Repórter News - reporternews.com.br
Saúde
Sábado - 03 de Abril de 2004 às 10:58
Por: Cilene Guedes

    Imprimir


No genoma de uma bactéria, o Brasil investiga soluções para uma doença que, enraizada em graves mazelas nacionais, afeta milhares de pessoas a cada ano. Na semana que vem, será tornado público o genoma da linhagem predominante no Brasil do micróbio causador da leptospirose — infecção que, transmitida pela urina do rato, caminha lado a lado com as enchentes e a falta de saneamento. A pesquisa já começa a ter desdobramentos importantes.

Com base em informações que já encontraram nos 4,6 milhões de pares de bases de DNA da bactéria Leptospira interrogans Copenhageni , pesquisadores procuram proteínas candidatas a vacina. O método de buscar em fragmentos de DNA o perfil ideal de uma vacina produziu os primeiros resultados antes mesmo da publicação do estudo. Os cientistas brasileiros, liderados por uma equipe do Instituto Butantan, em São Paulo, já solicitaram a patente nos EUA de 23 proteínas promissoras. Mais de 200 outras estão sendo analisadas.

— Logo depois que as seqüências de DNA ficaram prontas, começamos a fazer um programa piloto de genoma funcional. Com métodos computacionais identificamos proteínas da superfície da bactéria. É a essas proteínas que o sistema imunológico reagiria. Solicitamos a patente de 23 delas. Tínhamos pressa — relata a coordenadora geral do projeto genoma brasileiro da leptospira, Ana Lúcia Tabet Oller do Nascimento, do Instituto Butantan.

A pressa se explica. Desde o início, o projeto tem como meta permitir que o Brasil produza uma vacina contra a bactéria, que em 2000 (data dos dados mais recentes) atingiu 4.128 pessoas no país.

— Existe uma corrida no mundo por uma vacina da leptospirose, e há outras iniciativas de genoma em andamento. Se a gente não patentear, terá que importar uma vacina e pagar royalties. A idéia é que a vacina seja desenvolvida no próprio Butantan — relata Ana Lúcia, que trabalhou com pesquisares da USP, da Unicamp, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e do Instituto Real de Medicina Tropical em Amsterdã.

A corrida não inclui apenas os países em desenvolvimento, onde se concentram os casos humanos.

— Não há vacina para o ser humano. Para animais, existe um vacina feita com a bactéria inativada, mas que protege somente por um ano e não é eficaz contra todas as linhagens. Para a indústria farmacêutica interessa uma vacina que proteja contra todos as linhagens, porque a doença traz problemas econômicos sérios — diz a cientista.

Há cerca de 250 linhagens (cepas) da Leptospira interrogans . A pesquisadora ressalta, porém, que o desenvolvimento de um imunizante pode levar dez anos e o estudo ainda está longe de permitir testes em modelos animais para imunidade contra a leptospira. Mas, com os dados do genoma em mãos, “a busca tornou-se muito mais objetiva”, diz Ana Lúcia.

Antigamente, os cientistas precisavam isolar proteínas das membranas das bactérias e só então começavam a fazer testes. Agora, é possível estreitar a busca antes de isolar as proteínas.

— Com base nas informações do DNA e através da informática, é possível predizer onde estão as proteínas codificadas por cada gene — diz a cientista.

A pesquisa brasileira do genoma da leptospira será publicada na revista “Brazilian Journal of Medical and Biological Research” (BJMBR) e estará disponível na rede pública SciELO a partir do dia 6. O estudo brasileiro não é primeiro genoma da leptospirose. Chineses publicaram o genoma da Leptospira interrogans Lai , típica da Ásia. Recentemente, a equipe brasileira publicou um estudo comparativo das variedades Copenhageni e Lai , na “Journal of Bacteriology”.




Fonte: Do Globo Online

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/387140/visualizar/