invariavelmente, não tarda para serem desprestigiados. O absolutamente Leal a um líder inteligente e perspicaz é valorizado e só tem a contribuir.

O “soldado” absolutamente Fiel, aquele que não contraria a confiança nele depositada, que age com dedicação absoluta, porém, não a um líder, mas a um dono, pouco ou nada vale. Costumam confundir fidelidade com subserviência que por sua vez, não têm valor político algum, a menos que sejam usados em uma ou outra negociata e são deixados de lado por qualquer outro interesse que o líder possa ter. Vale lembrar que fiel é o cão. O absolutamente Fiel é mais facilmente descartado.

Essa é uma percepção que todos, ao terem a intenção de se integrar a um grupo político, devem ter em mente. Ninguém valoriza o outro, a mesmo que este se valorize. Se o líder entender que o soldado o pertence, não será preciso desprender nenhum esforço para mantê-lo próximo. Não existirá a conquista.

O comportamento de um político deve ser pautado, na auto-valorização e, sobretudo, no respeito. O soldado nunca deve perder o foco dos seus interesses e o líder, por sua vez, nunca deve subestimar a capacidade de percepção de um soldado.

Maquiavel defende a idéia de que um líder deve ser amado e temido. Para ele, o amor é um sentimento volúvel e inconstante, já o medo é um sentimento que não pode ser modificado tão facilmente.

Porém, e isto deve servir de alerta aos aspirantes a líder, ou em especial aos líderes que por falta de armas e munições estão fora de combate, um soldado que abandona o grupo político por alguma decepção com seu líder, o faz movido pelo ódio e este sentimento é o mais fiel e leal dos sentimentos.

Adriana Vandoni Curvo é economista, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ e pós-graduanda em Gerente de Cidades pela FAAP. E-mail: avandoni@uol.com.br




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