Publicidade
Repórter News - reporternews.com.br
Economia
Quinta - 24 de Fevereiro de 2005 às 20:00
Por: Iara Falcão e André Deak

    Imprimir


Brasília – Na base do sistema que permite aos bancos obterem grandes lucros crescentes a cada ano está uma conjuntura econômica favorável, resume o secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, Elcio Takeshi. "Não estão fazendo nada de ilegal, apenas aproveitando uma propriedade que o mercado brasileiro apresenta para eles".

Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, resume sua opinião sobre rentabilidade das instituições financeiras: "A melhor coisa do mundo é um banco bem administrado, a segunda melhor do mundo é um banco mais ou menos administrado, e a terceira melhor coisa do mundo é um banco mal administrado. Alguns até quebraram, mas foi por desvio de dinheiro, porque banco não dá prejuízo".

Uma das propriedades do mercado brasileiro é oferecer liberdade para que os bancos decidam quanto irão cobrar sobre cada tarifa – e, inclusive, decidir quais serão as tarifas existentes. Segundo Fernando Excel, da empresa de pesquisas econômicas Economática, apenas o ganho com receitas com serviços do Bradesco, por exemplo, incluindo tarifas, foi de R$ 5,8 bilhões. Roberto Piscitelli, professor de Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, afirma que "no caso de algumas grandes instituições, a receita com tarifas bancárias é superior à própria folha de pagamento dos salários".

Uma pesquisa da ABM Consulting, realizada com seis grandes bancos brasileiros, reforça a informação do professor. O estudo revela que as receitas com serviços bancários, incluindo tarifas, cresceram de R$ 4,8 bilhões em 1995 para R$ 19,2 bilhões, até setembro de 2004, e já correspondem a 113,4% do valor gasto com a folha de pagamento dos bancos.

O analista financeiro da consultoria Gustavo Pedreira ressalta que se trata de um fenômeno mundial. Essa, segundo ele, é uma porcentagem ainda menor, entretanto, do que a encontrada em países europeus e nos Estados Unidos. "A tendência é aumentar ainda mais a participação da tarifa na receita e a relação receita de serviço com despesa de pessoal", sinaliza.

As tarifas, entretanto, não são a única fonte de renda dos bancos. Segundo estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), os ganhos com a tesouraria dos bancos chegam a 36% do total dos lucros do sistema bancário. No estudo, "tesouraria" é a definição para ganhos com investimentos em compras de título do governo federal, que pagam as maiores taxas de juros do mundo ao investidor (atualmente, 18,75% ao ano).

Para se ter uma idéia, nos EUA, essas taxas estão em 2,5%. A Anefac ainda informa que as tarifas geram 13% dos lucros totais do sistema bancário, e receitas diversas compõem 8% desse total. De acordo com o vice-presidente da instituição, entretanto, o que mais rende dinheiro para os bancos é a concessão de créditos. Os juros bancários aplicados sobre os créditos foram responsáveis, até o primeiro semestre de 2004, por 43% da receita dos bancos.

O principal componente desses lucros obtidos com a concessão de créditos encontra-se no alto spread cobrado no Brasil. O spread é a diferença entre os juros que os bancos pagam na hora de captar dinheiro (pegando emprestado de outros bancos ou de poupadores) e os juros que cobram sobre os empréstimos que fazem aos tomadores (pessoas físicas e jurídicas). Enquanto as primeiras taxas são baixas, as segundas são altas, chegando a 160,63%, ao ano, no caso do cheque especial, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Parte da diferença entre as duas fica com os bancos e gera os lucros recordes.

"Todo banco vive de spread", afirma o diretor-presidente da empresa de informações financeiras Economática, Fernando Excel. "Em tese, seria a margem de lucro do banco", complementa Jandir Feitosa. O spread brasileiro está em torno de 27%, segundo dados do Banco Central de 2004. Está entre os maiores do mundo, sendo quase duas vezes maior que o da Argentina (15,4%), três vezes o da Rússia (9,1%) e nove vezes o dos Estados Unidos (3%), segundo o Instituto de Estudo para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), baseado em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2003.

Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo mostra que os brasileiros pagam R$ 73 bilhões, por ano, em spread . Para se ter uma idéia, segundo Fernando Excel, da Economática, o Bradesco ganhou, em 2004, R$ 11,1 bilhões em spread – quase o dobro do que recebeu com tarifas.

Para o economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster, comparada a outros setores, a rentabilidade dos bancos brasileiros é baixa. Além disso, os altos spreads cobrados no Brasil "não se traduzem em lucros", e os ganhos com serviços bancários representam apenas 7,5% de cada R$ 1 obtido como receita. Segundo artigo publicado em janeiro de 2005, Troster afirma que os R$ 0,925 restantes são custos.





Fonte: Agência Brasil

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/357489/visualizar/