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Politica Brasil
Sábado - 17 de Abril de 2004 às 08:22
Por: Onofre Ribeiro

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Na última quinta-feira, fui convidado pela TV Assembléia, junto com o amigo jornalista Américo Correa, para entrevistar o ex-prefeito, ex-deputado federal por dois mandatos, ex-governador e ex-senador, agora conselheiro do Tribunal de Contas, Júlio Campos. Perguntado por Américo Correa como gostaria de ser tratado durante a entrevista, ele respondeu: “como você quiser. Sou um ex-tudo”.

Foi uma entrevista muito gostosa. Júlio Campos recordou momentos de sua vida e da política do Estado. Na sua conhecida linguagem irônica, ele se considera fora da política, a menos que haja um grande desafio. E esse desafio poderia ser o governo de um possível estado no norte, que resulte da divisão do atual Mato Grosso. “Aqui já está tudo pronto”, diz ele. Mas ele não crê em divisão a curto prazo.

Confessou que sua entrada no Tribunal de Contas e as eleições que se seguiram foram um tormento. Quando via as carreatas e escutava os foguetes, entrava no banheiro e tampava os ouvidos para não sofrer. Depois se acostumou, seguindo o conselho do também conselheiro Antonio Joaquim, que deixou o mandato de deputado federal para ser conselheiro.

Perguntado sobre como vê o governo Blairo Maggi concentrando a força econômica e política do estado, ele respondeu que é preciso esperar passar as eleições municipais para ver como é que o governo sai lá na frente. E também, só depois de dois anos é que se pode avaliar com clareza qualquer governo. Mas acha que o governo está bem, principalmente em alguns setores.

Mas lembrou o estado do Ceará, onde um grupo de empresários entrou na política nos anos 1980, liderados por Tasso Jereissati, atual senador, e devastou com as velhas lideranças cearenses como Virgílio Távora e César Cals, por exemplo. Tasso Jereissati elegeu Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, seu sucessor e depois voltou ao governo estadual. O fato é que modernizou-se a política no Ceará. Júlio Campos considera possível acontecer a mesma coisa em Mato Grosso, numa outra proporção.

Sobre a substituição das forças políticas tradicionais por empresários ligados ao agronegócio, ele acha que a ascensão se deu com o apoio de lideranças anteriores como Jaime Campos, Roberto França, Percival Muniz e Jonas Pinheiro. Mas que elas estão hoje em desvantagem e precisam se atualizar para reconquistar ou, pelo menos, “dividir o poder com o pessoal do agronegócio”.

Sobre a sua perda de poder pessoal, Júlio Campos atribui à eleição de 1998, quando disputou contra o governador Dante de Oliveira, que estava em processo de reeleição. “Não dá pra disputar com alguém que tenha a máquina do governo na mão”.

Dos seus quatro filhos, Júlio Neto está se preparando para a política e a filha Consuelo, formada em ciências políticas e relações internacionais.

De qualquer modo, talvez seja verdade que o “animal político” Júlio Campos esteja mesmo se desligando da política, quando que ele mesmo admite estar perdendo o contato com os municípios. “Agora eu só observo”, finaliza o “ex-quase tudo” que foi prefeito de Várzea Grande aos 25 anos, e aos 35 o primeiro governador eleito pelo voto direto no regime militar. Porém, continua carismático, um ótimo papo e rende sempre gostosas entrevistas. * Onofre Ribeiro é Jornalista em Cuiabá




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