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Politica Brasil
Segunda - 19 de Julho de 2004 às 15:06
Por: Valmir Nascimento Milomem Sant

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Estava cansado de abrir todas semanas a ilustre coluna da revista Época e, deparar-me com o título estampado em letras garrafais a palavra “xongas”, sem, no entanto, saber o seu real significado. Resolvi, então, colocar meu “espírito investigativo” em ação e consultar o velho Aurélio. Ele me “disse” que xongas é uma expressão popular que quer dizer “coisa nenhuma” ou “nada”. Inconformado, procurei o Michaellis, ele “falou” a mesma coisa. Fiquei pasmo, boquiaberto e, sobretudo, estupefato.

Como pode alguém morar no Brasil e ainda não conhecer profundamente essa palavra e o seu brilhante significado? Calma! Explico meu espanto: No nosso país, o novo presidente ainda não fez xongas e só fala xongas; ninguém conseguiu provar xongas contra o Sr. Maluf; o salário mínimo vale xongas; a violência não diminui xongas e o povo, por seu turno, não faz xongas e não quer saber de xongas. Percebi, desta forma, que estudar o fenômeno “xongas” é uma questão de utilidade pública e de interesse social. Oras, o dr.. Domenico de Masi já inventou o ócio criativo, idealizemos, pois, a xonganice, a ciência do estudo do nada, da coisa nenhuma e adjacências; afinal, numa nação onde fazer nada é a regra e, fazer alguma coisa, anomalia, não há motivos para refutar tal idéia. Para corroborar a tese, vejam o que me sucedeu.

Tive que ir a um Juizado Especial verificar um processo judicial que ali tramitava já fazia sete meses. Solicitei a situação do processo ao atendente, o qual, depois de algumas tecladas no computador, caretas e coçadas na cabeça, respondeu-me: o sistema está me informando que o processo do senhor já foi sentenciando, mas deve haver algum problema. Por que? Questionei. O atendente, com ar de especialista, responde: O processo do senhor para ser sentenciado, demoraria no mínimo um ano. Por isso, o computador deve estar com algum problema. Não é possível. Foi rápido demais! O atendente, então, no fiel cumprimento do seu dever, chama seu superior hierárquico, na certeza de ter encontrado um erro. Seu chefe, homem zeloso pelos princípios processuais e experiente no serviço público, conclui da mesma forma. – Tem algo errado! O juiz é chamado para resolver o tumulto e, para infelicidade dos dois, o processo, por exceção, já havia sido mesmo sentenciado.

Por essa e outras que a xonganice deve ser matéria ensinada do primário à universidade, para novos e velhos, para ricos e pobres, para brancos e negros. Pois, se é para fazermos xongas, que sejamos peritos no assunto. Promulguemos a lei que disponha sobre a xonganice, isso se o Congresso não estiver fazendo xongas. Criemos o XGU (Xonga Geral da União), com o seu representante maior, o Xongão Geral (quem será? O Ricardo Freire? Aquele que quando faz alguma coisa está viajando), órgão responsável, no âmbito federal, pela análise do índice de “nada-fazer”. Ou seria melhor criar o quarto poder, ao lado do Legislativo, do Executivo e do Judiciário? Nesse caso vai dar briga, os outros poderes alegarão quádruplo de funções, todos exercendo a mesma função, ou seja, nada. E é a velha história, três é bom, quatro, já é inconstitucional (gosto desta alegação). Demos um basta na hipocrisia, derrubemos, pois, as máscaras da falsa moralidade pública e o pacto da mediocridade. Incentivemos o estudo do xongas e suas repercussões, para que, desta forma, quem sabe um dia, de tanto falar sobre o – nada fazer – possa causar comoção social, passando, assim, de regra para exceção. O leitor deve argumentar. Um cara, pra parar e escrever um artigo como esse, deve fazer xongas e ter xongas na cabeça (...).

Respondo: - Prerrogativas de um verdadeiro cidadão-xonga!

"Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente"

Valmir Nascimento Milomem Santos é Advogado pós-graduando em direito agro-ambiental em Cuiabá MT. Email: vnassan2002@yahoo.com.br




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