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Segunda - 01 de Novembro de 2004 às 11:49

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Até os anos 60, só personagem pobre trabalhava nas novelas. E mesmo assim, eles só estavam lá porque os ricos desocupados das tramas precisavam de quem os servisse. Mas desde que o naturalismo/realismo tomou conta dos folhetins, os personagens foram à luta e arranjaram empregos.

Está certo que até hoje nenhum deles se mata de trabalhar, nem tem horários rígidos a cumprir ¿ afinal, precisam de tempo para enfrentar os inevitáveis conflitos amorosos e familiares.

Mas o fato é que as profissões são características essenciais dos personagens da teledramaturgia, com as quais os autores gastam horas em pesquisas e dispensam boa parte de sua "cota" de inspirações. "O trabalho diz tudo sobre um personagem. E, se o cara não faz nada na vida, isso também diz muita coisa sobre ele", opina Maria Carmem Barbosa, que escreve com Miguel Falabella a próxima novela das sete da Globo, A Lua Me Disse.

Às vezes, no entanto, a função dramatúrgica de uma profissão vai além. "Em Sabor da Paixão, toda a história surgiu em função do bar que a protagonista tinha", lembra Ana Maria Moretzsohn.

Em Celebridade, a profissão de Maria Clara Diniz também fazia bem mais que definir a personalidade da protagonista. A princípio, a personagem de Malu Mader seria jornalista, mas a Globo rejeitou esta versão. Gilberto Braga, então, faz dela produtora de shows, como homenagem a Roberto Talma, que dirigiria a trama e gosta de musicais. "Acho que foi um ganho, deu charme à novela", concluiu Gilberto.

Já Aguinaldo Silva partiu da própria experiência como jornalista para criar personagens como Dirceu e Josefa, vividos por José Mayer e Marília Gabriela em Senhora do Destino.

O autor garante que só não criou jornalistas antes porque eles não se encaixavam no universo de suas tramas. "Minhas novelas eram sempre de cidadezinhas do interior, não cabiam jornais ali", justifica, aparentemente alheio ao crescimento da imprensa fora dos grandes centros.

Outro que recorre à própria experiência é Benedito Ruy Barbosa, autor de Cabocla. Suas tramas, sempre rurais, são coalhadas de fazendeiros, políticos, professores, padres e donos de vendas. "Conheço bem este universo", minimiza.

Foi também no próprio dia-a-dia que Ricardo Hofstetter, autor de Malhação, se inspirou para transformar Beatriz, vivida por Cissa Guimarães, em atriz. "A gente convive o tempo todo com isso, vê como vida de ator é complicada. E a profissão casou com os conflitos que ela devia ter", conta Ricardo.

O autor atribui exatamente a uma profissão, a de músico, a grande identificação do público com a temporada atual do "folheteen", que tem registrado as maiores médias de audiência desde seu lançamento. "Todo jovem tem uma ligação com música. O fato de colocar Gustavo, Natasha e Catraca como aspirantes a músicos atraiu a atenção", acredita Ricardo.

Para Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela USP, esta identificação é que fez crescer a importância das profissões nas telenovelas. "O Cassiano Gabus Mendes dizia que geralmente partia de uma profissão para escrever. Foi assim, por exemplo, em Te Contei?, com uma dona de pensionato vivida por Eva Todor, ou em Marrom Glacê, na qual a personagem de Yara Cortes tinha um buffet", destaca Mauro.

Seja qual for o peso que tenha a profissão dos personagens, no entanto, todos os autores têm seus "truques". Para Ricardo Linhares, a profissão pode até ser um detalhe em alguns casos. Mas, em outros, nasce junto com o personagem. Em Agora é que São Elas, por exemplo, ele fez questão de que Tintim, vivida por Zezé Polessa, fosse a dona do bar que serviria de ponto-de-encontro na trama. "Eu precisava que fosse um personagem importante, porque muita coisa aconteceria por lá", justifica.

Já Maria Carmem Barbosa não nega seu estilo. "Gosto das profissões que têm comicidade. Elas sempre dão mais 'pano pra manga'", aposta. Enquanto isso, Ana Maria Moretzsohn se previne contra os possíveis erros na hora de retratar os universos profissionais. "Procuro não lidar com nada complicado... tipo física quântica", conclui, bem-humorada.

Primeiro plano

Há casos em que a profissão de um personagem é "a história". Isso acontece atualmente em dois programas exibidos pela Globo. Em A Diarista, Marinete, interpretada por Cláudia Rodrigues, apronta as maiores confusões em cada lugar em que arruma serviço.

O diretor do programa, José Alvarenga Jr., trabalhava há três anos no projeto de um seriado sobre empregadas domésticas. Para criar a personagem, a equipe fez uma grande pesquisa e levou várias diaristas ao Projac. "Nunca quisemos ser porta-vozes deste universo. Nosso objetivo sempre foi que as pessoas se divertissem com ele", destaca o diretor.

Diversão foi também o que Fernanda Young e Alexandre Machado enxergaram na burocracia. Os autores de Os Normais colocaram cinco personagens dentro de uma repartição pública para criar o mote de Os Aspones, que estréia na próxima sexta-feira na emissora.

Para Alexandre, o mais importante não é nem a profissão que eles exercem, mas o fato de passarem cinco dias por semana trancados num escritório, das 8 às 18h. "Eles são como ratinhos num laboratório", diverte-se o autor, que faz questão de deixar claro que a sátira pode se aplicar a qualquer tipo de escritório. "Na maior parte dos escritórios, as pessoas nunca têm muito o que fazer, não é só no serviço público", acredita.

Se em Os Aspones os personagens têm de procurar o que fazer, serviço era o que não faltava às "funcionárias" de Delegacia de Mulheres. Uma das autoras do seriado, Maria Carmem Barbosa destaca este como o trabalho em que mais explorou dramaturgicamente as profissões. "Neste caso, a profissão era a história", enfatiza.

Instantâneas

# Carlos Lombardi acha que as profissões são tão importantes dramaturgicamente que, em alguns casos, a história vem justamente da impossibilidade de o personagem exercê-la. Era o caso de Baldochi, o sargento vivido por Humberto Martins em Uga Uga.

# Sempre que não sabe muito bem "o que fazer" com um personagem, Ricardo Linhares o transforma em advogado. "Depois, dá para inseri-lo em diversas situações", ensina.

# Para Ana Maria Moretzsohn, são inúmeras as profissões que podem render boas tramas. "Um médico desempregado, por exemplo, tem uma carga emocional grande. Um milionário diretor de empresas também, já que pode manipular muitos personagens, por dinheiro ou poder", avalia.

# Para Carlos Lombardi, as profissões mais importantes são aquelas que têm o poder de interferir muito na vida dos outros, tais como médicos.




Fonte: TV Press

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