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Meio Ambiente
Quarta - 05 de Agosto de 2020 às 09:27
Por: Joanice de Deus/Diário de Cuiabá

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A devastação notificada desde o dia 1º é o triplo da registrada em 2017
A devastação notificada desde o dia 1º é o triplo da registrada em 2017

A proliferação de queimadas que se alastram pelo Pantanal de Mato Grosso está muito acima da média histórica do bioma.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que os focos de calor deste mês (1.669) foram quase sete vezes maiores do que a média registrada nos meses de julho de 2009 a 2019 (244).

A devastação notificada desde o dia 1º é o triplo da registrada em 2017 — que, até agora, era o mês de julho mais ardente da década, com 449 notificações de fogo.

E o avanço é ainda mais avassalador, se comparado à taxa vista em 2019. Neste caso, em apenas um ano, as queimadas cresceram 382%.

O Rio Paraguai, principal responsável por banhar o Pantanal, está dois metros abaixo da média - seus afluentes também passam por uma situação crítica.

É o resultado de um ano anormalmente seco, onde choveu apenas metade do esperado entre janeiro e maio.

Áreas que deveriam estar inundadas não passam de capim seco.

A prolongada estiagem permitiu o avanço das queimadas, que antes eram inibidas pela vegetação encharcada.

"Ficamos impressionados com a propagação do fogo, porque ele não está mais confinado a áreas úmidas", afirmou Carlos Alberto Gomes, sargento do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso, que participa de uma força-tarefa para conter as queimadas.

"É difícil ter acesso a algumas regiões com registro de incêndio, porque precisamos atravessar a sinuosidade dos rios, que dobram nosso tempo de viagem até os lugares onde precisamos trabalhar", completou.

Líder da Iniciativa Pantanal do WWF-Brasil, Júlio César Sampaio assinala que as queimadas estão avançando exponencialmente a cada semana de julho.

No início do mês, havia 114 focos de fogo. Na terceira semana, eram 254 e, na seguinte, 835.

As queimadas se multiplicaram, mesmo após o Governo Federal decretar uma moratória que impediria incêndios no bioma.

"Se o fogo ainda está surgindo, mesmo após decretos federais e estaduais, é porque estamos diante de ações criminosas. São pessoas que usam as queimadas para renovação da pastagem e, além do dano ambiental, põem em risco a saúde pública. Estamos em um período de seca, o que já ocasiona o aumento de doenças respiratórias, como a asma. Até o desmatamento da Amazônia nos afeta, já que a floresta funciona como uma bomba d’água que leva uma corrente úmida e contribui para a formação de chuvas no Centro-Sul do país", disse Sampaio.

Autoridades de Saúde temem que esses pacientes tomem leitos de hospital destinados a pessoas com coronavírus. Corumbá (MS), epicentro das queimadas, já registrou 1.208 casos de Covid-19.

Diretor presidente da ONG Ecologia e Ação (Ecoa), André Luiz Siqueira destacou que o aumento das queimadas é amparado, em primeiro lugar, pela política do Governo Federal simpática aos ruralistas, alegando existir no país uma “indústria de multas”.

"Há uma relação direta entre essa narrativa e a fragilização dos órgãos de comando e controle ambiental, que perderam uma parcela significativa de seu orçamento no ano passado. Neste ano o contingenciamento poderia ser ainda maior, se não fosse a pressão internacional", explicou.

"Todo ano, precisamos apagar fogo no Pantanal. Então, por que o Ibama não monta uma brigada de incêndio permanente no bioma, em vez de contratar uma que atuará apenas em alguns meses? Por que a sociedade e setores do governo praticamente não se reúnem para discutir ações que possam evitar essa tragédia?", observou.

Há, também, componente climático.

Siqueira lembrou que o Rio Paraguai, que vivia momentos de cheia desde a década de 1970, começou o ano com uma grande área queimada, e sem chuva para compensar o estrago.

"Começamos 2020 com 40% a mais de queimadas, que são um hábito cultural dos produtores rurais, e nenhuma chuva. Os incêndios se alastraram e destruíram o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense. Foi difícil conter o fogo nesta unidade, porque sua gestão foi transferida para outro Estado, em uma reforma do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Seus servidores não conhecem mais a realidade local", disse.





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