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Comportamento
Segunda - 18 de Março de 2024 às 06:33
Por: Mariana da Silva - Especial para o GD

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Imagem gerada pela I.A. Copilot

Uma violência invisível, frequentemente banalizada, que não deixa marcas físicas e pode passar despercebida até mesmo por quem convive com as vítimas. Porém, tem efeitos devastadores na vida de quem a sofre.

A violência psicológica é um tipo de abuso em que o agressor manipula o emocional da vítima e é considerada uma prática criminosa por lei. Contudo, nem todos sabem como identificar de que forma se dá este tipo de agressão, como e quando se sofre e ainda, de que forma buscar por ajuda ou ajudar quem enfrenta a situação.

De acordo com a psicóloga pós-graduada em Terapia Cognitiva Comportamental, Verônica Meirelles Neves, as formas de manifestação da violência psicológica se dão por meio de gritos, humilhação moral, deboche público ou palavras que impactam negativamente a pessoa. Além disso, podem ser identificadas em atitudes que abalam a autoestima, o autocuidado e o autorrespeito de quem sofre com os atos.

“Ela se manifesta silenciosamente por meio do desprezo, da exclusão. A violência psicológica é considerada uma forma sutil de violência, já que costuma aparecer na mente da maioria das pessoas são as agressões físicas. Muitos ainda não veem a agressão psicológica como forma de violência. Esse tipo de violência possui a intenção de fragilizar o estado emocional e psicológico da vítima, para deteriorar a sua saúde mental”, explica.

Conforme a psicóloga, as ações violentas são comumente mascaradas como ciúmes, excesso de cuidado, temperamento forte, desentendimentos, entre outras justificativas.

À medida que as agressões psicológicas se repetem, a vítima fica com medo do agressor e com a autoestima baixa, impedindo que termine a relação tóxica, seja essa romântica, profissional, familiar ou de amizade. “A vítima se anula, se diminui e se isola de pessoas queridas. Para não ser agredida repetidas vezes, ela cede às vontades do agressor e tenta criar uma convivência harmoniosa, mesmo que isso signifique sabotar a sua própria felicidade”, descreve.

Além de mexer com a autoestima e autocuidado, essa forma de violência também causa diversos transtornos mentais severos como: ansiedade, depressão, síndrome do pânico, dentre outros.

“Como o estado emocional está fragilizado a ponto dela duvidar do seu próprio valor como pessoa, é muito difícil para ela deixar um relacionamento abusivo ou cortar relações com o agressor psicológico”, ressalta a psicóloga.

Como reconhecer uma vítima?

Alguns sinais podem ajudar a identificar se está sofrendo violência psicológica. São eles:

- Medo do temperamento do agressor;
- Medo da reação dele quando não têm a mesma opinião;
- Ele ignora constantemente os sentimentos e afasta do convívio das pessoas;
- Ridiculariza ou faz com que a vítima se sinta mal na frente de amigos ou outras pessoas;
- Fala das roupas e do comportamento;
- Faz com que a vítima seja forçada a justificar tudo o que faz e a pedir permissão para sair;
- Causa confusão em relação às atitudes fazendo duvidar se realmente isso está acontecendo;
- Transmite sentimento de culpa pela situação.

A especialista alerta para que sinais como estes sejam observados atentamente caso vivencie ou saiba de alguém que vive um tipo de relação com essas características. Além disso, podem ser indicativos também da violência doméstica ou contra a mulher.

“A violência doméstica consolida-se como uma problemática de grande relevância social, além de ser uma transgressão dos direitos humanos. Os agressores envolvidos são em sua maioria homens com quem as mulheres tiveram ou têm relações de intimidade. Tal fenômeno tem raízes culturais, de organização social e econômicas, e são, também, caracterizadas pela relação de poder do homem sobre a mulher, refletindo em um relacionamento pautado em desigualdades, discriminação, autoritarismo e abuso de poder”, acrescenta.

Como buscar ajuda?

Segundo Verônica, o primeiro passo do tratamento é fazer com que a mulher ou vítima enxergue a violência sofrida tal como ela é. Só assim, terá capacidade de mobilizar recursos para sair dessa situação. O segundo passo é fazer com que ela não se sinta responsável ou culpada pela violência sofrida e evidenciar as possibilidades de mudança.

“Elas precisam entender que quando estão em uma relação de violência a dificuldade de reagir é maior, porque ela se encontra sob a influência e manipulação do outro. O que impede a percepção da realidade tal como ela é. Quando ela começa a entender que ela é vítima e não culpada, as soluções começam a aparecer”, expõe.

Já o terceiro passo é aprender a estabelecer limites, a impor suas vontades, autorrespeito.

“A submissão cessa quando a vítima se conscientiza de que, se não ceder, o outro não terá nenhum poder. Analisar em qual momento da sua vida ela se tornou vulnerável a este tipo de relacionamento e criar possibilidade de mudanças subjetivas. Lembrando que o trabalho do psicólogo está vinculado também à intervenção da justiça e portanto não se limita ao consultório privado, sendo feito em um ambiente diferenciado com intervenções individuais ou grupais de caráter socioeducativo. Também pode procurar ajuda de um profissional da psicologia para poder resgatar sua condição de sujeito, bem como sua autoestima, seus desejos e vontades”, explicita.

O que diz a lei?

O abuso psicológico é tipificado como crime. Infringir maus tratos físicos e/ou psicológico uma ou várias vezes sobre o cônjuge, ex cônjuge, namorado ou progenitor de descendente comum em 1º grau, e também sobre pessoas particularmente indefesas em razão da idade, deficiência, doença ou dependência econômica, desde que com ela coabite.

A Lei Maria da Penha passou a prever a violência psicológica como uma das formas de violência doméstica contra a mulher. Entre as legislações, o artigo 147-B do Código Penal prevê o constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, entre tantas outras formas de violência.

O número 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento da violência contra a mulher.





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