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Economia
Quarta - 02 de Março de 2005 às 17:07
Por: Iara Falcão

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Brasília - O aumento da concorrência entre os bancos é citado pelos analistas como um importante fator para baixar o spread bancário, que é a diferença entre a taxa de juros que o banco paga ao captar recursos e a que cobra ao resgatar os empréstimos dos tomadores. Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado em fevereiro deste ano, os dez maiores bancos brasileiros oferecem ¾, ou 75% do crédito disponível no País. Para alguns analistas, essa concentração eleva os juros cobrado na ponta ao tomador final, aumentando o spread.

"É a lei da oferta e da procura. Se você tem uma redução da oferta do produto, no caso o crédito, a tendência é que o preço desse bem, desse serviço – o crédito – aumente.", explica o professor de Ciências Contábeis e Autuariais da Universidade de Brasília, Roberto Piscitelli. Para ele, a política econômica deveria favorecer a concorrência. "Acho que existe pouca agressividade por parte do Estado, através de suas instituições financeiras públicas, que deveriam atuar de forma mais concorrencial com as entidades privadas. Acho que deveriam oferecer mais crédito, modalidades mais variadas e melhores condições", analisa. Piscitelli também afirma que estimulando instituições do tipo cooperativa seria possível democratizar o crédito.

O analista financeiro da ABM Consulting também defende a necessidade de se desenvolver uma política de aumento de crédito. "O Brasil teria que aumentar muito o crédito, para ter ganhos de escala, para poder oferecer um crédito mais barato", explica. O mecanismo para aumentar o crédito na opinião de Pedreira é mexendo na taxa de juros. "É a política mais eficiente e mais rápida para se ter aumento de crédito.", calcula. Mas adverte: "Tem que ser de maneira gradativa e com cuidado para não causar nenhum transtorno na economia de uma hora para outra".

Outro fator apontado pelos analistas para ajudar a baixar o spread bancário no Brasil é a nova Lei de Falências, que promete ter impacto na inadimplência. "O Judiciário ainda favorece o devedor em detrimento do credor. Isso encarece ainda mais as taxas de juros na ponta. Com a aprovação recente da lei de falências que dá algumas prioridades com o objetivo de corrigir essas distorções, a gente vai ver a médio, longo prazo, uma contribuição do marco regulatório com relação à taxa de juros", esclarece o professor da Fundação Getúlio Vargas em Brasília, Jandir Feitosa.

Gustavo Pedreira frisa que a nova lei não terá impacto imediato. "O impacto dela no spread vai ser pequeno e ao longo dos anos, porque é um processo um pouco lento", prevê. Roberto Piscitelli não está muito confiante. "É mais um instrumento disponível. Afirmava-se também que a aprovação dessa lei possibilitaria uma redução do chamado risco Brasil. Muitas vezes a gente lança mão de certos argumentos quando tenta pressionar pela aprovação de alguma medida. Na verdade, é muito tênue essa relação de causa e efeito entre uma coisa e outra.", declara.

Na avaliação do economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, "é necessário aumentar as garantias para quem fornece o crédito". Segundo ele, existe muita competitividade no setor bancário no Brasil e para reduzir o spread é preciso baixar os custos e os riscos do crédito, como a redução dos impostos, dos créditos direcionados e do compulsório (quantia obrigatoriamente recolhida dos bancos pelo BC).

Para Feitosa, da FGV, uma questão importante que deve ser considerada é a melhora da economia como um todo e a diminuição do déficit do governo. "À medida em que a economia vai crescendo, e que o desemprego vai se reduzindo, as empresas vão podendo ampliar seu planejamento. E o governo reduzindo sua necessidade de financiamento, é natural que os spreads venham caindo". Feitosa também destaca o papel de um marco regulatório para o setor, das cooperativas de crédito e do microcrédito. "Ampliando essa concorrência, vamos ver o spread cair".

O professor ainda acrescenta que a cultura do brasileiro de financiar em vez de poupar contribui para manter os spreads altos. "O que a gente observa é que pessoas que teriam uma capacidade maior de poupança, não o fazem. Imagina as que não têm. Isso é uma questão cultural. A gente tem que aprender a juntar para adquirir determinados bens, ao invés de financiá-los. Aí sim, temos uma componente de mercado que vai contribuir para a redução dos spreads na ponta."

O conjunto dessas medidas, segundo Feitosa, acarretaria a diminuição dos spreads. "O importante é fazer o dever de casa, essas reformas microeconômicas do mercado de capitais, transparência, qualidade e confiança, que atrai investidores. Então haverá um fluxo de recursos fantástico, as pessoas vão se sentir mais seguras na gestão de suas poupanças. E o governo, se reduzisse significativamente sua demanda de recursos junto ao mercado privado, o spread cairia naturalmente".





Fonte: Agência Brasil

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