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Comportamento
Sábado - 15 de Julho de 2023 às 07:22
Por: Vinicius Mendes/Gazeta Digital

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Neste sábado, 15 de julho, é celebrado no Brasil o Dia do Homem. O propósito da data é chamar a atenção da sociedade para problemas e circunstâncias que possam atingir, o sexo masculino, principalmente com relação à saúde. Os professores e pesquisadores Moisés Lopes e Bruna Irineu, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), avaliaram que o machismo e os conceitos antiquados de masculinidade são os principais motivos para que o homem deixe de cuidar de si, o que resulta em problemas de saúde, física e mental.

“Importante ressaltar o lugar das mulheres como vítimas centrais do machismo, mas a gente não pode deixar de lado que há outros grupos que são afetados [...] as crianças também são alvo, outras formas de masculinidade, que não é essa hegemônica, também sofrem, LGBTs de um modo geral são alvo desse machismo, mas, além disso, por ser estrutural na sociedade afeta aos homens, na questão do autocuidado. Baixo uso de medicamentos e de busca por médicos, isso afeta enormemente nos dados de saúde e de expectativa de vida, mas também reflete no uso exagerado de bebidas e drogas, na medida em que os homens não têm essa vinculação da masculinidade com cuidado, esse cuidado é sempre atribuído a uma mulher”, explicou Moisés Lopes, professor do Departamento de Antropologia.

Professora Bruna Irineu, do Departamento de Serviço Social da UFMT, também pontuou que o machismo afeta a saúde mental do homem e sua relação com as pessoas que convive.

“Um homem que sabe cuidar da sua casa, cuidar das suas roupas, que sabe externalizar suas emoções, ele tende a ter menos chance de sofrer com determinadas questões de saúde mental. [...]. Um homem que cuida da sua casa, por exemplo, tem uma noção de coletividade muito maior, ele tem chance de ofertar uma paternidade aos seus filhos e filhas muito mais completa, adequada e saudável. E na sua relação com uma parceira ou com um parceiro, tende também a ter uma relação muito mais equânime”, disse.

Com os avanços sociais a favor de minorias e grupos marginalizados, o papel do homem na sociedade tem passado por constantes reflexões e, com isso, movimentos contrários, liderados por homens, têm ganhado mais visibilidade.

“Toda ação tem uma reação, por isso que a gente fala, por exemplo, em reacionarismo. O que a gente tem visto é que com a força dos movimentos feministas, LGBTQIA+, nós tivemos uma série de transformações, mobilizadas por esses movimentos, [...] isso vai colocando os padrões de sexualidade em cheque. E enquanto essas normas vão sendo questionadas, gestando direitos e mudanças, obviamente que vamos ter uma disputa na esfera pública dos setores mais atingidos com essas transformações, que querem manter a ordem, seus privilégios e as hierarquias sexuais e de gênero”, afirmou Bruna Irineu.

Professor Moisés Lopes também avalia que com a ameaça desta perda de poder, estes grupos buscam conservar sua posição na sociedade.

“O sentimento desses homens que vivem uma masculinidade que lhes assegura poder no cotidiano da vida social, que estão sofrendo com o questionamento desses modos de viver masculinidade, eles estão perdendo o papel central, o poder nesse fluxo social. O poder de ditar o que é certo e o que é errado, de serem o centro da vida da sociedade. Acho que esse é o real sentido do crescimento desses movimentos conservadores. Como o próprio nome diz, eles estão tentando conservar uma imagem da masculinidade e, ao mesmo tempo, esta imagem vinculada ao poder”, esclareceu.

Um dos reflexos do conservadorismo foi o crescimento de movimentos nas redes sociais, como os chamados “redpills” e “incels”, que buscam, intrinsecamente, levar a mulher de volta à posição de objeto e propriedade.

“É uma estratégia, de uma certa forma, de reiterar essa masculinidade que já persevera há muitos anos, mas que vem perdendo o poder. Então é uma tentativa estratégica de utilizar, por exemplo, das redes sociais e da internet para chegar especialmente nas mentes dos meninos mais jovens, para uma tentativa de organizar esses sujeitos em busca dessa, vamos dizer assim, ‘masculinidade perdida’, desse lugar perdido para a masculinidade belicosa e hegemônica”, disse a professora Bruna.

Irineu ainda apontou que, apesar de existirem manifestações espontâneas neste sentido, quem deliberadamente articula esta movimentação são os homens no topo da hierarquia social.

“As pessoas que estão, de uma certa forma, reagindo são aquelas que estão mais no topo da hierarquia social. São homens com poder aquisitivo, com poder político, que têm a capacidade de mobilizar outros homens que talvez não estejam nas mesmas condições de poder que eles. Porque ainda que tenhamos homens de todas as classes sociais reiterando essas relações cis-heteropatriarcais, são os homens que estão no lugar de poder que movimentam a esfera pública para torná-la um ambiente antidireito”, explicou.

O professor Moisés ainda lembrou que esta visão de “preservação da verdadeira masculinidade” é equivocada, já que pelo mundo, historicamente, existiram (e ainda existem) diversas maneiras de “ser homem”.

“O que é ser homem de verdade? Quando fazemos um estudo da história, de diversas sociedades, sobre como as masculinidades se constituíam, percebemos que existe uma multiplicidade de se viver essas masculinidades. Então não há um único conceito do que é ser homem de verdade, cada sociedade elaborou essa concepção e elas sempre estiveram em movimento no decorrer do tempo e também quando a gente analisa uma sociedade em relação à outra”.





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