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Opinião
Quarta - 27 de Novembro de 2024 às 00:31
Por: João Lombardi

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Não há absolutamente nenhuma dúvida da importância da hidratação durante treinos e competições. A ingestão de líquidos é obrigatória não só para performance mas também para maximizar os resultados para saúde que o esporte trás. A grande pergunta é, quanto mais líquido, melhor? A resposta é não.

Assim como para quase tudo no corpo humano, existe um limite biológico e para quantidade de ingestão hídrica não é diferente, seja para menos, seja para mais. Durante os treinos e competições, quem mantém a eliminação de calor no nosso corpo é o suor, e pela perda de líquido é preciso repor. Essa quantidade de reposição é individual para cada pessoa, cada esporte, cada treino, cada localização geográfica… por isso não existe um valor fixo de hidratação nem “receita de bolo” pronta para a quantidade de líquido a ser ingerido, mas com certeza errar a quantidade trará malefícios.

É muito mais fácil e intuitivo compreender quando a quantidade está abaixo pois muito provavelmente já vivenciamos uma desidratação ou no mínimo vimos alguma outra pessoa desidratada. Mas o que acontece quando é o contrário, quando a ingestão hídrica é muito acima do necessário?

A explicação é que quando nosso corpo recebe uma quantidade de ingestão de líquidos acima da capacidade de eliminação seja pelo suor seja pela urina. Assim, o acúmulo de líquido no nosso sistema circulatório irá diluir o sódio, e é nessa diluição de sódio que mora o perigo.

Cientificamente chamada de hiponatremia dilucional, também conhecida popularmente como “intoxicação por água”, é uma condição médica que ocorre quando os níveis de sódio no sangue estão anormalmente baixos devido à ingestão excessiva de líquidos. Esse desequilíbrio afeta o funcionamento celular inclusive podendo ser uma condição mortal.

Com excesso de líquido circulante, a concentração de sódio dentro das células do cérebro pode ficar maior que a do sangue, e isso faz “puxar” por mecanismo de osmose para dentro das células do cérebro causando um inchaço, o que desencadeia sintomas principalmente neurológicos como náuseas e vômito, dor de cabeça, confusão, convulsão, entre outros.

Para prevenir a hiponatremia dilucional, a quantidade de líquido deve ser individualizada, e não existe um padrão que seja igual ou semelhante entre as pessoas. Por isso, procurar um profissional de saúde é importante, pois existem estratégias e prescrições direcionadas a essa questão.

Apesar de não ser uma condição tão comum, a conscientização desse assunto é importante tanto pelo fato do risco de vida quanto pela cultura do pensamento de que quanto mais líquido ingerido, melhor. Praticantes de exercício físico, treinadores, profissionais de saúde e principalmente organizadores de eventos esportivos devem trabalhar juntos para garantir práticas seguras de hidratação e principalmente reconhecer a condição para que o tratamento seja rapidamente estabelecido.

Dr. João Lombardi é médico do exercício e do esporte pela Unifesp, Pós em fisiologia do exercício e metabolismo pela USP de Ribeirão Preto, mestrando pela UFMT, médico do Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio e Paris, médico assistente do Comitê Paralímpico Brasileiro e diretor do Instituto Lombardi, em Cuiabá (MT).



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