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Politica Brasil
Sábado - 19 de Fevereiro de 2005 às 20:11
Por: Onofre Ribeiro

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Ontem o jornalista Paulo Leite escreveu o artigo “A vez dos severinos”, publicado ontem neste jornal. Ele recordou a figura dos severinos, personagens nordestinos abandonados que desfilam no poema épico do poeta pernambucano, João Cabral de Melo Neto. Paulo tratou do resgate dos severinos do Congresso Nacional, tradicionalmente tratados de “baixo clero”, uma referência copiada do parlamento pós-revolução francesa.

De fato, no Congresso Nacional existe uma cultura de castas. Mesmo que todos tenham sido eleitos pelo mesmo critério do voto popular nas suas regiões estaduais, quando chegam ao Congresso precisam brigar para terem um gabinete em local salubre, terem moradia, para nomearem as suas assessorias e, até mesmo, coisas óbvias como acesso a gráfica, cartões de visitas e cositas mas.

Só os considerados como “novo clero”, ou a elite, consegue mandar na Casa. São deputados de grandes partidos e oriundos dos grandes estados. São muito raras as exceções de deputados de estados menos “nobres”, fora do eixo Sul-Sudeste, conseguirem sair da mediocridade e chegar ao Olimpo das grandes decisões parlamentares.

Porém, se a revolta dos severinos tivesse acontecido, por exemplo, no governo Fernando Henrique Cardoso, seria uma coisa. Mas no governo do presidente Lula, gerido pelo PT, a coisa tem outra leitura.

O PT caracterizou-se pela arrogância e pela prepotência de considerar-se o dono das verdades nacionais. Logo, relacionar-se com o Congresso Nacional tornou-se uma atividade de segunda classe nos propósitos do governo e do partido.

Porém, a História mostra que sob pressão todas as sociedades humanas reagiram sob o regime da panela de pressão: estouram. O episódio Severino Cavalcanti foi, na verdade, o efeito panela de pressão. Ao mesmo tempo em que a Câmara dos Deputados rebelou-se e descarregou os seus votos no ilustre e folclórico deputado pernambucano, derrotou o governo, mas criou uma cultura nova. Daqui para a frente os “iluminados” do novo clero terão que conviver com os severinos que se agarrarão ao poder como náufragos.

Pode ser até que o Congresso Nacional fique mais medíocre. Mas a mediocridade tem sido uma boa professora. Ela produz reações inovadoras muito fortes, mesmo que demoradas. Na realidade, os “iluminados” dirigem o Congresso desde sempre e também esgotaram a sua cartola de mágicas.

Preconceito é a coisa que o baixo clero do presidente Severino Cavalcanti menos precisa neste momento. Merece crédito e a oportunidade de mostrar que fora do círculo tradicional do Congresso pode existir vida política inteligente e criativa.

De concreto, concreto mesmo, fica a clara demonstração de que um ciclo novo começou. Quer queiram ou não o governo, o presidente Lula, o PT e os “iluminados”. Aonde vai dar? Bom. Esta é uma aposta no escuro!

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br




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