Meirelles defende papel do BC diante de Petrobras

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, procurou nesta sexta-feira contornar a polêmica com a Petrobras desencadeada por comentários feitos na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre reajuste dos combustíveis.

"É trabalho desse Banco Central, como de qualquer banco central no mundo, (fazer) um acompanhamento da evolução dos preços importantes da economia", disse Meirelles durante seminário em São Paulo, lendo resposta já preparada para uma pergunta que recebeu de jornalistas.

"No momento atual, é claro que o preço internacional do petróleo adquiriu grande relevância, sendo objeto de atenção de todos os bancos centrais."

O presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, disse nesta sexta-feira que a polêmica envolvendo a estatal e o Banco Central está encerrada. A desavença foi tornada pública na noite de ontem, quando a petrolífera divulgou ríspida nota oficial questionando a ata do Copom e sugerindo que o órgão estava interferindo em sua política de preços.

Meirelles acrescentou que o BC continuará fazendo exercícios de projeção sobre o comportamento dos preços, já que é seu "dever" analisar o impacto na inflação passada e futura, e que isso não significa interferência na política de preços da estatal.

Na véspera, a ata do Copom sinalizou que a demora no realinhamento do preço dos combustíveis às cotações internacionais tende a contaminar com mais força a inflação de 2005. Em resposta, a Petrobras divulgou nota afirmando que o papel do Banco Central é cuidar da política monetária e não dos preços internos dos combustíveis.

"Concordamos integralmente com a Petrobras, empresa que tantos serviços tem prestado ao Brasil, que é dela a total responsabilidade pela definição da política de preços dos combustíveis", afirmou Meirelles.

"Esse episódio parece deixar um saldo muito positivo, à medida que tornou ainda mais claras as atribuições e as políticas das diversas instituições envolvidas."

Mais previsibilidade

Durante seu discurso, em que procurou detalhar os avanços da economia brasileira, Meirelles também defendeu a importância da previsibilidade para aclarar as perspectivas do mercado - mas não citou nenhum tema específico.

"A previsibilidade é importante porque aumenta o horizonte de planejamento."

O presidente do BC reiterou que a estabilidade macroeconômica é condição pré-necessária para o crescimento, ainda que possa não ser suficiente para que o país avance além do PIB potencial.

"Não há dúvida de que o grande desafio é aumentar o nível de investimento", afirmou, acrescentando a importância também das reformas microeconômicas, da redução do spread bancário e da consolidação do marco regulatório.