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Politica Brasil
Sábado - 19 de Fevereiro de 2005 às 20:16
Por: Onofre Ribeiro

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Na última quinta-feira assisti a posse do coronel Leovaldo Sales no comando da Polícia Militar de Mato Grosso. Confesso-me profundamente surpreso. O novo comandante abriu um leque de discussões incomuns na PM, por conta da cultura militar tradicional, que aprisiona mais do que liberta os membros da corporação.

O trabalho das polícias militares mudou muito de feição nos últimos anos por conta das profundas transformações que a sociedade vem sofrendo, fruto das contradições sociais arrasadoras do país. Segundo o coronel Sales, não adianta alimentar o ciclo sem fim do aumento de policiais, de viaturas, equipamentos e de armas, sem que antes não se tenha a percepção de que a sociedade espera mais da Polícia Militar.

Em certo trecho ele diz: “Imagino, também, que seja preciso cobrar da corporação inteira um compromisso com ela mesma, nesse confronto de parcela da sociedade com a própria sociedade”. Mais adiante ele aponta: “A impunidade e a falta de ação estão espremidas entre esses segmentos e, como cinto de aço em torno de todos nós, a vontade coletiva de viver em paz. Não há mais como fugir dessa realidade violenta. A cidadania tem voz e grita cotidianamente nos nossos ouvidos, pedindo paz e tranqüilidade e que seja real o direito sagrado de ir e vir.(...) Vamos preparar de uma polícia mais rigorosa para proteger a sociedade, que seja guardiã do cidadão, e um pesadelo para o marginal.”

Outra citação digna de registro: “Se a proposta que trazemos para o comando da Polícia Militar de Mato Grosso é a de produzir mudanças realmente significativas, é imperativo termos a consciência de que vivemos a era do trabalhador do conhecimento e da informação”, referindo-se ao preparo mais atual da tropa.

O comandante tocou o dedo na ferida da corrupção que tem sido cada vez mais freqüente na Polícia Militar, em todos os níveis hierárquicos. A esse respeito, ele considerou a visão da sociedade mato-grossense numa leitura muito correta: “Muitos de nós, não raro, trabalhamos contra nós mesmos, na vã suposição de que, construindo fortuna pessoal através do uso da função ou de prerrogativas, não atingimos a instituição e nem a sociedade. Grande engano! A sociedade mato-grossense, é profundamente crítica. Anota. Registra. Percebe. Julga. Descrê. Abomina a corrupção de princípios. Mais de 65% de nossa população têm menos de 29 anos. É gente jovem, crítica, capaz de julgar os adultos e as instituições. Cada erro nosso, é um erro de juízo!”

Sobre o futuro da Polícia Militar ele foi muito enfático: “É uma equação complexa desenhar o futuro da Polícia Militar de Mato Grosso numa perspectiva mais próxima dos anseios de uma sociedade jovem como a nossa. As corporações estão mudando diariamente sob a pressão das exigências sociais e da multiplicação linear nas informações”.

É preciso anotar essa percepção do coronel Sales, porque não é todo dia que um comandante da Polícia Militar coloca a corporação em confronto consigo mesma, para olhar em benefício da sociedade que a mantém e para quem ela existe. Todos os cidadãos e a Polícia Militar, em última instância, são partes da mesma sociedade.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br




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