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Internacional
Domingo - 04 de Abril de 2004 às 09:28
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Sou freqüentadora, quando me sobra tempo, das redes de televisão que transmitem os trabalhos das Assembléias Estaduais, da Câmara Federal e do Senado Federal. Ao mesmo tempo em que é esclarecedor, pois são nossos representantes, é também uma inesgotável fonte de diversão. É claro que aparecem aquelas homenagens ao aniversário do Zé da esquina de São João do Cruz Credo e votações sem muita importância, mas vez ou outra aparecem parlamentares que dá gosto de assistir. Assistir à senadora Heloisa Helena, por exemplo, dá gosto pelo seu carisma. Descobrimos também idéias fantásticas e mirabolantes, como a relatada no artigo de domingo passado, um projeto de lei que pretende reformar a faixa da bandeira nacional.

Inutilidades assim, como o projeto de lei da faixa da bandeira, existem muitas. Uma que tomei conhecimento dias atrás, através de um e-mail que me foi mandado, me deixou estarrecida. Um deputado federal do Piauí, o petista Nazareno Fonteles, é autor de um projeto de lei complementar que estabelece um limite máximo de consumo permitido à população. Como?

Funcionará da seguinte maneira: será estabelecido um limite máximo que cada pessoa poderá gastar. Se a pessoa tem o salário de R$ 10.000,00 a R$ 50.000,00 ou os prováveis R$ 3 milhões do Zeca Pagodinho, terá um limite para gastar, e este será de dez vezes o valor da renda per capita do brasileiro, cálculo realizado pelo IBGE. Mais ou menos assim: a renda per capita de 2003 foi de R$ 8.656, nesse caso o limite máximo de consumo seria de R$ 85.650, ou seja, R$ 7.137,50 por mês. O que exceder esse valor será depositado, mensalmente, a título de empréstimo compulsório, em nome do depositante, em uma conta especial de caderneta de poupança na Caixa Econômica Federal ou no Banco do Brasil.

Fico pensando, de onde figura tão brilhante tirou essa idéia. Será que imaginou que "se existe um salário mínimo, por que não criar um salário máximo?". Se foi assim, foi um pensamento nobre e profundo pelo seu sentido humanitário, não acham? Mas seria complexa sua implementação! Quem sabe poderíamos realizar em etapas! Que acharia ele de implantar esta idéia começando pelo salário dos parlamentares! Vereadores de grandes municípios e deputados estaduais, seus cabos eleitorais das últimas eleições, iniciariam o processo, acredito que de bom coração. Daí viriam seus fraternos colegas federais, senadores e seus assessores. A partir daí implementaríamos no restante da sociedade. Bonito, né? Congressistas cheios de amor pra dar!

Segundo o projeto de lei do excelentíssimo parlamentar, o "contribuinte compulsório" poderá sacar essa poupança apenas em ocasiões especiais e definidas na lei, como morte do titular, doença grave na família, desde que não ultrapasse 20% do total da caderneta. Para aquisição de casa própria o "contribuinte" poderá retirar um valor de, no máximo R$ 200.000,00. A não-efetuação do depósito por um período superior a trinta dias implicará na imediata inserção da pessoa na dívida ativa da União. Rígido ele, não é? Os depósitos da Poupança Fraterna serão investidos em moradia popular, saúde, educação, enfim, tudo que promova o bem-estar social.

Agora vem o melhor de tudo, a justificativa do deputado para tão importante lei. Na sua concepção, ele acredita que será capaz de construir o ideal de fraternidade universal, pois "a fraternidade deve ser o principal meio e o fim do desenvolvimento, tendo como medida prática de verificação os avanços na eqüidade econômica e social. Neste sentido o "novo fazer político" deve ser guiado pela fraternidade no coração e eqüidade nas mãos, pois, só com a fraternidade poderemos superar o egoísmo reinante no capitalismo". Lindo! É Suplicy fazendo escola e enchendo este país de amor. Vou transferir meu domicílio eleitoral para o Piauí. Na próxima eleição, Fonteles neles! *Adriana Vandoni Curvo - Escreve para o Reporter News.




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