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Economia
Sábado - 02 de Outubro de 2004 às 13:03

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A Argentina e a Venezuela dão os primeiros passos para a criação de uma petroleira estatal latino-americana, mas o Brasil e a Bolívia, países convidados a se somar ao projeto, duvidam que a ambiciosa idéia venha a se concretizar.

A iniciativa para criar a Petrosul recuperou força este ano a partir da cada vez mais próxima relação política entre os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina, que tentam trazer mais países para seu projeto integracionista.

A Energia Argentina (Enarsa), a sociedade anônima sob controle estatal que ainda não foi constituída, será a plataforma que a Argentina aportará, enquanto a Petróleos da Venezuela (PDVSA) deu ontem, sexta-feira, um passo decisivo para esta aliança ao inaugurar uma representação em Buenos Aires.

"Se todas as petroleiras da América Latina e do Caribe fizerem uma aliança, terão o controle de 11,5% das reservas mundiais de petróleo, exercendo uma influência importante no mercado", disse ontem o presidente da PDVSA, Alí Rodríguez, no discurso de inauguração dos escritórios da empresa em Buenos Aires.

Rodríguez afirmou que a empresa estatal chilena Enap "poderia se integrar" no projeto da Petrosul "porque esta não é uma iniciativa excludente".

Embora sua criação ainda não tenha sido aprovada pelo Parlamento argentino, a Enarsa já planeja explorar hidrocarbonetos na extensa plataforma marinha argentina, aproveitando a experiência costeira da companhia petroleira estatal brasileira Petrobrás, projeto ao qual a PDVSA também se somará.

Além disso, tentará fechar negócios na área do gás natural com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YFPB).

A Argentina assinará nos próximos dias um acordo com a Bolívia para se prover de gás boliviano durante 25 anos para satisfazer as necessidades energéticas nacionais.

"A idéia de criar uma petroleira do Cone Sul é uma grande ambição. Mas, primeiro, é preciso deixar que a Enarsa nasça e se desenvolva. Depois serão vistas as alianças estratégicas e cada um colocará o melhor, que será tecnologia e capitais", disse à EFE um dos futuros diretores da Enarsa, Luis María Corsiglia.

Enquanto na Argentina e Venezuela tudo é otimismo, na Bolívia há opiniões divergentes sobre a conveniência ou não de a YPFB, cuja refundação está em marcha, ser parte de uma empresa petroleira regional.

Fontes do governo boliviano afirmaram à EFE que o Executivo vê com "ceticismo no curto prazo" o fato de a firma estatal se beneficiar de uma sociedade regional porque o tamanho da YPFB será relativamente menor do que as outras empresas estatais que podem participar do projeto.

Por outro lado, o líder indígena Evo Morales, chefe da segunda força parlamentar na Bolívia, o Movimento ao Socialismo (MAS), é um dos impulsores da Petrosul.

Carlos López, assessor da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, aconselhou diferenciar entre o discurso e a prática, a vista das necessidades de capital internacional que as empresas estatais têm, como a PDVSA, para financiar seus projetos.

O ex-vice-ministro boliviano de Hidrocarbonetos acrescentou que a Petrosul "não aportaria muito" ao país, que requer encontrar mercados para suas reservas de gás -as segundas maiores da América do Sul-, o que pode se complicar se há uma sociedade com as outras empresas estatais da região.

A idéia de que a Petrobras entre na Petrosul é vista em círculos petroleiros oficiais do Brasil como uma simples idéia de boas intenções mas com pouco futuro, apesar da sintonia política entre Kirchner, Chávez e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Porta-vozes da Petrobras disseram que a empresa se abstém de comentar especificamente sobre negócios que envolvam outras empresas, da mesma forma que o estatal Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mencionado como natural investidor no projeto, que alegou desconhecer "detalhes da proposta".

Na opinião da economista Goret Pereira, coordenadora de projetos de energia da FGV Consultoria, do Instituto Getulio Vargas do Brasil, "se trata de um projeto difícil de ser implementado".

"As companhias são muito diferentes quanto a seu tamanho e portfólios de investimento. Não consigo enfocar os custos e benefícios, nem como seria inplementado esse projeto, nem os fluxos de importações e exportações", afirmou.

Em 1995 os governos do Brasil e a Venezuela tentaram criar a Petroamérica, união de suas petrolíferas estatais, mas a idéia naufragou.




Fonte: EFE

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