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Apropriação do Espaço Público
No artigo anterior, ressaltou a dificuldade da prática democrática. Pois ainda se tem dificuldade em respeitar o diferente e a diferença do pensar, do olhar e de opinião. Isso se agrava muito mais quando se percebe claramente a apropriação privada do espaço público. Apropriação que se dá cotidianamente. Também fora dos limites dos poderes constituídos, e, inclusive, no âmbito diário da relação entre os moradores e a cidade.
O urbanismo, então, se dá sob o signo do desrespeito. Ruas são bloqueadas por interesses particulares. Mesmo sem a desculpa da realização de festas. Recentemente, por exemplo, uma rua de um dos bairros de luxo de Cuiabá teve sua passagem interrompida. Justamente porque alguém pensou que seus direitos estavam acima das necessidades de quem servia da dita rua como caminho para deslocar-se de um local a outro. A prefeitura se calou e o tribunal, curiosamente, fingiu não ter sido provocado. Nada se ouviu a respeito, inclusive, pelas bandas da Câmara. Nenhum discurso, nenhuma nota de repúdio. Tudo transcorria na mais perfeita naturalidade.
Comportamento igualmente registrado quando o prefeito da época negociou uma rua no bairro do Porto, e o seu sucessor tentou comercializar o terreno da policlínica do “Verdão”, com a aprovação dos vereadores. Os rumores existentes foram logo silenciados, sob a alegação – estranha e curiosa – de erro de projeto. Nem o mais ingênuo dos eleitores acreditou nisso.
Descrença que se mistura com o silencio diante da invasão de outros espaços públicos. Praças são tomadas por quiosques. Durante décadas, a do “Boa Esperança” foi ocupada por lanchonete, a exemplo do que, há anos, ocorre na que dá em frente à caixa d água do CPA IV.
Quadro que se associa ao uso das calçadas como estacionamento. Motos e carros tomam conta de parte da passagem do pedestre, enquanto a outra parte é ocupada por restaurantes, bares, hotéis e lojas. O que dificulta, sobremaneira, o percurso de idosos, deficientes e senhoras que empurram os carrinhos com seus bebês.
O espaço público, desse modo, é quase todo loteado. Tem até cobrança de pedágio. Pois não são poucos os furtos que acontecem em meio a esses obstáculos.
Obstáculos que se tornam maiores quando moradores se acham no direito de fazer das calçadas extensões das próprias garagens, e os fazem de tal modo como se o pedestre fosse um intruso, pois ao passar está a invadir suas “propriedades”. Invertem, assim, o sentido das coisas, e a razão da existência da própria calçada.
A situação é tão tragicômica – para não espichar a conversa – que, outro dia, um proprietário ficou irritado com uma criança que servia da calçada como caminho, uma vez que, no seu entender, ela deveria lhe abrir passagem. Encontrava-se com pressa, assim como uma autoridade, que abusava da buzina, para obrigar as pessoas a deixarem livre o espaço entre o portão e a avenida.
Retrato que se repete no trânsito. Alguns se acham. Estes são exatamente os que deveriam dar exemplos, até mesmo pelo cargo que ocupam – pagos pelos contribuintes.
Isso tem dificultado o avançar democrático. Regime que é tocado por iguais, embora diferentes no pensar, na maneira de ver um mesmo objeto, de crença, de gostos, de moradias e, inclusive, de saldo na conta bancária.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
O urbanismo, então, se dá sob o signo do desrespeito. Ruas são bloqueadas por interesses particulares. Mesmo sem a desculpa da realização de festas. Recentemente, por exemplo, uma rua de um dos bairros de luxo de Cuiabá teve sua passagem interrompida. Justamente porque alguém pensou que seus direitos estavam acima das necessidades de quem servia da dita rua como caminho para deslocar-se de um local a outro. A prefeitura se calou e o tribunal, curiosamente, fingiu não ter sido provocado. Nada se ouviu a respeito, inclusive, pelas bandas da Câmara. Nenhum discurso, nenhuma nota de repúdio. Tudo transcorria na mais perfeita naturalidade.
Comportamento igualmente registrado quando o prefeito da época negociou uma rua no bairro do Porto, e o seu sucessor tentou comercializar o terreno da policlínica do “Verdão”, com a aprovação dos vereadores. Os rumores existentes foram logo silenciados, sob a alegação – estranha e curiosa – de erro de projeto. Nem o mais ingênuo dos eleitores acreditou nisso.
Descrença que se mistura com o silencio diante da invasão de outros espaços públicos. Praças são tomadas por quiosques. Durante décadas, a do “Boa Esperança” foi ocupada por lanchonete, a exemplo do que, há anos, ocorre na que dá em frente à caixa d água do CPA IV.
Quadro que se associa ao uso das calçadas como estacionamento. Motos e carros tomam conta de parte da passagem do pedestre, enquanto a outra parte é ocupada por restaurantes, bares, hotéis e lojas. O que dificulta, sobremaneira, o percurso de idosos, deficientes e senhoras que empurram os carrinhos com seus bebês.
O espaço público, desse modo, é quase todo loteado. Tem até cobrança de pedágio. Pois não são poucos os furtos que acontecem em meio a esses obstáculos.
Obstáculos que se tornam maiores quando moradores se acham no direito de fazer das calçadas extensões das próprias garagens, e os fazem de tal modo como se o pedestre fosse um intruso, pois ao passar está a invadir suas “propriedades”. Invertem, assim, o sentido das coisas, e a razão da existência da própria calçada.
A situação é tão tragicômica – para não espichar a conversa – que, outro dia, um proprietário ficou irritado com uma criança que servia da calçada como caminho, uma vez que, no seu entender, ela deveria lhe abrir passagem. Encontrava-se com pressa, assim como uma autoridade, que abusava da buzina, para obrigar as pessoas a deixarem livre o espaço entre o portão e a avenida.
Retrato que se repete no trânsito. Alguns se acham. Estes são exatamente os que deveriam dar exemplos, até mesmo pelo cargo que ocupam – pagos pelos contribuintes.
Isso tem dificultado o avançar democrático. Regime que é tocado por iguais, embora diferentes no pensar, na maneira de ver um mesmo objeto, de crença, de gostos, de moradias e, inclusive, de saldo na conta bancária.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/71/visualizar/
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