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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sábado - 05 de Março de 2005 às 21:30
Por: Javier Aja

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Pressionado pelo suposto envolvimento do Sinn Fein em roubos, assassinatos e lavagem de dinheiro, o presidente do partido, Gerry Adams, criticou neste sábado o compromisso de Londres, Dublin e dos unionistas com o processo de paz.

Adams lançou essa mensagem no ano do centenário do Sinn Fein, diante de mais de 2 mil correligionários presentes em sua conferência anual, entre eles as irmãs de Robert McCartney, cujo assassinato, em 30 de janeiro, foi atribuído a membros do IRA (Exército Republicano Irlandês).

No momento em que seu partido vive uma de suas piores crises, Adams preferiu atacar os outros participantes do processo norte-irlandês e defender, por outro lado, a honestidade do movimento republicano.

Com essa manobra, o líder nacionalista escapou, por enquanto, da pressão a que foi submetido pelos governos britânico e irlandês, que exigem que use sua influência para conseguir o fim das atividades paramilitares e criminosas de seu braço armado, o IRA.

O discurso de Adams, transmitido ao vivo pela televisão irlandesa, estava destinado a levantar a moral do partido, imerso na pior crise desde a assinatura do histórico acordo da Sexta-feira Santa (1998). Seu discurso foi recebido, interrompido e encerrado pelos aplausos de um público entregue ao carisma e à autoridade de seu líder.

Além disso, Adams quis conter os ânimos de parte da comunidade católica do Ulster, ao convidar para a conferência a família do norte-irlandês Robert McCartney, que também foi recebida com aplausos.

O presidente do Sinn Fein, que suspendeu na quinta-feira sete membros do partido supostamente relacionados com o assassinato de McCartney, classificou o crime de horrível e pediu a seus autores para "admitirem sua culpa em um tribunal de Justiça".

No entanto, advertiu que não permitirá ao governo irlandês que incrimine o partido nem o IRA. "Também não permitiremos que membros do movimento republicano incriminem o partido ou nossa luta", acrescentou.

O assassinato de McCartney colocou parte dos nacionalistas do Ulster, tradicionalmente republicanos, contra o IRA e o Sinn Fein, um fato sem precedentes, que contribuiu para acentuar a crise do partido.

"Não é o momento de olhar para baixo - disse -, é o momento de olhar para frente. Nossos oponentes têm um plano agora. Digam o que disserem, não tentam abordar assuntos de criminalidade, mas desgastar nossa integridade e credibilidade".

Em poucas semanas, Adams passou de político mais popular da ilha, na frente do primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern, para o menos apreciado, devido a uma série de escândalos que abalaram o partido desde o fracasso da negociações de paz no final de 2004.

Londres e Dublin chegaram a acusar o Sinn Fein e o IRA de roubarem cerca de 38 milhões de euros de um banco de Belfast em dezembro, ação que questiona o cessar-fogo decretado pelo grupo terrorista em 1997.

No entanto, Adams garantiu que o Sinn Fein usou sua influência com o IRA de maneira positiva e que continuará fazendo isso, embora tenha ressaltado que não poderá alcançar a paz sem a contribuição dos outros protagonistas do tortuoso processo de paz.

"Os governos britânico e irlandês e os unionistas - prosseguiu - devem colocar seu grão de areia. Mas aconteça o que acontecer, o processo de paz é nossa prioridade".

Na opinião de Adams, ambos os Executivos cederam às demandas do líder do majoritário Partido Democrático Unionista (DUP), o reverendo Ian Paisley, a quem perguntou se está disposto a compartilhar o governo do Ulster com o Sinn Fein.

Paisley rejeitou em dezembro uma proposta de Londres e Dublin encaminhada a restaurar a autonomia da província, suspensa desde outubro de 2002 por um suposto caso de espionagem do IRA em Stormont, sede da assembléia norte-irlandesa.

Antes de sentar-se com o Sinn Fein no executivo do poder compartilhado entre católicos e protestantes, o reverendo exigiu ao IRA que fotografasse a destruição de seus arsenais e acabasse com suas atividades criminosas.

Os republicanos rejeitaram o assunto das fotos por considerá-lo humilhante e, embora tenham negado e continuem negando a criminalidade do IRA, os demais envolvidos denunciam que o grupo e o Sinn Fein ainda não estão comprometidos com as políticas exclusivamente democráticas e pacíficas.

Em qualquer caso, a intransigência de todas as partes envolvidas aponta a um prolongado período de paralisias no processo de paz da Irlanda do Norte.





Fonte: EFE

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