Especial 10 - Banco comunitário no Ceará incentiva economia solidária

Brasília - A comunidade do Conjunto Palmeiras, na periferia de Fortaleza (CE), fundou há sete anos um dos projetos de economia solidária mais bem sucedidos do país: o Banco Palmas. Agora, a comunidade almeja vôos mais altos. A intenção é criar uma cooperativa de crédito urbano e outros 10 bancos comunitários em municípios do interior cearense. De acordo com o coordenador do Banco Palmas, Joaquim de Melo Neto, o banco vai se unir à cooperativa PalmaCoop para alavancar os empreendimentos das comunidades.

A PalmaCoop fará a capacitação dos sócios e a elaboração do plano de negócios. Até o final de fevereiro de 2005, o Banco Central (BC) receberá um pedido de autorização para o funcionamento da instituição. "Temos a esperança que seja autorizado logo. Mas se, até maio, isso não acontecer vamos organizar uma caravana para pressionar órgão a atender o nosso pedido", diz. Para ele, o BC parece não ter interesse na criação dessas instituições.

O associado do Banco Palmas, Izimário Nobre, de 22 anos, espera que o projeto dê certo. Isso porque, em 2001, ele e outros quatro amigos decidiram apostar no primeiro emprego – e negócio próprio - usando R$ 4 mil do Banco Palmas. Segundo ele, sem o apoio da instituição, a criação de sua fábrica de produtos de limpeza não seria possível. "Ficaria inviável. Não iria conseguir de jeito nenhum porque não tinha créditos nem experiência", relata.

Caso semelhante aconteceu com Maria de Lourdes Batista, de 40 anos. Ela estava desempregada quando concluiu o curso de corte e costura em 2001. Pediu um empréstimo de R$ 400 no Banco Palmas e comprou uma máquina, em que passou a costurar para sócios da cooperativa. Em pouco tempo, já coordenava o trabalho de três mulheres. Hoje, após três empréstimos, ela emprega oito pessoas com média salarial de R$ 400. "É meu empreendimento, onde trabalho com dignidade e ofereço empregos para outras pessoas", acentua.

Já a viúva e mãe de oito filhos, Maria Raimunda Machado, de 57 anos, passou por maus momentos quando toda a família ficou desempregada, também em 2001. Usou R$ 600 do empréstimo no Palmas para abrir um pequeno negócio de artesanato, e passaram a sobreviver com os bordados de fuxico (retalhos de tecido), feitos por Raimunda. "Recebo, em média, R$ 200 por dia. É o único dinheiro fixo que entra em minha casa", diz.

A cooperativa espera iniciar o projeto com um capital de R$ 30 mil proveniente de recursos dos associados. O objetivo é chegar a dois mil cooperados e cerca de R$ 500 mil em capital social até 2007. O projeto tem o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Joaquim Neto lembra que a formação de um banco comunitário como o Palmas é algo bem mais simples que a criação de uma cooperativa. Isso porque o banco alcança apenas pessoas da comunidade.