Religião impele a Ciência
Há alguns anos, li o livro "Rocks of Ages" do paleontólogo de Harvard, Stephen Jay Gould, ateu, em que ele propõe à religião cuidar da Ética da humanidade, vigiando a Ciência para que esta não cometa atos contra a vida e a dignidade. Uma visão muito interessante. Se a memória não falha, este livro foi lançado em português. E, agora, li um interessante artigo do ex-ateu Francis Collins, diretor do Projeto do Genoma Humano e escritor do livro: "The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief" em que ele manifesta a crença de que os 3,1 bilhões de genes humanos, o DNA, compõem a linguagem de Deus para a criação.
A aproximação entre o cientista e a fé em Deus e, mais precisamente, em Jesus Cristo surpreende muita gente dita culta. Não entendo porque, já que temos muitos exemplos do passado. Como outro "biólogo", Lazzaro Spallanzani, ordenado padre mas que realizou importantes pesquisas das funções corporais e reprodução animal e, ao tentar provar a teoria da biogênese, descobriu que a selagem hermética preservava os alimentos (1765). E ainda publicou trabalhos sobre regeneração e transplantes.
Spallanzani foi precursor de outro católico fervoroso, Antoine Lavoisier, que nos é conhecido pelo seu bordão: na natureza nada se cria, tudo se transforma. Lavoisier foi grande nas descobertas mas foi um monge agostiniano, Gregor Johann Mendel, quem revolucionou o entendimento da hereditariedade através de suas ervilhas.
Mas, se um padre na biologia impressiona, imagine na física, mais precisamente na cosmogênese, falamos de Padre Lemaitre, autor da teoria da criação do universo, o primeiro cientista a afirmar que o universo teve um início, e que ele chamou de átomo primordial. Essa origem cataclísmica, hoje é chamada de Big Bang (grande explosão). Para defender sua teoria, teve que contradizer Albert Einstein que quando formulou a Teoria da Relatividade, introduziu um truque em suas equações: a constante cosmológica. Pe. Lemaitre sabia mais sobre as fórmulas da Relatividade que o próprio Einstein e mostrou que a constante era um erro. Mas foi Edwin Hubble quem forneceu as evidências que Lemaitre estava certo e não Einstein.
No início de 1920, Hubble, com muito esforço, guiou o telescópio do Monte Wilson noites seguidas para produzir uma única fotografia da galáxia Andrômeda. Sua técnica fotográfica aumentou o tamanho do universo em um bilhão de vezes. Feito semelhante a outro católico, devoto errante como rei Davi, Galileu Galilei, que criou um telescópio de boa qualidade que lhe permitiu observar as estrelas, milhares de estrelas até então invisíveis e que rendeu sua primeira vitória sobre a Inquisição. Galileu esperava derrubar a teoria geocêntrica, aceita pelos catedráticos da época, e demonstrar a teoria heliocêntrica de outro padre cientista, Nicolau Copérnico que rebaixou a Terra, do centro do universo, e a colocou em torno do Sol, juntamente com os demais planetas.
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)
Comentários