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Politica Brasil
Sábado - 29 de Maio de 2004 às 13:09
Por: João Carlos Caldeira

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Em 1975 as famílias brasileiras gastavam 1,19% de sua renda com impostos diretos (IRPF, IPVA e IPTU); em 2003 gastaram 4,46%. Em 1973, 16,5% do que ganhavam eram poupados ou investidos; em 2003 foram apenas míseros 4,76 %.

Os números acima foram divulgados recentemente pela IBGE, resultantes da Pesquisa de Orçamentos Familiares e são produto de entrevistas em 48.470 domicílios de todas as regiões do país.

As conclusões que os números mostram é que os grandes vilões do crescimento das despesas e dos gastos com o consumo foram a habitação e o transporte. Juntos consomem 54% da renda das famílias trabalhadoras do Brasil. Pena que o IBGE não divulgou os números por estado, para que pudéssemos comparar com os números de Mato Grosso, que acredito, não deve ser muito diferente dessa realidade.

O que mais preocupa nesses números é que não sobra quase nada dos orçamentos domésticos para investimento e poupança. Qualquer pessoa que tenha assistido alguma palestra ou tenha lido algum livro desses gurus de auto-ajuda, sabe que o ideal é que no mínimo 10% do que se ganha, deve ter como destino o investimento.

Entende-se por investimento, todo e qualquer dinheiro que não é gasto com consumo, que pode ser desde uma caderneta de poupança até um consórcio de automóvel ou a prestação de um terreno, que resulte em crescimento e prosperidade para a família.

A pesquisa revela ainda que aumentou o acesso dos brasileiros a bens de serviços, como TV a cabo, celular, internet, saneamento e que famílias pobres gastam 75% a mais do que recebem. O Resultado disso é um malabarismo, vivem na corda bamba mensalmente, atrasando contas e prestações, usando o cheque especial ou recorrendo aos agiotas.

Em alguns casos há justificativas para o descontrole financeiro, como desemprego, doença ou algum acidente, mas na grande maioria das vezes, principalmente na classe média, o que ocorre é uma antecipação de consumo, ou seja, compra-se um bem ou serviço não essencial antes de ter o dinheiro suficiente para adquiri-lo.

A pesquisa do IBGE aponta que as famílias brasileiras com renda até R$ 3 mil reais gastam em média mais do que ganham e por isso, ficam inadimplentes ou se endividam para honrar compromissos.

Está errado! Podem “cair de pau” em cima de mim, quem acredita que não se consegue nada na vida sem ficar devendo. Está Errado! Podem até dizer que é fácil pensar assim quando se tem uma renda suficiente para manter um bom padrão de vida. Existe ainda o argumento que “todas as pessoas que conheço vivem penduradas no cheque especial e no cartão de crédito”. Pode ser, mas volta a afirmar: está errado! Antecipar consumo é uma forma de comprometer seu orçamento, na maioria das vezes desnecessariamente, além do descontrole financeiro e da redução do poder de compra, pois em toda e qualquer compra a prazo existe juros embutido nas parcelas, sejam eles visíveis ou não.

Numa sociedade hedonista e cada vez mais refém do consumo desmedido é quase um sacrilégio defender a idéia de comprar a vista; de poupar 10% de sua renda mensal; de manter o controle financeiro para não pagar juros, mas não abro mão de minha opinião.

João Carlos Caldeira Empresário, jornalista, especialista em administração de turismo, hotelaria e lazer. E-mail: joaocmc@terra.com.br




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