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Economia
Sábado - 19 de Março de 2005 às 11:23
Por: Paulo Cabral

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O mundo árabe parece estar no alto da lista de prioridades da política externa brasileira, cada vez mais orientada para a ampliação do número de seus parceiros comerciais.

Primeiro veio a extensa visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região, e em maio vai acontecer a Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Amércia do Sul e dos Países Árabes, em Brasília.

“Os 22 países árabes importam por ano cerca de US$ 230 bilhões, dos quais cerca de US$ 4,1 bilhões do Brasil”, diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Michel Alaby, que está no Egito liderando a delegação de 11 empresas e entidades brasileiras que participam da Feira Internacional do Cairo.

“Acredito que em dois anos seja possível aumentar o intercâmbio comercial para algo próximo de US$ 12 bilhões, com exportações brasileiras da ordem de US$ 7 bilhões.”

Mas Alaby admite que há barreiras complicadas que têm de ser cruzadas para que o potencial se concretize, começando pelo profundo desconhecimento que há no Oriente Médio a respeito da economia brasileira e as dificuldades no transporte – aéreo e marítimo – entre as duas regiões.

Fatores culturais

Mas, do lado brasileiro, os empresários também têm de se informar mais sobre os países árabes para que possam fechar bons negócios.

Quem já passou pela experiência de negociar com empresários árabes diz que fatores culturais têm de ser levados em conta.

“O empresário brasileiro brasileiro tem de ter paciência, porque pressa para fechar negócios é algo que não existe no mundo árabe”, diz o gerente de vendas da empresa brasileira Double Port, Reyadh Nassir Hanna, que participa da feira no Cairo..

“O empresário vai começar comprando um pouco para testar, mas, quando se desenvolve a relação de confiança e amizade, o árabe nunca mais vai abandonar aquele fornecedor.”

Henry Conronfly, um consultor da Sansuy, conta que passou mais de quatro anos fazendo contatos com uma empresa dos Emirados Árabes Unidos antes de começar a exportar para o país os plásticos que a sua empresa produz no Brasil.

“Quem quiser fazer negócios com os países árabes tem que começar visitando as embaixadas e aprendendo sobre como funcionam os negócios por aqui”, afirma Conronfly.

“O Oriente Médio, como todas as regiões do mundo, tem suas características particulares que precisam ser respeitadas, e as empresas brasileiras devem entender que mesmo algumas modificações nos produtos podem ser necessárias para que a exportação prospere.”

Carne

Um bom exemplo disto é o comércio da carne entre o Brasil e o Egito, que neste ano se tornou o principal comprador do produto no Brasil. Nos países muçulmanos o abate dos animais tem de ser feito de um modo especial, respeitando orientações religiosas que resultam na chamada carne Halal.

Para conseguir exportar, os abatedouros e frigoríficos brasileiros têm de conseguir a certificação da Federação Muçulmana do Brasil.

Além da carne, a soja, o minério-de-ferro e outras commodities dominam a pauta de exportações do Brasil para o Oriente Médio.

Há também produtos de maior valor agregado, como sapatos, chassis de veículos e máquinas agrícolas, mas ainda em volumes menores.

“É importante que a gente consiga aumentar também as exportações de produtos com mais valor agregado. Isso passa pela criação de conselhos empresariais e pela ampliação dos contatos entre companhias nos dois lados”, diz Alaby.

Egito

Entre os países do Oriente Médio, o Egito está entre os que recebem atenção especial, por se tratar da maior economia da região e uma potencial ponte para outros mercados.

“O Egito pode e deve ser uma porta de entrada para o Brasil no Oriente Médio, na África e até na União Européia. Há vários acordos de livre comércio dos quais o Brasil pode se beneficiar, se fizer mais parcerias com o Egito”, diz o conselheiro comercial da Embaixada egípcia no Brasil, Mahmoud Bakri.

Bakri diz que gostaria de ver empresas brasileiras participando de joint ventures para produzir no Egito e vender em outros países.

Mas ele diz que também espera que o Brasil aumente também as compras de artigos produzidos no Egito.

“O Brasil importa US$ 9 bilhões em petroquímicos por ano, e uma parcela maior disso poderia vir do Egito. Nós também somos grandes produtores de fertilizantes dos quais o Brasil é importador", diz Bakri.

“Acho que desde 2003 inauguramos uma nova etapa nas relações comerciais entre o Brasil e o Egito e espero que a cúpula (dos Países Árabes e América Latina, em maio, no Brasil) ajude a aumentar o contato entre nossas regiões. Do mesmo modo que o Egito pode ser um portal para o Brasil, também queremos que o Brasil nos ajude a chegar ao resto da América do Sul.”

Bakri osbervou que está em negociação um acordo de livre comércio entre o Egito e o Mercosul.

Importações

Mas, por enquanto, a balança comercial entre Brasil e Egito pende fortemente a favor dos brasileiros. No ano passado, o Brasil exportou cerca de US$ 650 milhões para o Egito e importou cerca de US$ 35 milhões.

O embaixador brasileiro no Cairo, Elim Dutra, diz que uma situação assim não é tão positiva quanto possa parecer à primeira vista.

“O ideal é que o comércio exterior seja sempre mais equilibrado. Entre outros motivos, porque empresas que trabalham com exportação também costumam importar, e o transporte é otimizado quando o fluxo existe nos dois sentidos”, diz o diplomata.

“Nossa obrigação é também mostrar o Brasil para os empresários egípcios, para que eles conheçam as verdadeiras dimensões da nossa economia e percebam as grandes oportunidades de negócios que há.”

O embaixador observa que o presidente egípcio, Hosni Mubarak, deu sinais de que pretende comparecer à cúpula em maio. “Se o presidente de fato for, vamos ter a oportunidade de levar também um grupo de empresários para conhecer o país.”

Do lado brasileiro, uma das principais inseguranças na hora de fazer negócio com o Oriente Médio diz respeito à percepção de instabilidade na região.

Mas Nassir Hanna diz que isso não impede que possam ser feitos bons negócios.

“O Oriente Médio importa de tudo e mesmo com a guerra as pessoas têm de continuar comendo e se vestindo. O Iraque, por exemplo, continua importando e vai importar cada vez mais”, afirma Nassir Hanna.




Fonte: BBC Brasil

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