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Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 25 de Fevereiro de 2005 às 22:44
Por: Hernán Di Bello

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O caso das "malas voadoras", que começou como um simples caso de contrabando de drogas para a Espanha, transformou-se em um escândalo que afeta amplos setores da sociedade argentina, do governo às finanças passando pelos militares ou as relações exteriores.

Embora o envio de 60 quilos de cocaína de Buenos Aires a Madri tenha ocorrido em setembro passado, só foi conhecido há duas semanas e deixou em evidência uma série de questões pendentes que a Argentina deve revisar profundamente, segundo analistas consultados pela EFE.

A história foi revelada pelo jornal La Nación de Buenos Aires no último dia 13, mas desde então ocorreram mais casos de tráfico de drogas por avião, o que levou a imprensa do país a falar das "malas voadoras".

A companhia aérea local "Southern Winds" (SW), em um de cujos vôos viajaram quatro malas com cocaína da Argentina para a Espanha em setembro, ficou no olho de uma tempestade que também respingou sobre a Força Aérea e a Alfândega, entre outras instituições.

"Isto evidencia que é necessário fazer uma revisão sobre o papel do Estado, sobretudo no que se refere aos mecanismos de controle", afirmou o diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública, Roberto Bacman.

Pelo contrabando descoberto no aeroporto de Barajas, em Madri, há três argentinos detidos, todos ex-empregados de "SW", empresa que assegura ter sido "vítima de alguns delinqüentes", e um casal de aposentados espanhóis.

Após prometer que "irá ao fundo" no esclarecimento do escândalo, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, deslocou da chefia da Força Aérea o brigadeiro Carlos Rohde e acusou-o de ter escondido o caso do governo e do país.

Também destituiu o resto dos comandantes da instituição militar, suprimiu a Polícia Aeronáutica Nacional, que dependia da Força Aérea, e ordenou a criação de uma nova força de segurança para controlar os aeroportos argentinos.

Segundo o analista Rosendo Fraga, "parece que a inexplicável inércia oficial entre setembro e fevereiro agora quer ser compensada com a remoção da cúpula da Força Aérea sem que esteja clara sua responsabilidade".

Bacman se questionou por sua vez "por que se manteve a Polícia Aeronáutica durante tantos anos" e se "ninguém percebeu que era um resíduo da ditadura militar" que governou Argentina de 1976 a 1983.

Em outra das derivações do escândalo, o governo resolveu cancelar um acordo estratégico vigente desde 2003 entre a companhia estatal "Linhas Aéreas Federais" e "Southern Winds" que permitia à empresa privada receber grandes subsídios.

Nesse contexto, a oposição ao governo de Kirchner pediu a renúncia do ministro de Transporte, Ricardo Jaime, por seus supostos vínculos com a diretoria de SW, e denunciou esses vínculos à Justiça.

Jaime, cuja permanência no cargo foi várias vezes ratificada pelo governo nos últimos dias, negou que tenha pensado em renunciar e reiterou que não teve nem tem "nenhuma ligação" com o tráfico de drogas.

As malas com 60 quilos de cocaína levavam a inscrição "Embaixada Argentina na Espanha" e não foram reclamadas por nenhum passageiro no aeroporto de Barajas quando foram encontradas por um guarda civil espanhol.

O chanceler argentino, Rafael Bielsa, anunciou que será feita uma "inspeção sumária" na representação diplomática para determinar se seus funcionários estavam a par do contrabando e não informaram Buenos Aires imediatamente.

Por sua parte, Carlos Liporace, o juiz argentino que investiga o caso, disse que tentará determinar se a cocaína encontrada na Espanha é similar à que foi confiscada de dois cidadãos peruanos que estão sendo julgados na Argentina por tráfico de drogas.

O juiz fez estas declarações um dia depois que um funcionário da Alfândega da província de Córdoba revelou que entre finais de 2003 e meados do ano passado houve oito casos de narcotráfico de passageiros que viajaram por "SW" desde o Peru.

Bacman considerou que "por enquanto" este escândalo não afetará os altos níveis de popularidade com que conta Kirchner, que está há 21 meses no poder, embora tenha advertido que "se começar a se aprofundar muito o tema com o tempo pode começar influenciar".





Fonte: EFE

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