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Estratégia e Silêncio
O momento não poderia ser melhor. Manhãs de terça-feira e quarta-feira. Auditórios lotados. Uma misturança, onde se tinham fios, câmeras, microfones, profissionais da imprensa e políticos. Sem contar a quantidade de pessoas que cravara os olhos nos monitores de TV e do computador. O clima variava entre o tenso e a impaciência. Mas o protagonista-inquirido trazia seu “script” na “ponta da língua”. Cumpriu, e bem, o papel que lhe encomendaram, diante de uma oposição pífia e despreparada.
O quadro que se viu na Câmara Federal quase não se diferenciou do apresentado no Senado. Um parecia reprise do outro. Isso desde o início, com o “ex-diretor” do DNIT a trazer uma mochila abarrotada de papéis – todos encadernados – os quais, inicialmente, se pensava que estaria ali um conjunto de dossiês. Mas não. Eram realizações do órgão vinculado ao Ministério dos Transportes. Este e aquele espremidos por fogos cruzados de denúncias de cobrança de propina, cujo rendimento servia para abastecer o cofre do Partido da República, conforme o noticiário.
Daí toda a expectativa. Porém, o homem tomado como “bomba”, pelos oposicionistas, não passava de “traque” em noites de festas juninas. Suas frases iniciais apagaram o alvoroço da véspera, e, ao mesmo tempo, tranquilizaram o governo e alguns petistas. Pois todas as acusações – dizia - não passam de “invencionices” da imprensa, e, por conta disso, ele considera a si próprio: “vítima de falsas insinuações”. A oposição se via agora, desta feita, encurralada. Isso porque o espírito que se apoderou do deputado Roberto Jefferson, em 2005, sequer chegou perto do atual depoente. Este se mostrou senhor da situação – favorecido pelo conhecimento que trazia a respeito do DNIT. Um órgão que é, conforme suas palavras, “extremamente fiscalizado” por ser “executor” e não o de “decisão” - tarefa que fica a cargo de um Conselho formado pelos Ministérios do Planejamento, Fazenda e Transportes. Nada, portanto, existe por lá que seja comprometedora, ou tenha sido “feito de forma irresponsável”.
Embora “muitas obras são licitadas com projeto básico e na elaboração do projeto executivo aparecem os aditivos necessários”. Aditivos sim, jamais superfaturamento. Mesmo assim, os tais aditivos “não têm relação com os doadores de campanha”. Aliás, arrematou, “o PR não atuou junto o DNIT em busca de doações”. São, portanto, “insinuações” maldosas e “mentirosas” a afirmativa de que o DNA da corrupção se encontra no DNIT. E, sem perder tempo, reclamou da burocracia – responsável por dificultar a liberação de obras rodoviárias – bem como das regras que brecam o licenciamento ambiental, além de se queixar estrategicamente da falta de funcionários e do sistema de informatização defasado do órgão.
O protagonista-inquirido falava todo tempo na condição de “advogado” do órgão, e alguém muito interessado em permanecer no governo. Era a cobrança da fatura. Antecipada, é verdade. Não sem antes deixar a presidenta do país em uma sinuca de bico. Afinal, foi ela – Sua Excelência – que afastou a cúpula do Ministério dos Transportes e, depois de encurralá-lo, aceitou o pedido de demissão do Alfredo Nascimento. Atitudes injustificáveis se forem considerados os depoimentos do “ex-diretor”.
Seria, então, a presidente uma pessoa precipitada e inconsequente? Questão que o (e) leitor poderia fazer, e, ao respondê-la, por certo diria: “Despreparada sim” para lidar com o jogo político. Mas daí achá-la inconsequente é um equívoco sem tamanho. Sobretudo quando se têm relatórios do TCU que registram irregularidades, serviços malfeitos ao longo do país e evidencias de corrupção veiculada.
Estas são fotos de um mesmo quadro, cujo desenho foi sequer discutido, uma vez que a oposição é medíocre e a situação trabalha para salvar a própria pele.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br
O quadro que se viu na Câmara Federal quase não se diferenciou do apresentado no Senado. Um parecia reprise do outro. Isso desde o início, com o “ex-diretor” do DNIT a trazer uma mochila abarrotada de papéis – todos encadernados – os quais, inicialmente, se pensava que estaria ali um conjunto de dossiês. Mas não. Eram realizações do órgão vinculado ao Ministério dos Transportes. Este e aquele espremidos por fogos cruzados de denúncias de cobrança de propina, cujo rendimento servia para abastecer o cofre do Partido da República, conforme o noticiário.
Daí toda a expectativa. Porém, o homem tomado como “bomba”, pelos oposicionistas, não passava de “traque” em noites de festas juninas. Suas frases iniciais apagaram o alvoroço da véspera, e, ao mesmo tempo, tranquilizaram o governo e alguns petistas. Pois todas as acusações – dizia - não passam de “invencionices” da imprensa, e, por conta disso, ele considera a si próprio: “vítima de falsas insinuações”. A oposição se via agora, desta feita, encurralada. Isso porque o espírito que se apoderou do deputado Roberto Jefferson, em 2005, sequer chegou perto do atual depoente. Este se mostrou senhor da situação – favorecido pelo conhecimento que trazia a respeito do DNIT. Um órgão que é, conforme suas palavras, “extremamente fiscalizado” por ser “executor” e não o de “decisão” - tarefa que fica a cargo de um Conselho formado pelos Ministérios do Planejamento, Fazenda e Transportes. Nada, portanto, existe por lá que seja comprometedora, ou tenha sido “feito de forma irresponsável”.
Embora “muitas obras são licitadas com projeto básico e na elaboração do projeto executivo aparecem os aditivos necessários”. Aditivos sim, jamais superfaturamento. Mesmo assim, os tais aditivos “não têm relação com os doadores de campanha”. Aliás, arrematou, “o PR não atuou junto o DNIT em busca de doações”. São, portanto, “insinuações” maldosas e “mentirosas” a afirmativa de que o DNA da corrupção se encontra no DNIT. E, sem perder tempo, reclamou da burocracia – responsável por dificultar a liberação de obras rodoviárias – bem como das regras que brecam o licenciamento ambiental, além de se queixar estrategicamente da falta de funcionários e do sistema de informatização defasado do órgão.
O protagonista-inquirido falava todo tempo na condição de “advogado” do órgão, e alguém muito interessado em permanecer no governo. Era a cobrança da fatura. Antecipada, é verdade. Não sem antes deixar a presidenta do país em uma sinuca de bico. Afinal, foi ela – Sua Excelência – que afastou a cúpula do Ministério dos Transportes e, depois de encurralá-lo, aceitou o pedido de demissão do Alfredo Nascimento. Atitudes injustificáveis se forem considerados os depoimentos do “ex-diretor”.
Seria, então, a presidente uma pessoa precipitada e inconsequente? Questão que o (e) leitor poderia fazer, e, ao respondê-la, por certo diria: “Despreparada sim” para lidar com o jogo político. Mas daí achá-la inconsequente é um equívoco sem tamanho. Sobretudo quando se têm relatórios do TCU que registram irregularidades, serviços malfeitos ao longo do país e evidencias de corrupção veiculada.
Estas são fotos de um mesmo quadro, cujo desenho foi sequer discutido, uma vez que a oposição é medíocre e a situação trabalha para salvar a própria pele.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/538/visualizar/
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