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Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Terça - 01 de Março de 2005 às 10:43
Por: Spensy Pimentel

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Montevidéu - O intendente de Montevidéu (cargo próximo ao de prefeito no Brasil), Mariano Arana, ocupará a pasta de Habitação, Ordenamento Territorial e Meio Ambiente no novo governo de Tabaré Vázquez que toma posse neste primeiro de março. Dentro da Frente Ampla, representa a chamada Vertente Artiguista, mas é uma figura tida como independente, tendo expressão como empresário do setor editorial e professor universitário. Arana concedeu entrevista exclusiva à Agência Brasil alguns dias antes do novo presidente tomar posse.

Mariano Arana assumiu a intendência de Montevidéu em 1995, logo depois que Vázquez declinou da reeleição para lançar-se candidato à presidência. Vázquez tinha sido o primeiro socialista a ocupar um cargo executivo no Uruguai, quando se elegeu em 1989. As eleições para a intendência de Montevidéu acontecem daqui a três meses e são consideradas um primeiro teste político para o governo Vázquez.

A intendência é uma instituição mais ampla que uma prefeitura, mas tampouco corresponde a um governo estadual. De qualquer forma, Arana ocupa um dos cargos mais importantes do país, já que metade dos 3,4 milhões de uruguaios vivem na região da capital.

Agência BrasilO senhor disse que no Brasil tem amigos pessoais e muito queridos. O que diria a eles?

Mariano AranaEstamos atuando. Agora estamos concluindo o segundo período do governo municipal na capital uruguaia, trabalhando intensamente com uma equipe que nos permite conectar de forma periódica a nossos vizinhos, através de um sistema descentralizado que vem se aperfeiçoando através de algumas experiências recentes, como é o caso de Porto Alegre e de outras cidades tão próximas como Barcelona. Creio que para os movimentos progressistas que oferecem outras possibilidades e alternativas, temos que manter contatos muito estreitos com aquilo que possa significar transformações que beneficiam a maioria da nossa população, privilegiando os setores menos beneficiados, os mais frágeis, tanto do ponto de vista social como econômico.

Agência BrasilExiste também uma aposta na integração regional do ponto de vista das cidades?

Mariano AranaSim, está clara essa opção. Temos impulsionado-a, inclusive, desde o governo municipal de Montevidéu. Como o fizemos? Desde um âmbito puramente local, puramente municipal, o fizemos através do impulso do que designamos Mercocidades, que este ano completa dez anos. Lá, desde o início participaram Porto Alegre, Buenos Aires, Assunção, Rosario, Montevidéu, entre outras cidades. Hoje, o Mercocidades já tem 130 cidades importantes, médias e pequenas também, que não pertencem só a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, senão também ao Chile, Bolívia e agora, recentemente, ao Peru. É o caso de Lima, por exemplo, que solicitou sua inclusão nessa rede, que de algum modo está tratando de consolidar essa vocação integracionista, o que na minha opinião pode beneficiar a nossa população.

Agência BrasilComo será a relação com o Mercosul no novo governo?

Mariano AranaSempre dizemos que o Mercosul não somente tinha que ser uma integração comercial importante, senão que transcenda essa visão puramente economicista, para transcendê-la com relação a uma proposta produtiva e de alta sensibilidade social, procurando desenhar os instrumentos e os mecanismos de compensação para as notórias desigualdades que ocorrem entre nossos países. Veja, não só no caso de Montevidéu, mas de todo o Uruguai: do ponto de vista populacional, é só um bairro de São Paulo. Notoriamente há assimetrias, mas quando há vontade para que se consiga propósitos confluentes, há sempre mecanismos para tratar de mitigar os problemas e potenciar as fortalezas convenientes para nossa gente e nosso futuro.

Agência BrasilQue pensa dos que defendem outras formas de integração em detrimento do Mercosul?

