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Opinião
Segunda - 28 de Março de 2011 às 00:01
Por: Bruno Peron

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A gira do presidente estadunidense Barack Obama, sua esposa Michelle e as duas filhas em três países latino-americanos - Brasil, Chile e El Salvador - comprovou a submissão e o clientelismo de alguns países desta região aos "donos do mundo" do Norte.

Os Estados Unidos não dissimulam o receio de perder espaço na América Latina - tema candente na geopolítica - para países de fora do continente americano, como China, Índia e Coreia do Sul. O passeio da família real estadunidense trouxe a bandeira de seus interesses econômicos, principalmente nos setores de energia, tecnologia e infra-estrutura.

O porta-voz da nação mais faminta por destruição que o Ocidente moderno já conheceu agiu ainda, segundo se depreende de seus discursos, como avaliador e dosador de países que representam êxitos da democracia e do desenvolvimento econômico.

Depois de promover a desgraça no Afeganistão e no Iraque - e tudo indica que farão o mesmo na Líbia - os Estados Unidos posam de autênticos medidores de nações mais ou menos democráticas. Mensagem implícita: nenhuma nação alcançou ainda o ápice da democracia como a estadunidense, fiel herdeira dos ideais de Alexis de Tocqueville, se é que alcançará.

Obama teve igualmente a audácia de afirmar que uma das conquistas do Brasil é ter migrado de uma ditadura - recorda-se que apoiada pelos Estados Unidos - para uma "democracia pujante", de "liberdade" e "oportunidades para seu povo". Efetivamente foi um grande avanço, porém que importa se tanto um regime como outro rendem uma nação curvada aos interesses do Norte? Desde a abertura ao consumismo dada pelo general Eurico Gaspar Dutra na segunda metade dos anos 1940, logo os terríveis "anos de chumbo" do general Médici, até chegar à postura liberalizadora do comércio da meio de campo Dilma Rousseff, o Brasil só terá a comemorar quando seu povo se instruir e se politizar.

Tal é o colonialismo que se propaga neste país que, além de os meios de comunicação oligopólicos não enxergarem um palmo do que acontece nos países vizinhos, a apresentação da cantora Ivete Sangalo no Madison Square Garden, em Nova York dia 4 de setembro de 2010, foi divulgada em horário nobre do canal de televisão Globo como se fosse uma façanha nacional, enquanto o esdrúxulo apresentador Luciano Huck se gaba por ter sido fotografado ao lado de Barack Obama, o que lhe rendeu número recorde de cliques no Twitter.

A opção de Obama por Brasil, Chile e El Salvador não é vã, porquanto estes são uns dos poucos países latino-americanos onde o presidente não seria terrivelmente vaiado. A China, ainda, conquistou espaço como principal parceiro comercial de Brasil e Chile, no lugar dos Estados Unidos. O pequeno susto da explosão de uma bomba numa casa cultural dos Estados Unidos na cidade costeira de Viña del Mar, Chile, não prejudicou a visita do mandatário àquele país.

A presença breve de Obama em Brasília, a capital artificial e dispendiosa dos funcionários públicos, e logo Rio de Janeiro e Cidade de Deus descortinou que ministros tupinicas se sentem superiores a qualquer cidadão e se incomodam de serem revistados para se aproximar do astro, enquanto o aparato de segurança mirabolante demonstra o que será preciso investir com os mega-eventos de 2014 e 2016 na cidade que pouco tem de "maravilhosa".

A chefe de Estado tupinica Dilma Rousseff aproveitou a visita de Obama ao Brasil para sugerir a derrubada das barreiras tarifárias estadunidenses sobre nossos produtos, como aço, algodão, carne bovina, etanol e suco de laranja. É oportuna a sugestão aos protecionistas do Norte, mas o antecessor Lula tinha espírito mais combativo frente às impertinências dos Estados Unidos. Dava-lhe menos pudor desafiar as nações mais poderosas. Sem contar que, quanto mais etanol sair do país, mais teremos do que lamentar nos postos de combustível.

Estados Unidos, de ser a superpotência da segunda metade do século XX, termina como um país desesperado e à beira da falência, que emerge da tenebrosa crise financeira de 2008-2009 com a mesma estratégia de chamar os demais países ao seu lado ou bombardeá-los caso não acreditem em suas falácias, cada dia menos convincentes.

No ínterim do passeio recolonizador de Obama pelas terras "latinas", que para o comum dos estadunidenses e alguns tupinicas é tudo a mesma coisa, forças sinistras dos Estados Unidos iniciaram ataques "pacificadores" à Líbia, país da África setentrional, a fim de libertar o povo da opressão de Muamar Kadafi. Por mais sórdidas que sejam as políticas deste ditador, os Estados Unidos autorizaram mais um banho de sangue ilegítimo para a coleção do Tio Sam.

A vantagem de que os Estados Unidos dispõem é que já têm parte da América Latina sob controle, área que inclui México, Costa Rica, Colômbia, Peru e Chile, desde que seus representantes passem longe de Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina, entre outras nações cujo povo é mais lúcido e cujos governos são progressistas.

Ao que tudo indica, Obama tirou alguns dias de descanso na América Latina para esquecer temporariamente o papel ignóbil dos Estados Unidos no mundo, já que, na Cidade de Deus, ele foi recebido com apresentação de funk e maracatu, bem ao ritmo da amnésia tupinica.

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