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Economia
Quinta - 24 de Fevereiro de 2005 às 17:54
Por: Michèlle Canes

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Brasília – Traçando um histórico dos lucros que as instituições financeiras no Brasil vêm conseguindo, nota-se que, mesmo os anos 1980, que ficaram conhecidos como "a década perdida" por conta da má situação econômica do País, já eram lucrativos para os bancos brasileiros. Mesmo com a moeda nacional sofrendo uma forte desvalorização na época da hiperinflação – e em boa parte por conta disso –, os agentes financeiros encontraram no chamado floating uma forma de driblar os prejuízos e alcançar grandes resultados.

O floating referia-se aos depósitos feitos pelos clientes que não caíam nas contas de imediato – e assim podiam ser aplicados pelos bancos nos mercados especulativos. Tharcisio de Souza Santos, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), conta que o dinheiro ficava retido por três dias: "O banco aplicava esses recursos como se fossem dele durante esse período. Isso, casado com uma altíssima inflação que tivemos há uns dez anos, dava resultados espetaculares para os bancos".

Em outras palavras, o depósito do correntista ficava indisponível para movimentação por 72 horas, enquanto o banco aplicava os recursos no chamado overnight, que rendia juros durante a noite, para driblar os efeitos de uma hiperinflação de até 3% ao dia, mais de 1000% ao ano. "Qualquer sobra de caixa era aplicada em títulos públicos", diz Santos.

Em 1994, quando é criado o Plano Real para acabar com a inflação, a fonte dos lucros bancários muda. A partir daí, a inflação é estabilizada e a moeda brasileira passa a ser equivalente ao dólar. Segundo o professor Santos, com a queda da inflação de 50% para menos de 1% ao mês, a necessidade de fazer aplicações como o overnight acabou, e o lucro do setor bancário caiu vertiginosamente, passando de US$ 9 bilhões para US$ 450 milhões no ano seguinte.

Como a crise poderia resultar numa quebra generalizada do sistema financeiro nacional, o Banco Central criou o Programa de Estímulo à Reestruração e ao Sistema Financeiro, conhecido como Proer. Com o programa, os bancos privados receberam uma assistência de aproximadamente US$ 21 bilhões (3,8% do PIB, na época), de acordo com estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 1995, o governo patrocinou a fusão de bancos "saudáveis" e a compra de bancos que não estavam em boa situação. Após essa reestruturação, houve um fortalecimento do sistema bancário.

Com o Proer, o mercado nacional também foi aberto para os bancos estrangeiros, que tiveram a oportunidade de comprar bancos nacionais. O professor da Faap conta que, até 1997, 45 bancos estrangeiros se instalaram no país. Em 2002, esse número já havia subido para 65. Santos afirma ainda que, além de atrair o capital estrangeiro para o país, a idéia do governo era aumentar a concorrência entre os bancos e diminuir progressivamente o spread bancário, que após os anos 80 passou a ser um dos principais componentes dos lucros dos bancos e causador dos altos juros para o crédito no País. O spread é a diferença entre os juros que os bancos pagam ao captar dinheiro e os juros que cobram ao oferecerem empréstimos.

Os bancos ainda encontram uma nova fonte de lucros em 1996, quando o Banco Central liberou a cobrança das tarifas de serviços. O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, afirma que, atualmente, existem cerca de 40 tarifas que não existiam antes. "Só com a renda das tarifas, os bancos cobrem 105% dos gastos com pessoal. Ou seja, pagam todos os salários e ainda sobra", afirma.





Fonte: Agência Brasil

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