Mariano AranaBom, nas democracias, as opiniões não estão controladas, e infelizmente também não se proíbe a explicação de cada um dos pensamentos. Dessa mesma maneira, uma das formas de reflexão é considerar as opiniões atendendo a multiplicidade de fatores que podem estar motivando e condicionando. Nem tudo o que aparece publicado, nem tudo o que se difunde através dos grandes meios de difusão em massa no continente e no mundo estão sempre referendados pela razão, sempre pensando que dificilmente há uma única razão ou uma única verdade. Em todo caso, os meios de difusão deveriam estar explicitando a multiplicidade de razões, "a multiplicidade de verdades" que podem estar incidindo nas decisões, assim como na multiplicidade de interesse que possam estar motivando algumas opiniões e argumentações. É notório que alguns preferem priorizar outras formas de integração que não são as latino-americanas e as concretamente "mercosulianas". Posso respeitar essas posturas, mas não as compartilho. Estamos apoiando calorosamente o Mercosul, tratando de privilegiar as relações do Mercosul com a União Européia, mas sabendo que temos que, através da integração regional, comunicar-nos com o resto do mundo, com a maior abertura possível, compatível com os interesses populares de cada um dos nossos países.

Agência BrasilMesmo que outras relações surjam, o Mercosul seria priorizado?

Mariano AranaSempre expressamos publicamente e reitero agora: das opiniões presentes, sem dúvida, optamos pelo Mercosul como prioridade. As relações com outras coordenações do continente ou fora do continente podem se estabelecer sempre, mantendo a maior coesão desta integração do Mercosul. No nosso caso, no Uruguai se abre uma nova expectativa porque temos conseguido o triunfo de nossa força política em nível nacional, em um triunfo histórico e rotundo que permite estabelecer confluências até pouco tempo inexistentes nas duas vontades que se expressavam em Montevidéu. Refiro-me a Montevidéu, porque tem um peso específico importante, falando de índices populacionais muito baixos com relação à Argentina e principalmente ao Brasil. Não há dúvida de que a porcentagem de uma população que está incidindo em 42 ou 43% em relação à população total do Uruguai tem um peso inegável. Estou otimista com a posse de Tabaré Vázquez como presidente. As confluências de critérios, como a que sustentamos no âmbito municipal, a respeito das propostas que fez na campanha eleitoral o próprio presidente eleito, terão uma ordem de confluências importantes, o que gera novas expectativas.

Agência BrasilNo campo do direito internacional, como o Uruguai deve atuar?

Mariano AranaBom, um país pequeno como Uruguai, o que tem que fazer é apostar na vigência do direito internacional tão prejudicado no último período, fundamentalmente por ações absolutamente aventureiras e incompatíveis e claramente alheias à ética e ao direito internacional. Estou falando do terror que significa para nós falar de guerras preventivas, o que me parece sinal de barbárie. Nem guerras preventivas, nem assassinatos seletivos, isso é um espanto, alheio a toda ética.

Agência Brasil Montevidéu como capital do Mercosul. Continuará esse projeto iniciado durante seu governo naquela capital?

Mariano Arana Tenho dito várias vezes porque creio que é uma expressão eloqüente do nosso pensamento, tenho tentado explicar publicamente em nível internacional o que temos proposto desde o governo municipal de Montevidéu: tratar de transformar nossa cidade em algo assim como a Bruxelas do Mercosul, que tem apoio dos governos de Argentina e Brasil. Isso pode beneficiar um país pequeno como Uruguai e uma cidade capital dentro dele, para o qual o primeiro gesto que tivemos foi oferecer ao Estado uruguaio, não ao governo, do qual éramos profundamente rivais, uma sede, pertencente aos montevideanos, monumento histórico, por outra parte para que pudesse ser a sede administrativa e que no futuro possa se converter na imagem, na concretização visível regional, em um enclave muito atraente, muito hierarquizado, em frente à praia Ramírez, junto ao parque Rodo e a outra série de edifícios muito próximos ao centro. Agência BrasilO Uruguai apóia a presença militar no Haiti?

Mariano Arana Alguns setores se opuseram à presença do Uruguai naquele país. Pessoalmente, acho razoável o nosso apoio junto com o do Brasil em contribuir para fortalecer a paz. É um país amplamente vulnerável por interesses inconfessáveis tanto do ponto de vista econômico, político, estratégico e militar de potência poderosa. E estou falando do século XIX até hoje.





Fonte: Agência Brasil

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