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Politica Brasil
Sábado - 12 de Março de 2005 às 23:26

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São Paulo - O Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou neste sábado uma nota de repúdio à reportagem publicada neste fim de semana pela revista Veja sobre as supostas ligações do partido com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) durante as eleições no Brasil de 2002.

Segundo a revista, documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) mostram que a organização colombiana teria financiado indiretamente campanhas petistas no período. Em documento assinado pelo presidente nacional do PT, José Genoino, a legenda qualificou a reportagem como "irresponsável", por estampar em sua capa um "ataque à honra do partido sem provas consistentes".

"Consideramos a reportagem da revista Veja, pelo motivos apresentados, uma agressão à verdade dos fatos, à honra do Partido dos Trabalhadores e à ética jornalística. Aventuras deste naipe prejudicam a vida democrática de nosso País", diz Genoino, em nota veiculada no portal do partido na internet. "O Partido dos Trabalhadores não tem e jamais teve relações financeiras com as Farc. Tampouco apóia, no país vizinho, qualquer saída para a longa situação de beligerância vivida pelos colombianos que não esteja baseada em um acordo democrático, pacífico e constitucional", frisou o líder petista.

Na reportagem intitulada "Tentáculos das Farc no Brasil", a revista Veja destaca que, "sob a condição de não reproduzi-los", teve acesso a seis documentos da Abin sobre as supostas relações entre organização colombiana e petistas simpatizantes do movimento. Dos seis documentos citados, três fariam menção explícita a uma doação de US$ 5 milhões. A revista admite que não conseguiu apurar se a doação foi realmente feita, mas alega que o documento da Abin dá a doação como certa e detalha, inclusive, a forma de pagamento: o dinheiro teria saído de Trinidad Tobago e chegado às mãos de 300 pequenos empresários brasileiros "amigos do PT" que, na seqüência, teriam doado o dinheiro aos comitês regionais da legenda como se fossem contribuições próprias.

Segundo Genoino, os fatos teriam sido apurados com "irresponsabilidade" e "sem evidências ou provas sustentáveis". No documento à imprensa, ele reiterou a posição do partido contra o terrorismo e argumentou que o PT não aceita interferências de governos ou grupos de fora do Brasil de qualquer procedência. "O PT tem posição histórica contra o terrorismo de Estado ou de grupos armados. No mais, são inumeráveis as provas de que a política do PT é marcada pelo respeito à auto-determinação dos povos e à soberania das nações, a partir de uma política de não ingerência nos assuntos internos de cada país".

Segundo a reportagem, a promessa de doação teria sido feita em abril daquele ano durante um churrasco em uma chácara nos arredores de Brasília pelo padre Olivério Medina, qualificado pela revista como embaixador das Farc no Brasil. A revista informa não ter sido possível comprovar a doação ou o recebimento do dinheiro e nem a participação dos dirigentes do partido naquela reunião. "É mais uma da Veja contra o PT", reclamou Genoíno. "Suas conclusões são desconstituídas pela própria matéria e, portanto, o PT repudia com indignação essa tentativa insinuante de atacá-lo e duvida dos reais objetivos desse ataque", disse o petista ao Estado. "O PT sempre defendeu a democracia e os direitos humanos."

A reportagem da revista chegou a ser comentada, nesta sábado, durante o churrasco oferecido pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, na Granja do Torto, a ministros e ex-jogadores que participaram com ele, pela manhã, de uma partida de futebol. Mas, segundo o governador do Acre, Jorge Viana (PT), que esteve no encontro, não causou preocupação. "Todos estamos tranqüilos em relação a isso", disse o governador, que classificou a matéria de "café requentado".

O líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), assumiu uma atitude moderada em relação à reportagem. "A notícia requer uma avaliação mais detalhada e ainda é cedo para pedir que sejam tomadas medidas", ponderou. Goldman disse que poderá propor a presença do diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo de Lima e Silva, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara para que ele possa dar detalhes sobre o assunto. "Seria uma medida natural", observou.

José Genoino afirmou desconhecer qualquer articulação de setores do partido com as Farc, e até mesmo que no partido haja simpatizantes da organização guerrilheira. "Eu nunca soube de nada, é só especulação e as pessoas citadas sequer são do PT." A revista informa que um dos presentes à reunião era o vereador Leopoldo Paulino, na ocasião secretário de Esportes do então prefeito de Ribeirão Preto, o atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Paulino foi guerrilheiro na Aliança Libertadora Nacional (ALN) e é filiado ao PSB.

Jorge Vianna também ressaltou que o PT não tem relação com as Farc. "Agora, se um filiado, ou um brasileiro, teve, é problema para a polícia investigar. Se o PT identificasse algo parecido, essa pessoa seria expulsa a no PT", disse.

O líder da bancada petista na Câmara, Paulo Rocha (PA), disse não ter nenhum conhecimento do assunto, nem mesmo do discurso feito há dois anos pelo deputado Alberto Fraga (PTB-DF), solicitando uma CPI para investigar o caso. Fraga, segundo a Veja, foi abordado pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que questionou a existência de provas e comunicou a ele que o governo do PT pretendia processá-lo. Segundo a revista, Fraga blefou e assegurou ter testemunhas dispostas a depor em juízo.

Os relatórios dos agentes teriam chegado ao então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Abin, general Alberto Cardoso. Além do general, a informação pode ter chegado ao ex-presidente Fernando Henrique, pois, segundo a revista "seu conteúdo tinha consistência suficiente para ser levado ao presidente da República."

O ministro da Secretaria de Governo e Gestão Estratégia, Luiz Gushiken, disse ontem em São Paulo que não vê nenhuma ligação entre o PT e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Apesar de ressaltar que desconhecia a matéria, Gushiken assegurou: "Não tem absolutamente nenhuma procedência." "Não vejo nenhuma ligação do PT com as Farc. Se algum indivíduo que é filiado ao PT tem alguma relação, isso não tem controle."

Gushiken negou ainda que o episódio possa ter algum reflexo para o governo. "Isso não afeta a ligação com o governo até porque não teve nenhum tipo de ligação com essa área", afirmou. O ministro veio a São Paulo proferir aula magna do curso de pós-graduação em Comunicação Pública da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).




Fonte: Agência Estado

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