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Internacional
Segunda - 28 de Fevereiro de 2005 às 08:17
Por: Spensy Pimentel

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Montevideo – Trabalho, trabalho e trabalho. A importância de criar novas oportunidades econômicas para os uruguaios é a tônica do que se ouve pelas ruas da capital uruguaia na véspera da posse de Tabaré Vázquez. Na Avenida 18 de Julho, no centro de Montevideo, os cartazes que chamam para a comemoração pública da assunção do "governo do povo" também estão por toda parte, bem como as pichações dando as boas-vindas aos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Fidel Castro, de Cuba. Fidel aguardará em Buenos Aires até que Vázquez receba a faixa presidencial. Só então se deslocará para Montevideo.

O atual governo, de Jorge Battle, está de relações rompidas com Cuba. "Para essa festa, vem gente que há muito tempo não pisava por aqui", comemora o taxista José Paz. "A situação está brava", comenta o vendedor de artesanato Ricardo Rios, em relação ao desemprego. "Na verdade, em toda a América do Sul", completa ele, que só espera do novo governo "que nos dê trabalho". Entre as peças que Ricardo vende, estão cuias com o símbolo da Frente Ampla e a efígie de Vázquez, lado a lado com modelos que estampam bandeiras de clubes de futebol, ou a imagem de Che Guevara.

As muitas livrarias na avenida também expõem com destaque os livros sobre Vázquez e outras figuras da esquerda uruguaia, como Pepe Mujica e Líber Seregni. Além das revisões históricas, há álbuns fotográficos e guias práticos como o "Quem é quem no governo da esquerda", do jornalista Nelson Fernández. Nas bancas de jornal, numerosas revistas, jornais, fitas de vídeo e CD-Roms sobre a mudança de governo, concorrendo com as revistas de fofoca. "Se va la murga", estampa na capa a Caras y Caretas, comparando o fim do governo de Jorge Battle a um folguedo de Carnaval, festa que, por aqui, segue até o fim de fevereiro por toda a cidade: "Cantamos a despedida de Momo a ele (Battle) e a seu séquito de inúteis". "É o governo mais patético da história nacional", completa o texto.

Já há diversos vendedores de bandeiras e camisetas para a festa por toda a 18 de Julho. O desempregado Omar Vera é um deles. Ele conta que, até 2002, trabalhava para uma construtora, enquanto atende os fregueses que compram bandeiras do Uruguai ou da Frente Ampla, partido de Vázquez, Ao seu lado, com cuia, garrafa térmica e mate, está Hugo Florentino, desempregado há ainda mais tempo, 12 anos, desde que aderiu a um plano de demissão voluntária na Conaprole (Cooperativa Nacional dos Produtores de Leite).

Entre os vendedores ambulantes, não há bandeiras ou camisetas brasileiras, só uruguaias, cubanas ou venezuelanas. Os presidentes Lula e Kirchner, da Argentina, são lembrados apenas nos cartazes em que as centrais sindicais convocam o povo para a festa. Próximo a Tres Cruces, os moradores de rua chamam a equipe, quando nos vêem fotografando a pichação de boas-vindas a Fidel e Chávez. Um deles é negro, o outro tem feições indígenas. "É a hora!", grita Ricardo Paz Rodrigues, 56, que há 30 anos vive na rua. Ele saca do bolso um santinho de Vázquez e começa a contar: "Andei 500 quilômetros, até Maldonado, para votar nesse homem". "Ele é médico, sabe? Merecia ganhar. Já era hora. Esses outros roubaram, venderam tudo" explica Ricardo. "É a glória do Senhor", completa, a seu lado, Jorge Ferrera Olviedo, oito anos de rua e a expectativa de que as coisas serão diferentes a partir de quarta-feira.





Fonte: Agência Brasil

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