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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 18 de Março de 2005 às 21:02

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Os bolivianos assistiram atônitos seu presidente, Carlos Mesa, anunciar sua renúncia duas vezes em duas semanas, para mudar de idéia logo em seguida. Alguns já começam a brincar dizendo que o ex-jornalista, considerado o "Larry King da Bolívia", simplesmente está gostando de ficar sob os holofotes mundiais.

Mas há também uma séria motivação para as idas e vindas de Mesa. Um massificado e às vezes violento movimento indígena paralisou a economia com seus protestos e fez a política parecer um espetáculo secundário.

Entretanto, ao anunciar de forma dramática, à meia-noite de quinta-feira, que permaneceria no cargo, Mesa pode ter dificultado enormemente o cumprimento de seu mandato, até 2007.

"Ninguém mais acredita no que ele diz. Não acho que Mesa ainda tenha credibilidade depois disso", disse o analista político Jorge Lazarte. "Não vejo como ele pode continuar".

A decisão de ficar no cargo foi anunciada após um exaustivo debate no Congresso na quinta-feira. Os parlamentares não se cansaram de zombar dele como sendo uma "rainha do drama" e um "narcisista". Um deputado o chamou de "hormonal", enquanto outro disse: "Daqui a pouco ele virá até nós para pedir ajuda em sua vida amorosa". Na hora de votar, deputados e senadores rejeitaram a proposta de Mesa de antecipar as eleições presidenciais para agosto.

No final da noite, após horas de reunião com autoridades civis, militares e eclesiásticas, o presidente surgiu na TV. Parecia exausto, tinha profundas olheiras e dava a impressão de estar totalmente inseguro da sua decisão de permanecer.

"Não vou fugir das minhas responsabilidades", disse Mesa, e 51 anos. "Não faz sentido entregar o poder agora. Não resolveria a crise".

Governar o país mais pobre da América do Sul é sabidamente difícil. O próprio Mesa lembrou, na semana passada, que a Bolívia teve quase um presidente por ano em cerca de 180 anos de independência.

Mesa assumiu a Presidência em outubro de 2003, quando Gonzalo Sánchez de Lozada, de quem ele era vice, fugiu do país durante uma revolta indígena semelhante à atual.

Os protestos mais recentes se dirigem contra a proposta de Mesa de abrir o setor energético a mais investimentos estrangeiros. Somam-se a isso um sentimento antiamericano e a forte discriminação que os indígenas sofrem por parte da elite branca.

Em El Alto, um subúrbio pobre de La Paz que é o epicentro das manifestações, a maioria da população gosta do presidente — cuja popularidade no país supera os 60 por cento, segundo as pesquisas -, mas consideram que ele não está dando conta do recado.

"Ele parece um bom sujeito, mas não acho que alguém consiga controlar o que está acontecendo agora na Bolívia. Há muitos de nós que querem uma solução para a pobreza", disse Policarpio Machaca, de 27 anos, um indígena aimara que vive em uma casa sem água corrente.

Mesa disse na quinta-feira que foi incentivado a ficar pelo fato de os indígenas terem removido as rochas e troncos que bloqueavam várias estradas do país, causando escassez de alimentos nas cidades e prejuízos milionários para as empresas.

O presidente prometeu não usar "uma só bala" para romper os bloqueios e renunciar se houver derramamento de sangue. Mas, se valer a tradição, a trégua será curta. "Suas chantagens e suas ameaças de renuncia não mudam nada", disse o deputado indígena Evo Morales, maior adversário do presidente. "Ele está só sendo dramático, como é usual. A Bolívia ainda é um problema gigantesco que precisa ser resolvido".




Fonte: Reuters

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